Todo o homem terá como
maior medo o seu fim. O receio de terminar uma vida sem condições dignas
assombra qualquer um. Para dar luz a essa sombra, recorre-se a múltiplas filas
de espera, inúmeras prescrições de medicamentos para doenças sem fim e um
sorteio azarado de médicos.
A exigência de uma
melhor qualidade de vida incutiu nas pessoas o sentido de preocupação com o seu
estado de saúde. Hipocondríacos àparte, os nossos medos não terminam. Todos
queremos ser bem tratados. Isso requer a atenção e carinho dos profissionais de
saúde, bem como ter os melhores equipamentos à disposição para sermos tratados,
condições de acessibilidade e acesso a hospitais de qualidade.
É, pois, doloroso ter
em conta o sofrimento de muitos idosos em filas de espera, doentes crónicos sem
o medicamento fulcral para a sua sobrevivência ou sem uma equipa especializada.
Equipas essas que estarão certamente nos Hospitais Privados. Contudo, como
tratar de trazer essas mesmas equipas para o público? De que forma fazer com
que todos tenham acesso ao que de facto merecem?
Deste modo, é inequívoco
que nem todos podem usufruir desse serviço privado. Mas porque razão será esse
serviço tão caro se o fim de quem trabalha nesse ramo não é o lucro? A verdade
é que muitos dos hospitais privados não têm uma procura que esgote a sua
capacidade de resposta. Isto talvez se justifique pela maior eficiência destes de
resposta comparativamente aos hospitais públicos. Porventura, estamos já na altura
de melhorar este racionamento de utentes. Há, assim, uma desigualdade injusta
neste acesso a melhores condições de tratamento.
É inegável que a ADSE é
um sistema bastante injusto. Uma forma justiceira de resolver esta questão poderia
passar pelo alargamento do benefício das condições que a ADSE proporciona à
população geral. Sabendo nós que tal seria insuportável do ponto de vista das
contas públicas, perde-se a esperança num Sistema de Saúde perfeito.
O caso do Hospital
Senhor do Bonfim, na Póvoa de Varzim/Vila do Conde, choca qualquer utente pois
foram investidos cerca de 100 milhões de Euros, sem recurso a financiamento
bancário ou de outro fundo qualquer (talvez seja essa o motivo da não ajuda do
Estado Português), e este não serve boa parte da população destas 2 cidades nem
de outras cidades vizinhas. É um caso de dinheiro desaproveitado, enquanto
muitos doentes sofrem à espera de uma cama ou de um tratamento adequado num
outro local sem as mesmas luxuosas condições que este hospital oferece. Todos os
estes fatores revelam um Estado antiquado, sem capacidade de inovar ou ter
atrevimento para dar algo melhor aos seus cidadãos e contribuintes. Há um claro
subaproveitamento dos hospitais privados existentes em Portugal, sendo
necessário tocar na ferida e ter em conta os acordos existentes nas Parcerias
Público-Privadas, que decorrem sempre de “lobbies” e outros interesses que não
os da sustentabilidade das finanças públicas a longo prazo.
A verdade é que a
condição económica e financeira do nosso país não ajuda a tratar estas
situações e outras semelhantes. O asfixiamento provocado pela necessidade de
agradar aos nossos superior europeus entope os nossos hospitais públicos,
enquanto autoestradas outrora financiadas por fundos europeus ficam vazias e, por
vezes, percorridas por ambulâncias que substituem Maternidades desaparecidas
do nosso mapa de estabelecimentos de saúde, nos quais vamos lentamente
morrendo.
Em suma, pede-se uma
reformulação do nosso Sistema de Saúde, um sistema que possa ser bem mais justo
e disponível a toda a população, ao mesmo tempo que se disfarçavam os problemas
das finanças públicas, sendo possível seguir outras ideologias e métodos já
implementados noutros países.
Jorge
Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia
Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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