segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Consumo aliado às promoções

Os descontos instalaram-se nos hábitos de compra dos portugueses e os estudos de mercado mais recentes salientam a crescente dependência dos consumidores das promoções. Segundo os dados da Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, os consumidores estão cada vez mais dedicados ao aproveitamento das promoções. De facto, só nos primeiros seis meses deste ano 99,8% dos portugueses já levaram para casa, pelo menos, um artigo em promoção, além disso, sete em cada dez compras incluem, pelo menos, um produto com desconto (em 2014, o valor era de cinco em cada dez compras).
Nos primeiros nove meses deste ano, a redução de preços oferecida pelos híper e supermercados foi a mais elevada desde 2014, e passou de um desconto médio de 28% para 32%. A partir de um estudo baseado no comportamento de 4000 agregados familiares, verificou-se que em 41 cestas de compras ou carrinhos com compras que os portugueses levaram para casa três foram “grátis”, tendo em conta o dinheiro poupado em promoções.
Os artigos que apresentam maior desconto são os iogurtes, sendo que a probabilidade de entrarem na cesta ou carrinho “grátis” é de 65%. Seguem-se os artigos de perfumaria e higiene, as bolachas, a cerveja, as conservas de peixe e o azeite.
Com as promoções cada vez mais permanentes e de fácil acesso, os consumidores já não precisam de andar à procura dos melhores preços de loja em loja como acontecia em meados de 2012. Num contexto de crise, houve uma gestão de curto prazo, o que significa que os consumidores iam mais vezes às lojas e compravam menos de cada vez. Agora, a frequência de compra é menor, tal como o volume de produtos adquiridos. Apesar do dinheiro gasto em compras ter aumentado 2,9 pp., quando comparado com o mesmo período do ano anterior, este valor não inclui as promoções e não é, portanto, um valor real.
Os portugueses recorrem no seu dia-a-dia a seis principais operadores, que juntos valem 75% do mercado. Três deles (Continente, Pingo Doce e Lidl) absorvem mais de 54% das compras, sendo que o Continente e o Pingo Doce têm praticamente as mesmas ocasiões de compra, localizam-se perto um do outro e praticam preços semelhantes.
Entre janeiro e setembro deste ano o desconto médio dos produtos de marca foi de 34%, enquanto que o desconto médio dos produtos que ostentam a marca do supermercado foi de 19%. Feitas as contas, quase 63% dos bens de grande consumo comprados pelos portugueses são de marca, porém, a presença destes produtos na despensa dos portugueses não significa que estes produtos estejam em crescimento, na verdade, 46% das marcas que apenas ganham compradores através de promoções não se expandem, ou seja, não atraem novos clientes nem compras adicionais. Por outro lado, apenas cinco em cada cem marcas conseguem expandir a sua carteira de clientes fora das promoções. Outro aspeto relevante é que, graças às promoções, os portugueses têm regressado ao consumo de bens preferidos, ou seja, compram os produtos que mais gostam porque estão mais baratos.
Os responsáveis por este estudo garantem que o peso dos descontos nos gastos totais vai continuar a crescer, mas não acreditam que se chegue ao nível do Reino Unido, onde 80% das vendas são feitas em promoção.
Para além das variadíssimas promoções, as principais cadeias de grande distribuição têm diversificado serviços e passaram a ter também cafetarias e restaurantes. Apesar desta mudança ainda não ser muito visível, já se verifica uma nova tendência: 6% dos gastos em snacks, chocolates, bolos ou refrigerantes para consumir na rua já são feitos na distribuição moderna. Um exemplo disto é que há cada vez mais jovens que em vez de irem ao café comprar um gelado preferem deslocar-se a um supermercado e comprarem uma caixa que dividem depois entre si.
A pulverização de lojas de proximidade ajuda a explicar este fenómeno. De facto, os cafés, pastelarias e restaurantes dentro das lojas já são uma alternativa à restauração tradicional. Cerca de 40% dos portugueses afirmam já ter feito algum tipo de compra para consumir fora de casa, e são os mais jovens quem está a aderir mais a esta oferta: compram comida para consumir no local de trabalho, na própria loja ou na rua.
Em suma, aquilo que é espectável é que a grande distribuição continue a “roubar” clientes aos cafés, pastelarias e restaurantes.

Cristiana Filipa Pereira Novo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho

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