Os Jogos Olímpicos são mundialmente
considerados como o mais importante evento desportivo da atualidade, juntando,
a cada quatro anos, milhares de atletas de todo o globo e arrastando milhões de
espetadores à sua cidade-sede. Considerada a grande dimensão do evento, a
organização dos Jogos vem constituir obra demorada e extremamente dispendiosa.
Não obstante, cada edição conta invariavelmente com uma multiplicidade de
candidaturas de cidades dispostas a investirem em árduos projetos de
habilitação à receção dos Jogos. Entre os retornos da eleição para a
cidade-sede destaca-se a oportunidade de converter a cidade organizadora numa
metrópole conhecida e admirada, estabelecendo um novo posicionamento da cidade
na rede global, recebendo maiores fluxos de pessoas e capitais. Os Jogos
Olímpicos organizados por Barcelona, em 1992 constituem exemplo perfeito do bom
aproveitamento do impulso económico gerado pelo evento, que foi utilizado na
superação da estagnação de que era vítima a cidade nos anos 80, bem como na modernização
de Barcelona, que mais facilmente se tornou uma cidade cosmopolita moderna,
segundo os padrões contemporâneos de desenvolvimento urbano da época. Lamentavelmente,
este exemplo não é regra.
A 2 de Outubro de 2009 é escolhida a
cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016,
uma vitória para o país que já iria receber em 2014 o Campeonato Mundial de
Futebol da FIFA. A receção destes eventos de alta notoriedade internacional era
então idealizada como o expoente perfeito a ser aplicado à então elevada taxa
de crescimento do Brasil.
Eis que, aos poucos, a taxa de crescimento
começa a reduzir-se, o país começa a sentir uma instabilidade política cada vez
mais debilitante e as contas finais do Mundial deixam a desejar, tendo sido
gastos pelo Brasil $12 biliões na criação de condições para a realização desse
mesmo mundial.
Em 2015, a situação brasileira piora. Um
colapso económico torna inegável a insustentabilidade dos grandes investimentos
que o Brasil fizera em âmbito do Mundial e que ainda teria de acabar para a
receção da 31ª edição dos Jogos Olímpicos da era moderna. No total, foram
investidos cerca de $15 biliões, dos quais $7.1 biliões constituíram
investimentos em infraestrutura e $895 milhões em segurança.
Foram removidas, desde 2009, cerca de
77000 pessoas das suas casas, com intuito de libertar terreno para espaços
públicos, como parques e museus, e para a criação de imobiliário de luxo e
infraestruturas desportivas. Os restantes milhão e meio de brasileiros que habitam
as mais de 1000 favelas do Rio de Janeiro não precisou de ser removido, foi
meramente escondido. Foi direcionado o investimento estatal para a alteração da
rede de transportes públicos, com a criação de novas linhas e modernização dos
meios de transporte a ser levada a cabo ao mesmo tempo em que foram
dificultados, senão praticamente impossibilitados, os acessos às zonas norte e
oeste do Rio de Janeiro, as zonas mais pobres da cidade. Foram extintas 11
rotas de autocarro que faziam ligação entre a zona norte e a zona sul, a zona
rica onde foram realizados os Jogos, orientada para o turismo. A estrada
que liga o aeroporto do Galeão à zona sul, passando pelo Bairro da Maré, contou
com a instalação de uma barreira visual que impede a visualização das favelas
do Bairro, com a exceção de uma extensão da barreira que é transparente e
permite a apreciação de uma nova escola pública inaugurada poucos meses antes
do começo dos Jogos.
Não
há dúvida de que haverá retornos positivos dos investimentos feitos pelo
governo brasileiro para os Jogos Olímpicos, entre eles o rejuvenescimento
urbano, a melhoria da rede de transporte público e a criação de novos espaços
públicos. Não há dúvida de que destes retornos não beneficiarão aqueles que
foram empurrados para trás de muros, escondidos da vista do público, que não
vivem em condomínios de luxo com saída para as praias de Ipanema e Copacabana,
mas que representam uma realidade do Rio tão viva como esses quilómetros de
areia branca.
João Pedro Martins Freitas
Fonte:
[artigo de opinião produzido no âmbito
da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de
Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário