Em todos os modelos económicos que estudei durante esta licenciatura assumimos sempre que os agentes económicos são “racionais”, talvez numa tentativa de simplificar os modelos e de os tornar mais simples e mais resolúveis. Mas esta excessiva simplificação pode levar a que os resultados não retratem minimamente a realidade e que, portanto, não tenham utilidade prática, isto se os pressupostos que assumimos nos modelos estiverem errados. Neste texto, vou analisar a hipótese da racionalidade dos agentes económicos.
Em primeiro lugar, convém dar uma definição do que é ser-se “racional” em sentido económico: «significa que temos uma capacidade infinita de pensar; pensamos no futuro, consideramos todas as opções e depois tomamos sempre, sempre as decisões certas.» Será que as pessoas têm comportamentos racionais? Como em muitos outros tópicos em Economia, esta pergunta não gera consenso. O autor que eu cito neste texto defende que não e argumenta «as pessoas não têm uma capacidade infinita para pensar. Não pensamos no futuro de todas as formas racionais possíveis». Efetivamente, eu acho que todos concordamos que as pessoas não são perfeitamente racionais como supomos nos modelos económicos. É impossível examinar uma infinidade de hipóteses e escolher a que é a melhor para nós. Todas as pessoas são humanas e por isso têm limitações. Agora, o ponto de discórdia é saber quão longe é que estamos desses agentes económicos perfeitamente racionais. Para isso, vou analisar algumas decisões com que nos enfrentamos no dia-a-dia.
Um dos problemas é que os consumidores dão demasiada importância ao presente, à satisfação no momento, em detrimento do futuro. Nós vemos isso quando as pessoas dizem que “vão fazer dieta a partir de amanhã”, “vão começar a ir ao ginásio amanhã”, “vão deixar os trabalhos que têm para fazer para outro dia”. Isto não é mais do que passar as obrigações do presente para o futuro ou, posto de outra forma, damos mais valor à utilidade no presente do que à utilidade no futuro. O mesmo acontece com as decisões económicas: a poupança é pequena porque os consumidores preferem comprar hoje em vez de comprar amanhã (mesmo com juros); nas lojas, se virmos alguma coisa que gostemos, temos sempre tendência para comprar no momento se tivermos dinheiro em vez de comprar no futuro, porque a satisfação no presente tem mais valor no momento da decisão.
Outro argumento forte que sustenta a irracionalidade dos agentes económicos é a fraqueza humana. Como já disse, os seres humanos não são perfeitos, erram, têm defeitos e vícios que não controlam e, por vezes, isso prevalece no seu comportamento. Um bom exemplo é fumar, que vicia os consumidores e manipula o seu consumo ao causar dependência. Outro exemplo são os impulsos irracionais consumistas que todos temos quando vamos a um centro comercial, ou por causa da decoração, ou da música, ou das cores. Sem darmos por isso, somos apanhados num ambiente tal em que perdemos o controlo dos nossos sentidos e damos por nós a comprar objetos sem pensar, sem qualquer tipo de racionalidade.
Estes dois argumentos serviram para fundamentar a teoria do autor Dan Ariely, que defende que as pessoas não têm comportamentos racionais. Assumindo a outra perspectiva, se considerarmos que os agentes económicos são racionais, então a única preocupação do regulador deve ser a informação, porque se um consumidor estiver bem informado então ele vai tomar a melhor decisão possível. A principal diferença entre estas duas perspectivas é exatamente esta: será que os agentes económicos, estando bem informados, tomam as melhores decisões para eles?
Eu acho que não, que os consumidores não defendem bem os seus interesses e que portanto necessitam de uma entidade superior (o Estado) que regule o seu comportamento, e isso já acontece atualmente com a proibição de fumar em espaços fechados, porque se não existisse essa lei os fumadores prejudicariam a saúde dos demais. Outro exemplo prende-se com o facto da limitação da velocidade nas estradas. Efetivamente, se não houvesse controlo por parte das autoridades, os condutores não moderariam a sua velocidade, o que poderia dar aso a situações de elevado grau de risco para os mesmos. O Estado deve assumir uma atitude paternalista para regular o comportamento dos cidadãos, de modo a defender os seus próprios interesses.
Rui Vasco Rodrigues Ramos |
Fonte: http://www.publico.pt/economia/noticia/as-pessoas-comportamse-de-uma-forma-irracional-na-economia-1612878
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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