segunda-feira, 25 de novembro de 2013

EXPORTAÇÕES: SOLUÇÃO PARA A BALANÇA COMERCIAL?

Todos conhecemos o grave problema de dependência externa que assombra a economia portuguesa há já largos anos, pelo que não é novidade o desequilíbrio da Balança Comercial portuguesa, para o qual o tecido empresarial português também tem contribuído.
Uma aparente solução para este problema passa pela internacionalização dos negócios, como têm feito as maiores empresas portuguesas, como se conclui do retrato traçado pela Delloitte e pela Informa D&B, com base nas edições das 500 Maiores&Melhores da Revista Exame. Como se comprova também com base nos dados acerca das PME e Start-ups, cada vez estas apresentam mais um perfil internacional.
Não será difícil perceber a razão, tendo em linha de conta o cenário actual de grandes dificuldades que Portugal enfrenta, que tem obrigado as empresas a procurar alternativas ao mercado nacional e a apostar, portanto, em mercados externos. Esta aposta na diversificação dos mercados é uma forma de redução do risco e da exposição aos contra-ciclos da nossa economia, que tem nos últimos anos sido marcada pela contracção da procura, tornando o nosso tecido empresarial mais forte e resistente.
A prova de que esta estratégia traz resultados é dada pelo ranking das 500 M&M: o volume de negócios das empresas exportadoras aqui presentes aumentou 16% entre 2007 e 2012, enquanto que, no total, incluindo também as não exportadoras e considerando o mesmo período, o aumento foi de apenas 9%.
Neste sentido, até que ponto esta aposta em mercados externos está a contribuir para a redução da dependência externa e o equilíbrio da Balança Comercial?  
Tendo em conta estas 500 M&M, constata-se que, simultaneamente ao crescimento das exportações, há ainda um aumento maior das importações. Como resultado, o rácio entre importações e exportações apresenta-se abaixo de 1 no ano transacto, valor que tem vindo a diminuir desde 2007. E o que é facto é que são as empresas exportadoras são as que mais contribuem para o aumento das importações.
Não obstante, todos os produtos importados, transformados e vendidos no país, isto é, direccionados para o mercado nacional, têm um forte peso neste rácio, ou seja, podemos concluir que o crescimento das exportações tem sido muito alavancado pelas importações, quando a solução real para o problema de desequilíbrio da balança comercial passaria pela utilização e incorporação de recursos endógenos nacionais no processo produtivo.
Se avaliarmos o assunto na perspectiva do VAB, valor acrescentado bruto, que mede a riqueza efectivamente criada pelas empresas, nota-se um decréscimo de 16% no total das 500 M&M, o que pode ser explicado por grande parte destas empresas serem dos sectores da energia e das telecomunicações.
Independentemente do sector, a grande preocupação prende-se com o facto de as grandes empresas estarem a incorporar cada vez menos valor nas suas exportações, o que significa que Portugal vende cada vez mais o que compra no estrangeiro, havendo nesta perspetiva uma grande urgência no aumento da produção de bens que incorporem valor acrescentado nacional, de forma a incentivar o processo de criação de riqueza no país.
Conclui-se assim que a economia portuguesa e a Balança Comercial não precisam apenas do aumento das exportações, principalmente se forem antecedidas de fortes importações de matérias-primas e de produtos inacabados. A solução não pode, portanto, passar por sermos meros intermediários de venda ou incorporarmos pouco valor acrescentado nas nossas produções, caso contrário o efeito sobre a Balança Comercial será nulo.
Para que haja efectiva criação de riqueza, a economia nacional tem que apostar na inovação, na implementação de novos métodos, na criação de novos produtos e, sobretudo, na aposta em produtos inteiramente (ou pelo menos, dentro do possível) nacionais, desde a matéria-prima ao produto final. Só assim um aumento de exportações contribuirá para uma efectiva criação de riqueza e para o equilíbrio da Balança Comercial no médio longo prazo.

Joana Barros

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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