Emergiu uma nova economia baseada em torno da partilha e
colaboração, a chamada “economia da partilha”, que resulta do facto de estarmos
cada vez mais ligados.
Talvez
pelas dificuldades, ou pela procura de maior sustentabilidade, há um conjunto
de atividades e de bens que passaram, ou voltaram a ser partilhados. Partilhar
é inerente à natureza humana e ao longo da nossa existência conheceu diferentes
formatos. Se antes recorríamos ao crédito
para ter acesso a determinado tipo de bens, para os quais não tínhamos
disponibilidade financeira imediata, hoje, principalmente as novas gerações,
recorrem à partilha de bens e serviços. Trocámos o crédito pela partilha de
custos.
Este fenómeno é muito mais do que a UBER,
a Airbnb, o Spotify ou a Netflix. São vários os benefícios
económicos que estas empresas proporcionam. Além de promoverem a inovação e o
empreendedorismo, estas plataformas possibilitam rendibilização de ativos não
utilizados, contribuindo para uma melhor utilização de recursos e aperfeiçoamento
da eficiência económica. Adicionalmente, estas empresas criam novos serviços
que vão ao encontro da necessidade e gosto dos consumidores.
Contudo,
o crescimento e expansão da economia colaborativa provocou alterações
significativas nos mercados, principalmente em setores muito regulados, como o
alojamento e o transporte de passageiros. Francisco Veloso,
investigador na área do desenvolvimento económico, afirmou: “Proibir a UBER é
como parar o vento com as mãos”. Pode não ser literalmente assim, mas esta é
uma nova realidade que não podemos ignorar e cujo debate é inevitável.
A UBER é o caso mais extremo deste
fenómeno porque interfere com uma atividade concorrente em vigor, com muita
tradição e que divide a opinião pública. Esta plataforma de transporte privado foi proibida, em 2015, de
prestar serviços em Portugal, por infringir as regras de acesso, concorrência e
exercício da atividade. Recorrendo da decisão do tribunal, em 2016, obteve a
sua anulação.
É óbvio que a disparidade face às
exigências feitas ao seu concorrente direto, o táxi convencional, parece
provocar alguma injustiça. Há condições que poderão e, saliento, devem ser também
ser exigidas, como por exemplo um seguro de acidentes pessoais e um mínimo de
formação para os seus promotores e colaboradores.
A
cara da economia da partilha em Portugal é a Uniplaces, que arrenda
apartamentos, ou a “RAIZE”, a primeira plataforma de empréstimos coletivos
onde pessoas podem emprestar dinheiro a empresas, construindo uma alternativa
de financiamento para a economia, onde uma empresa é financiada por várias
pessoas e cada pessoa financia várias empresas.
A base fundamental do capitalismo tem sido
possuir e acumular a maior quantidade possível de bens. Tradicionalmente, uma
venda representa a saída de um produto e a obtenção de propriedade por parte do
comprador. A estratégia central da economia compartilhada é vender o mesmo
produto por diversas vezes, sem que o comprador obtenha a propriedade do bem
usufruído.
Permite-nos o acesso a bens e serviços a custos mais
acessíveis, sem necessidade de grandes investimentos. Será que estamos mais
pobres? Acho que estamos mais sensatos e focados na sustentabilidade. Mudou-se a mentalidade do capitalismo mundial ao
primar pela partilha em detrimento da propriedade.
Pelo exposto, posso afirmar que a economia da partilha
tem, na minha opinião, vantagens para todos e, mais do que enfiar a cabeça na
areia ou criar preconceito, é urgente fazer evoluir a mentalidade e legislação comunitária.
Torna-se imperativo flexibilizar o
processo de revisão das leis de forma que não sejam criadas barreiras à entrada
de novos negócios no mercado. Só assim será possível promover a inovação, a
evolução tecnológica e, naturalmente, a competitividade económica.
Daniela
Patrícia Pires da Costa Marcelo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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