A evolução da população tem sido
objeto de estudo dos demográficos nos últimos anos, contribuindo para uma
informação mais completa das ciências sociais. Vale portanto a pena fazer um
rápido resumo de alguns dos problemas levantados recentemente pelos
especialistas.
A nível mundial, a questão pertinente é o crescimento
populacional. Em 2012, a população residente em
Portugal foi estimada em 10 487 289 pessoas, de que resultou uma taxa de
crescimento efetivo de valor negativo (-0,52%), ou seja, uma perda de cerca de
55 mil pessoas relativamente a 2011. Para esta evolução concorreram valores
negativos quer da taxa de crescimento natural (-0,17%) quer da taxa de
crescimento migratório (-0,36%).
Uma
das principais questões Portuguesas é a do envelhecimento da população.
Portugal, que durante muito tempo contou com uma população mais jovem do que a
dos outros países europeus, conhece hoje essa preocupação.
A
queda da mortalidade, nomeadamente da mortalidade infantil, deveu-se aos
progressos da medicina e, de uma maneira geral, à melhoria das condições de
vida das populações, aumentando a esperança de vida à nascença e portanto a
duração média de vida. Em 1900, verificava-se uma percentagem de jovens com
menos de 15 anos de 34% e a dos idosos com mais de 65 anos de 6% da população
total. A tendência dos anos seguintes foi de reversão dessas proporções. Assim,
os últimos dados do INE apontam para uma proporção de jovens de 14,8% e uma proporção de idosos de 19,4%, em 2012. Importa ainda
referir que a proporção de pessoas em idade ativa (população dos 15 aos 64 anos
de idade) foi de 65,8%.
Por
outro lado, o declínio da fecundidade parece estar fortemente associado à
profissionalização da mulher.
Quanto
ao saldo migratório, sendo este negativo, deve-se essencialmente aos jovens que
recentemente se formaram no nosso País e que saem em busca de um futuro melhor.
Levam consigo a possibilidade de terem filhos e o capital intelectual que foram
adquirindo ao longo de vários anos de estudo comparticipado pelo Estado
Português.
A
avaliação da situação demográfica atual agregada na sua relação com a situação
económica do país não é fácil. Primeiro será necessário um estudo profundo da
literatura de forma a ser possível uma análise determinista da situação
presente e futura do País.
No
debate sobre as consequências do crescimento demográfico, podemos distinguir
rapidamente duas opiniões extremas: uma afirmando que um excesso de população
leva o mundo a caminhar para o desastre; outra sustentando que esse crescimento
não constitui obstáculo ao desenvolvimento, sendo antes um fator de dinamismo e
de esperança no futuro.
Pessoalmente
penso que não será linear a correlação entre crescimento e enriquecimento de uma
economia. Em países mais pobres o crescimento populacional levará a uma maior
carência de ajuda, com fator agravante da falta de informação. Já nos países
industrializados maior população poderá implicar maior desenvolvimento pela
necessidade da manutenção da população e também pelas maiores capacidades que a
população terá.
O
que se verifica em particular em Portugal é uma diminuição da fecundidade,
conduzindo a um contínuo envelhecimento da população. As consequências de uma
população quase estacionária são enganadoras: se a curto prazo parece
satisfazer um objetivo vantajoso (menos bocas a alimentar, mais poupança); a
longo prazo favorecem o rápido envelhecimento da estrutura da população, com as
consequentes perdas de dinamismo. E o que os governantes têm feito ultimamente
é pensar apenas no curto prazo, ou devo arriscar dizer, no período de
governação.
O aumento das despesas sociais para financiar as pensões de
velhice tem originado um mal-estar social e conduzido, inclusivamente, a um
conflito de gerações de consequências gravosas para a sociedade.
Vejamos
que medidas foram tomadas em Portugal para permitir a sustentabilidade do fundo
de pensões? Para colmatar o
défice, verifica-se o aumento dos impostos, procedendo a maiores descontos
sobre patrões e empregados, e ainda à redução dos direitos dos aposentados. O
aumento do limite de idade da reforma, obrigando os ativos a contribuir durante
um período mais longo, onerando assim durante menos tempo o sistema de reformas
é, ao fim e ao cabo, uma maneira de reduzir direitos adquiridos. Não será isto
uma nova forma de escravatura? Durante quanto tempo será isto sustentável? Como
se não bastasse essa situação aterrorizadora, temos a agravante do desemprego.
Desta forma, menos pessoas a contribuir para o sistema fiscal.
Não vejo no entanto medidas que prendam
o capital humano qualificado ao nosso país. Se é claro que o intelecto humano é
a chave para a evolução e criação de riqueza de um país, a mim parece-me que
nada tem sido feito nesse sentido. Apenas nos tem sido dito: “emigrem”!
Se
para mim parece clara a relação da crise económica atual com o desenvolvimento
negativo da nossa sociedade, talvez para quem tem o poder de tomar decisões não
seja assim tão claro. O facto de a população Portuguesa ter crescido até há
pouco tempo pode ter levado a pensar que afinal a causa da crise se deve a esse
fator, levando dessa forma à escassez de recursos e à necessidade de se
realizarem cortes. No entanto, o que precisamos é de boas políticas para
conjugar os fatores produtivos existentes de forma a evoluirmos economicamente.
Se temos os fatores necessários, deveríamos construir um plano de
sustentabilidade e conjugação dos mesmos. Dar oportunidades mais vantajosas no
nosso país para os jovens criarem raízes e se sentirem seguros para formarem
famílias. Seria importante apostarmos na competitividade externa de forma a ser
possível criarmos mais emprego e termos salários e condições cativantes.
É
preciso estimar os efeitos do crescimento populacional sobre a desigualdade e a
pobreza em vez de o tornar responsável por tudo. Campanhas natalistas são bem
vindas assim como o investimento no capital humano de forma a haver uma melhor
distribuição da mão-de-obra. Se nada for feito, arriscamo-nos a presenciar o desaparecimento
de jovens de um país com tantos recursos, o que culminará com a decadência de
um país outrora tão rico.
Tânia Fernandes
Nota: dados retirados de INE:
“Estatísticas demográficas”
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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