quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Grande demais para cair

O Deutsche Bank é uma das instituições financeiras mais relevantes no contexto da Economia Internacional. Este é o quarto maior banco do Mundo, o maior da Europa, e em Dezembro de 2015 empregava mais de 100000 trabalhadores em 73 países diferentes.
Apesar da sua grande dimensão, desde o início do ano que os investidores têm vindo a perder confiança no gigante Alemão, levando a uma descida da cotação em bolsa de quase 50% ao longo do ano de 2016. Esta falta de confiança foi exacerbada pela notícia de que os E.U.A pretendem aplicar uma multa de 14 mil milhões de dólares, referentes a más práticas por parte do Deutsche Bank associadas a instrumentos financeiros baseados em hipotecas imobiliárias. Este tipo de instrumentos esteve na base da crise bolsista de 2008, crise essa que deixou marcas não só na economia dos E.U.A. mas também no Resto do Mundo.
Assim, é natural que se comece a ponderar na necessidade de um resgate para o 4º maior banco do mundo. Segundo o CEO do mesmo, John Cryan, o banco não tenciona pagar uma multa tão elevada à justiça norte-americana, nunca pediu ajuda ao governo Alemão, e nem o tenciona fazer, sendo que a 30 de Junho de 2016 o gigante Alemão apresentava reservas financeiras de 223 mil milhões de euros. Apesar de esta ajuda não ter sido pedida, Andreas Dombret, o responsável pela área de supervisão do Banco Central Alemão, comparou o Deutsche Bank aos dinossauros, dizendo que o tamanho não os salvou da extinção, e que os bancos têm de fazer modelos de negócios que evitem os resgastes públicos, nem que para isso tenham de reduzir o seu tamanho. Assim sendo, os responsáveis do Banco Alemão estão neste momento a negociar a multa com a justiça dos E.U.A., sendo que alguns analistas preveem que esta não passe dos 5 mil milhões de euros.
Para além de estarmos a falar da falência do 4º maior banco do mundo, podemos também estar a falar da falência do sistema bancário europeu e mundial. Se o Deutsche Bank falir, é natural que o sistema caia com ele, visto que este gigante detém títulos no valor de 1,8 biliões de euros, mais de metade do valor do PIB Alemão. O impacto da falência deste banco faria com que grande parte da banca europeia e bastantes empresas multinacionais vissem as suas ações baixar abruptamente de preço, criando instabilidade nos mercados e podendo gerar uma crise à escala global.
Apesar do Banco Central Alemão ter tomado uma posição de receio contra o resgate, o governo ainda não se pronunciou, e a Chanceler Angela Merkel está numa posição complicada. Por um lado, a Chanceler têm de manter a posição que defendeu quando bancos Portugueses e Italianos necessitaram de um resgate, que foi de resolução não estatal. Por outro lado, o governo Alemão não pode correr o risco de deixar cair uma instituição financeira que possa arruinar por completo os mercados bolsistas Europeus. Este dilema fica ainda mais complicado pois Angela Merkel prometeu aos contribuintes que não faria um resgate público e, sendo que as eleições Alemãs são no próximo ano, a Chanceler não se pode dar ao luxo de perder eleitores para o movimento de extremismo político que se tem adensado nos últimos anos na Europa.
Em Portugal, está prevista a redução da posição do Deutsche Bank, através do encerramento de 15 das 50 sucursais portuguesas e do despedimento de 10% dos trabalhadores. Além destes despedimentos, o Deutsche Bank também vendeu alguns ativos indexados a obrigações da PT International Finance, que registaram perdas de 82 milhões de euros para os investidores. Estes afirmam que os títulos foram anunciados como sendo seguros e que ponderam levar o banco a tribunal, num caso semelhante ao do papel comercial do BES.
Concluindo: a instabilidade em torno do Deutsche Bank já está a provocar maleitas na economia europeia e portuguesa. No entanto, se o risco de falência não for atenuado rapidamente, as consequências para a economia mundial serão irreversíveis, e podemos estar à beira de uma crise bolsista tão grande como a de 2008.

Nuno Filipe Santos

Fontes:

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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