A
emigração portuguesa tem aumentado de ano para ano, no decorrer do século XXI.
Trata-se, essencialmente, de fluxos migratórios caracterizados pela fuga de mão-de-obra
jovem e qualificada, que “partem com frustração de sentir que o país não lhes
dá nenhuma oportunidade”, afirma José Soeiro.
Segundo
dados do Pordata, o número de emigrantes permanentes têm vindo a aumentar: em
2008, saíram do país 20357 emigrantes permanentes, e em 2014 o número subiu
para 49572. Trata-se de um problema que acarreta imensa inquietação, pois
significa que cada vez mais pessoas que emigram não voltam para o seu país de
origem. A situação ainda se torna mais preocupante quando se verifica estes
valores por grupos etários: as pessoas com idades entre os 20 e os 29 anos são
as que mais emigram, contribuindo deste modo para o envelhecimento da
população.
Levanta-se,
então, uma questão controversa, dado que o estado português aposta enormes
quantias monetárias na educação, oferecendo ferramentas de trabalho à sua
população, porém, na altura dos recém-licenciados entrarem no mercado de
trabalho, não existem condições para tal, uma vez que encontram-se num cenário
trágico, com uma elevada taxa de desemprego (que só não é maior devido a
formações profissionais dos centros de emprego, que servem, no fundo, para
“camuflar” esta taxa). Sendo assim são obrigados a abandonar o país.
Ora,
é certo que há um esforço significativo na formação dos jovens; mas, também, há
um certo desleixo na criação de postos de trabalho para que as pessoas que
usufruíram do privilégio de prosseguir estudos possam depois retribuir ao país
o esforço efetuado na sua formação, contribuindo para a criação da riqueza
interna. Assim, subentende-se que Portugal faz um investimento sem grande
retorno nacional, dado que esse investimento é aproveitado, sobretudo, pelo
resto do mundo.
Constituirá,
então, o elevado número de licenciados um problema, como muitas pessoas têm
vindo a afirmar? A mim não me parece. A meu ver é sempre bom ter uma população
instruída, que tenha ferramentas para progredir na carreira. Precisamos de
pessoas que sintam que podem, de algum modo, contribuir para o desenvolvimento
do seu país.
Há
ainda quem diga que não precisamos de tantos licenciados, para um país tão
pequeno. Há uns anos atrás, eu pensava da mesma maneira. No entanto, hoje tenho
uma visão diferente. O mercado não se restringe ao mercado português. Devemos
procurar alcançar a vantagem competitiva sobre os nossos concorrentes
internacionais. Talvez até cooperar com alguns deles. O que não será, assim,
tão estranho como parece à primeira vista. Na verdade, já há quem o faça. A
Apple e a Samsung são concorrentes diretos e já o fizeram.
Acredito que será muito mais fácil sair da
crise com pessoas motivadas; pessoas que se sintam realizadas; pessoas que
tenham reais e efetivas oportunidades. A solução para sair da presente crise
pode passar por incentivar o investimento nacional e internacional, de modo a
gerar mais postos de trabalho, e isto poderá ser feito não só através de
incentivos fiscais mas, também, com medidas como a redução da burocracia e a
criação de mecanismos que permitam acelerar processos judiciais, construindo,
assim, um alicerce fundamental nas decisões de investimento de longo prazo. Tal
que permite assegurar o cumprimento de contratos. A burocracia e os mecanismos
de processos judiciais são variáveis determinantes, sobretudo para investidores
internacionais que à partida serão mais relutantes a investir em países onde
haja muita burocracia e onde os processos judiciais se prolongam durante anos.
Quem
entra pela primeira vez no mercado de trabalho precisa da ajuda de
trabalhadores experientes, esta que por vezes é recusada devido ao medo de
serem dispensados no futuro. Ensinar bem pode então pôr o posto de trabalho em
causa. Isso permite afirmar que existe muito individualismo que elimina
oportunidades aos mais jovens. Quanto a este problema, cabe às próprias
empresas encontrar soluções que visem o trabalho de equipa e a cooperação entre
os seus colaboradores.
A
medida do alargamento da idade da reforma também pode ter sido um fator
responsável pela saída de vários portugueses para o exterior. Esta medida teve
como objetivo menos pensões e reformas para pagar, contudo tem um efeito profundamente
negativo, uma vez que a mão-de-obra mais velha trabalha mais anos, criando
assim barreiras ao primeiro emprego de jovens que acabam por o procurar fora do
país.
Em
suma, a emigração é um tema complexo que se deve à crise, à burocracia, à pouca
eficácia dos processos judiciais, às medidas insuficientes de apoio a e criação
a novas empresas, e ao individualismo no mercado de trabalho. Combater este
problema ajudará a manter no país aqueles em quem o estado fez um grande
investimento.
Diogo
Meneses
[artigo de opinião
produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do
3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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