quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Renegociação da dívida pública – catástrofe ou salvação?

Existe um receio de que a dívida pública portuguesa seja insustentável, o que fez suscitar, em maio deste ano, a hipótese da renegociação da dívida.
Há várias formas de efetuar a renegociação de uma dívida pública, tais como, negociar um corte no valor da dívida a pagar aos investidores, que incluiria também os juros e outros custos relacionados, pedir uma extensão dos prazos sem reduzir o valor a pagar, ou ainda, reduzir a fatia dos juros.
A política governamental seguida em Portugal teve como objetivo a redução da divida pública aplicando políticas de forte austeridade. Aqueles que afirmam que essas políticas foram um erro assumem que a dimensão da dívida atingiu um nível insustentável pelo que a sua renegociação é uma necessidade incontornável, pois já não é nem económica nem financeiramente sustentável dada a ausência de um crescimento duradouro significativo. Aliás, segundo o Banco de Portugal, as projeções para a economia portuguesa apontam para uma desaceleração do PIB, de 1,6% em 2015 para 1,1% em 2016. Assim sendo, seriam necessários saldos orçamentais primários deveras notáveis.
Apesar da Comissão Europeia, FMI e BCE assumirem que a dívida pública é sustentável, estes também assumem um crescimento real da economia em torno de 1,5% a 2%, o que não se tem verificado.
O critério de Maastricht fixa o limite da dívida em 60% do PIB. Para trazer a dívida a esse valor de referência identifico algumas hipóteses:
A primeira hipótese é a diminuição da taxa média de juro do stock da dívida, pois os juros da dívida pública representam cerca de 4,3% do PIB em Portugal, enquanto na zona euro representam apenas 2,1%. No entanto, dado o orçamento de Estado para 2017, percebemos que Portugal não conseguirá baixar a fatia de juros, mantendo-se nos 4,3%.
A segunda hipótese é a extensão do prazo de pagamento, suavizando o pagamento do empréstimo concedido pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional.
A terceira hipótese assenta numa reestruturação da dívida sobre aquela que se encontra acima dos 60%, com base na diversidade da composição e volume das dívidas nacionais. No entanto, a renegociação da dívida implica, à partida, um incumprimento dos termos previamente acordados, o que originaria uma série de consequências.
Uma redução da dívida é um cenário de desespero, e até catastrofista, uma vez que voltaria todos os mercados contra Portugal. O País não conseguiria financiar-se internacionalmente e, caso o fizesse, as taxas de juro seriam absurdamente altas. Portugal deve, então, responsabilizar-se pela sua dívida, consoante o acordado, assegurando sempre o crescimento económico e a defesa do bem-estar da sua população.
Dada a vulnerabilidade dos mercados, este assunto terá de ser dirigido com critérios rigorosos e apertados e um enorme sentido de bom senso, para que Portugal não seja encaminhado a uma situação de emergência que se traduza num aumento de taxas de juro da dívida pública tais que as consequências para a economia sejam desastrosas.
A nós, portugueses, resta-nos continuar a satisfazer as obrigações contratualizadas, esperando a compreensão dos credores e que estes apresentem novas soluções, como por exemplo uma extensão das maturidades da dívida pública. 
Luísa Correia
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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