domingo, 3 de novembro de 2013

Educação: um corte no presente com reflexo no futuro

No final dos anos oitenta, verificou-se o desenvolvimento do Estado Social, que se caracterizou, entre outras coisas, pela universalização no acesso à educação e pelo aumento da despesa pública. Contudo, nos últimos anos, e perante a crise que o país atravessa, tem-se verificado uma diminuição da despesa em educação. A proposta de orçamento de Estado (OE) para 2014 e a sua discussão trouxe novamente à actualidade a questão dos cortes na educação, mostrando que no próximo ano as verbas destinadas a esta área podem continuar a decrescer. Mas será este o caminho?
No início dos anos 80, o nível de educação da população activa era muito baixo, sendo necessário esperar mais de uma década para se alterar a estrutura das qualificações. O país apostou no reforço da rede de ensino gratuito, que coincidiu com o alargamento do número de anos obrigatórios de escolaridade. Assim, em 1986, o ensino obrigatório foi alargado até aos 15 anos e em 2007 até aos 18. Segundo dados da PORDATA, a despesa do Estado em educação aumentou continuamente entre 1979 e 2002, passando de cerca de 2,8% para 5,1% do PIB, respectivamente.
Na década de 2000, altura em que a economia portuguesa estagna e surge a crise financeira internacional (2007), verifica-se um recuo nos gastos destinados a esta área. Apenas em 2009 se verificou um aumento da despesa em educação, mas logo de seguida esta despesa retoma a trajectória decrescente, situando-se em 2012 nos 4% do PIB. Os dados do Eurostat mostram que Portugal foi o país que registou uma maior queda na taxa de abandono escolar nos últimos anos, embora ainda se mantenha entre os três piores países da Europa. É certo que Portugal conseguiu aumentar o nível de escolaridade mas ainda assim, este, continua muito abaixo da média dos países da OCDE.
Apesar dos dados mostrarem que o esforço feito teve resultados positivos mas não o suficiente para anular o atraso apresentado, em altura de crise os governantes apostam nos cortes numa das áreas mais determinantes para o país. Os baixos níveis de escolaridade são dos problemas mais graves que Portugal apresenta, tendo impacto negativo nas taxas de crescimento económico.
Nos dias de hoje, na sociedade do conhecimento, a educação alcançou ainda mais um lugar central, quer pela globalização, quer pelo desenvolvimento tecnológico. Com a globalização, a educação assume-se como o maior recurso de que um país dispõe para enfrentar a abertura, sendo necessário que os trabalhadores, empresários e gestores tenham um elevado nível de escolaridade, capaz de os fazer responder de forma eficaz às necessidades. Em relação ao desenvolvimento tecnológico, a constante inovação exige o contínuo conhecimento e formação de maneira a acompanhar as mudanças. Hoje, o mercado de trabalho tem uma exigência muito superior, procurando pessoas com altos níveis de escolaridade, ágeis, polivalentes e com uma visão abrangente. Quem não possuir estes atributos terá dificuldade em se integrar ou irá ser integrado com salários mais baixos. Porque também nos salários a educação é um factor determinante.
Como afirma Arthur Lewis, “Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido”. Na minha opinião é desta forma que os nossos governantes devem olhar para esta questão, vendo-a como um processo decisivo para o desenvolvimento económico. Este contínuo desinvestimento terá graves consequências no presente e comprometerá o futuro do país. Os cortes vão aumentar o número de alunos por turma, diminuindo a qualidade de ensino, aumentar as taxas de insucesso escolar, agravar as condições de trabalho dos professores, bem como aumentar o desemprego, que já é elevado nesta área. Do lado dos alunos, as dificuldades das famílias e os cortes nos apoios sociais podem contribuir para um aumento do abandono escolar depois de terminar o ensino obrigatório. Aliás, já este ano se verificou uma diminuição do número de candidatos ao ensino superior.
A crise está a afectar a educação em Portugal. Mas não nos devemos esquecer que as pessoas são o activo mais valioso de um país e cortar na educação é cortar no investimento humano. O elevado nível de escolaridade é fundamental para que as economias alcancem o crescimento económico sustentável e, por isso, diminuir a despesa em educação não deveria ser opção. Porque saber é poder! 
                                                                                          
Regina Gonçalves 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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