quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Austeridade

“Estamos no bom caminho!”. Este tem sido o slogan preferido de todos os governos que passaram pelo nosso país nos últimos anos. Tem piada, não tem? O “bom caminho” levou-nos direitinhos ao precipício, com uma elevadíssima divida externa, uma das maiores taxas de desemprego da União Europeia e uma das mais altas taxas de disparidade entre os muito ricos e os muito pobres
Não é preciso ser-se muito inteligente para perceber que as políticas dos últimos anos conduziram Portugal a uma concentração da riqueza, à liquidação da actividade produtiva nacional e que apostaram num crescente predomínio do capital no estrangeiro. E qual é o resultado final? Estamos a atravessar a mais intensa política de austeridade desde o 25 de Abril (apenas ultrapassados pela Grécia), com uma persistente redução da despesa pública em áreas como a saúde e educação, cortes nos abonos de família, uma perda colossal no poder de compra e um contínuo processo de fragilização do Estado social. Mas vale tudo para reduzir o peso do défice e da dívida no PIB, não é?
            O governo não se cansa de repetir a mesma cassete: equilibrar as contas públicas a todo o custo, necessidade de credibilidade internacional, financiamento da economia portuguesa…e, extraordinariamente, as consequências da austeridade não aparecem mencionadas.
            A verdade é que o governo aposta num sistema de cortes (cortes no investimento, cortes nos salários…) para corrigir os desequilíbrios que temos com o exterior e, claro, toda esta recessão vai pressionar as contas públicas e garante uma única coisa apenas, mais cortes. As constantes falências e a quebra de rendimentos vão aumentar as dificuldades em assistir a dívida (tanto a pública como privada) o que prejudica o financiamento de toda a economia e, finalmente, o cumprimento dos pagamentos. E claro que não podemos deixar de mencionar os especuladores, que não vão hesitar em ampliar a situação. E entramos, finalmente, num ciclo vicioso. Existem sempre aqueles que vão argumentar com a demagogia do costume: a economia, às vezes, não se comporta como é esperado e podemos ser todos vítimas de surpresas, e esquecem-se de (ou não lhes interessa) toda a evidência histórica disponível sobre os efeitos da austeridade.
Num país que cada vez trata mais o trabalho como um custo a conter e não como uma fonte de rendimento, devia repensar as suas prioridades económicas. É necessário, em primeiro lugar, criar uma economia que gere empregos e uma distribuição menos desigual dos rendimentos e da riqueza. Não acredito que a solução passe pela austeridade. Atingimos um ponto em que esta é tão intensa que se está a tornar contraprodutiva. Segundo o economista Paul de Grauwe, que esteve recentemente em Portugal, “o governo português fez o grande erro de tentar ser o melhor da turma no concurso de beleza da austeridade. O problema hoje não está do lado da oferta da economia e as reformas estruturais lidam com isso. Claro que temos de ser mais eficientes, mas o problema é que mandamos abaixo a procura e em resultado a economia não cresce. Temos de alterar isso.”. E eu não podia concordar mais com a sua opinião de que o problema de Portugal está exactamente no lado da procura e neste momento um novo programa de austeridade vai empurrar Portugal para uma situação de insustentabilidade e insolvência económica.

Ana Sofia Sampaio de Moura

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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