Na década de 70, o setor de calçado era considerado um setor
que não tinha futuro à vista, um setor que estava em crise e que não tinha
volta a dar. A inovação e a criatividade conseguiram fazer com que se passasse
de um setor tradicional para um setor mais sexy
aos olhos do mercado internacional e, nos dias de hoje, o calçado português
está na moda. É um dos melhores, mais cobiçados e mais caros do mundo. Sim, até
porque o segredo do calçado português não está nos preços baixos.
No ano passado, um par de sapatos vendido para o exterior com
o “Made in Portugal” custou em média
cerca de 24 euros, valor apenas superado pela Itália com 34 euros por par de
sapatos e, segundo a APICCAPS, até 2020, o objetivo para Portugal é ter o
mercado mais caro nesta categoria. Para tal, depois dos ciclos de modernização
tecnológica e da criação de marcas próprias, a indústria preocupa-se agora em
acentuar a sua vocação para o design,
para a produção destinada aos segmentos de luxo, apostar ainda mais na
mão-de-obra qualificada e na relação de confiança com os clientes.
Este setor parece ter estado imune à crise. A indústria do
calçado em Portugal revela uma realidade única na atividade económica
portuguesa. Esta, ao longo dos últimos anos, atravessou um período bastante
diferente ao que foi idenficado pelas restantes indústrias. O crescimento
económico que se tem observado nesta indústria gerou um enorme interesse por esta
área e nas condições que sustentam a mesma.
É de notar que o calçado português chega a 132 países, nos
cinco continentes, sendo que o principal mercado é o europeu. Os principais
destinos são França, Alemanha, Holanda, Espanha e o Reino Unido. Este setor, já
ultrapassou os 100% das exportações, o que significa que exporta mais do que aquilo
que produz, sendo em valor mais de dois mil milhões de dólares, correspondendo
a, aproximadamente, 79 milhões de pares de sapatos.
No nosso país, segundo a APICCAPS, os principais produtores
são Felgueiras, São João da Madeira e Aveiro. O primeiro município é o maior
produtor nacional, dando trabalho a cerca de 13000 pessoas, com um mercado de
150 clientes e uma exportação de 95% da sua produção (em 2012), equivalente a
577 milhões de euros. É ainda importante salientar que este município
apresentava umas das taxas de desemprego mais baixas durante a crise sentida no
território nacional, onde, em 2011, este indicador situava-se nos 10%.
Segundo destaca a APICCAPS, a indústria do calçado representa
um contributo para a balança comercial que ascende os 1,3 mil milhões de euros,
sendo considerado o mais elevado da economia portuguesa. Este valor foi gerado
por 1696 empresas responsáveis por mais de 43000 postos de trabalho. A
indústria portuguesa do calçado criou mais de 340 marcas próprias ao longo da
última década, sendo que no primeiro semestre deste ano foram criadas oito.
No primeiro semestre deste ano as exportações cresceram 1,8%,
para 902,2 milhões de euros, uma situação bastante modesta para um setor que
num período de seis anos reforçou as suas vendas em 50% para o exterior. Porém,
este setor também se ressente da crise sentida nos principais mercados
extracomunitários, como em Angola e na Rússia. De facto, para a União Europeia,
no período em questão, as exportações cresceram cerca de 2,7%, mas, para o
resto do mundo este facto já não se verificou, registando-se uma queda de 4,5%.
Este acontecimento foi consequência das vendas efetuadas para Angola que, em
2015, importara sapatos no valor de 13,3 milhões de euros e este ano não foi
além dos 5,1 milhões de euros. Do mesmo modo, a Rússia, este ano, ficou-se
pelos 8,5 milhões de euros, menos quase dois milhões de euros do que no ano
anterior.
Podemos, de uma forma geral,
concluir que as ações levadas a cabo pela indústria do calçado fizeram com que
esta se tornasse uma das melhores do mundo. Deste modo, as outras indústrias deveriam
executar a mesma forma de agir, de tal maneira que pudessem solucionar este problema - a crise.
Carina Ribeiro
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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