A Saúde tem sido alvo de várias notícias
preocupantes acerca da degradação dos seus serviços e da dificuldade que os
doentes têm tido para aceder a certo tipo de cuidados. Ouvimos recorrentemente
falar nas longas listas de espera tanto para consultas como para cirurgias, em
hospitais com aparelhos avariados e sem capacidades para os mandar reparar ou substituir, e em urgências em
rutura com centenas de doentes e várias mortes confirmadas em diversos
hospitais enquanto esperavam para serem atendidos.
Tudo
isto tem resultado numa redução da qualidade dos serviços de Saúde, emigração e
desmotivação dos profissionais e uma tendência de “empurrar” os doentes para o
privado, como forma de reduzir a despesa pública a qualquer preço. E porque
chegámos a este estado?
Entre
as principais causas, certamente diversas, surge a redução do financiamento do
SNS (Serviço Nacional de Saúde). De acordo com uma publicação da OCDE (Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Económico)
“Panorama da saúde em 2013 – Indicadores da OCDE”, em 2011 a despesa total por
habitante com a Saúde em dólares era de 2.619 em Portugal, enquanto a média nos
países da OCDE atingia os 3.312 dólares, sendo a despesa pública per capita no
nosso país de 1.703 dólares, representando apenas 65% da despesa total de Saúde
por habitante, quando a média nos países da OCDE era de 72,7%. Isto significa
que o esforço das famílias para pagar do seu bolso os cuidados de Saúde é muito
superior em Portugal do que é em média nos países da OCDE. Este facto leva-nos
a um outro problema: por terem que fazer um esforço tão grande para aceder aos
cuidados de saúde, os doentes recorrem com mais frequência às urgências
hospitalares.
Mais de 70 em cada 100 portugueses foram admitidos
entre 2001 e 2011 numa urgência hospitalar fazendo de Portugal o país da OCDE
com mais atendimentos nos serviços de urgência per capita. Acima da média da OCDE – de 31
atendimentos por 100 habitantes – estão Portugal (70), Espanha (57), Chile
(57), Canadá (48), Grécia (45) e Estados Unidos (44). Em 2015 foram registadas cerca de sete milhões de idas às
urgências, num país que conta com 10 milhões de habitantes.
Em declarações à Lusa, José Roriz (especialista de Medicina
Interna da equipa dedicada ao Serviço de Urgência do Hospital de Braga) admitiu
que as Urgências dos hospitais portugueses estão "sobrelotadas", têm
uma "afluência desmedida" que podia ser resolvida com a implementação
de hospitais de dia para seguir doentes crónicos.
Assim é, seja pelo facto de haver muitos doentes
crónicos a recorrer às urgências, porque Portugal tem uma população muito
envelhecida e os idosos são mais propensos a ter problemas relacionados com as
suas doenças crónicas, seja porque há uma “cultura” de ir à urgência mesmo
quando o problema é grave, seja por falta de hábito de recorrer aos cuidados de
saúde primários ou ao médico de família.
Seja qual for o problema, a verdade é que é
necessário e urgente encontrar uma solução e tomar medidas, porque afinal de
contas a saúde é o bem mais precioso que temos.
Rita Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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