Regulação
dos mercados, um tema de cada vez maior relevância, onde as opiniões se dividem
em duas principais fações: a esquerda, onde se pensa que quanto maior o
controle, maior a intervenção das autoridades estatais, melhor será o
funcionamento dos mercados e consequentemente mais equitativo e justo se tornarão;
do lado oposto (direita), a opinião é
precisamente contrária, isto é, maior intervenção do estado significa
destabilização, desregulação e criação de falsos equilíbrios que forçosamente
levarão a uma inadequada alocação dos recursos existentes.
Estes
dois conceitos são retratados no pensamento económico por duas principais
visões. De um lado, a visão clássica, onde a maior figura é Adam Smith,
considerado o precursor (criador) da microeconomia, a qual se desenvolveu com
uma lógica de pensamento ortodoxa. Onde a principal premissa é que os mercados
se autorregulam e se equilibram por eles próprios. Outra visão mais contemporânea,
conhecido pela keynesiana, a qual acredita que a intervenção do estado é
crucial para possibilitar um correto funcionamento dos mercados, que permite
corrigir as falhas e sobretudo torna-os mais justos e adequados. A fim de criar
uma realidade social mais harmoniosa e civilizada, onde a palavra equitativa
ganhe um verdadeiro significado.
Estas
duas visões colidam ferozmente e de forma cada vez mais violenta porque a atual
realidade económica e a instabilidade a ela associada, com níveis de
crescimento anémico, provocado por duas grandes crises económicas, criaram
dificuldades ainda não ultrapassadas. A
crise Subprime de 2007 até 2011
(EUA), e a crise da dívida, que incidiu principalmente na UE, a qual estamos
ainda a viver intensamente, não permitem tirar uma ilação clara e apontar o
caminho em direção à melhor opção. Isto porque se, na primeira, se pode apontar
o dedo ao capitalismo “selvagem”, lógica de mercado (lucro infinito), onde a
matemática é a única razão “real”, que levou a se subestimar o fator incerteza
e achar que está tudo garantido “securitizado”, mutualizado o risco, ou seja,
inexistente.
A
crise Subprime demonstrou que a
mutualização teve o efeito oposto: criou um maior risco sistémico, que levou ao
colapso da economia. Reconhecendo a importância e utilidade da matemática nos
cálculos de risco (probabilidades) e a sua consequente diminuição (existindo
informação antes de realizar o investimento), não se pode ultrapassar a razão e
a capacidade de compreensão do que realmente está a acontecer, ou seja, em que
realmente se está a investir.
A
crise Subprime largamente amplificada
e retratada veio dar razão a estes argumentos e a quem acha a visão keynesiana
a mais correta e adequada. Só que na economia como na vida, nada é simples,
linear e fácil de explicar. Dado que esta crise levou de seguida a outra crise,
crise da dívida, onde os principais países visados foram Europeus (Portugal,
Grécia, Espanha, Itália, França), países com alguma dívida acumulada, em alguns
casos já com níveis consideráveis de endividamento, mas sobretudo, com uma
balança corrente claramente deficitária e sem crescimento económico. Onde a
principal culpa foi atribuída à política Keynesiana, política contracíclica,
onde em altura de crise se acumulam défices para contrabalançar o declínio dos
rendimentos e investimentos do setor privado. Mas com países já fragilizados,
com níveis de endividamento elevados, sem crescimento e sem expetativas de
existir alterações, o financiamento tornou-se cada vez mais difícil até chegar
à ingovernabilidade e às consequências que daí surgiram.
A
política Keynesiana foi apontada como principal culpada pela nova crise e pela
falta de alterações na estrutura de competitividade das economias em dificuldade.
(Medidas estruturais essas que muitas vezes não passam de desregulação das leis
do trabalho e da sua precarização, bem como da diminuição da carga fiscal
incidente nas empresas, o que tem tanto de bom como de mau). Em conclusão, o
debate sobre as visões e escolhas económicas está mais aceso do que nunca. Retirou-se
uma importante ilação dos dois lados da barricada, onde é consensual pela
maioria (dos intervenientes) que os mercados e, em específico, o mercado
financeiro, necessitam de níveis de regulação elevados, no qual os estados têm
um papel crucial a desempenhar.
David Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia
Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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