quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Possíveis consequências económicas do envelhecimento da população portuguesa

        O acelerado envelhecimento da população portuguesa tem sido motivo de publicação de muitos estudos académicos e reportagens nos media. De facto, a demografia define em grande medida os modos de vida das sociedades e é um factor que determina muitas dimensões do desempenho das economias. Uma sociedade mais envelhecida terá acumulado um maior stock de capital humano, tendo por isso os seus membros mais conhecimento e experiência. Deste ponto de vista, uma sociedade mais envelhecida poderá estar mais preparada para enfrentar novos desafios. Por outro lado, poderemos ter uma sociedade mais conservadora, menos propensa à inovação e ao risco, o que poderá trazer consequências negativas para o crescimento potencial das economias. Este possível efeito negativo sobre o crescimento económico tem suscitado questões relativas ao efeito do envelhecimento sobre a sustentabilidade do Estado Social e das finanças públicas. 
            Actualmente, Portugal é o 6º país mais envelhecido do mundo. De acordo com a base de dados Pordata, na década de 60, a média anual de nascimentos foi de 208.000, tendo diminuído de forma contínua desde então, atingindo em 2012 89.841 nascimentos, o valor mais baixo de sempre. De facto, entre 1990 e 2011, Portugal foi o país que registou a maior quebra na natalidade. Para o envelhecimento da população portuguesa contribuiu também o significativo aumento da esperança média de vida em 12,5 anos, entre 1970 e 2010, passando de 67,1 anos para 79,6 anos.
            O envelhecimento da população portuguesa reflete-se no grande aumento da idade média da população portuguesa, que em 1960 era de 28 anos e em 2011 passou para os 42 anos. Outro indicador é o que nos mostra que o número de pessoas com menos de 15 anos é inferior ao daquelas que têm idade igual ou superior a 65 anos. De acordo com os Censos 2011, o índice de envelhecimento da população era de 127,8%, o que significa que, por cada 100 jovens, existiam 128 idosos (dados do INE).
            O envelhecimento tem consequências para o desempenho das economias. Por um lado, o fator trabalho, sobretudo quando consideramos o capital humano, é um determinante fundamental do crescimento das economias no longo prazo. O envelhecimento da população sem a renovação das gerações limitará as possibilidades de transmissão de conhecimentos. O agravamento do envelhecimento da população portuguesa, coincidente com elevadas taxas de desemprego entre os jovens, agrava ainda mais aquelas possibilidades, pondo em causa o crescimento da economia portuguesa no longo prazo. 
            O envelhecimento tem também sido muito referido a propósito das suas consequências para a sustentabilidade do Estado Social, em particular para a sustentabilidade do sistema de pensões e para a sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde. Dado o sistema de pensões existente em Portugal, em que as pensões são pagas com as contribuições da população activa, a não renovação das gerações coloca em causa a sua sustentabilidade, isto é, o rendimento futuro das gerações mais antigas.  
            Por outro lado, a composição geracional da população afecta a sua estrutura de consumo. Uma população mais jovem consumirá bens muito diferentes dos consumidos por idosos, como, por exemplo, automóveis, aparelhos electrónicos, casas, entres outros. Estes são apenas simples exemplos, mas a verdade é que com o envelhecimento de uma sociedade todos os padrões de consumo/produção acabam por se alterados.
            Finalmente, uma população com uma maior proporção de idosos consumirá mais cuidados de saúde. Este aumento da procura de cuidados de saúde é um dos factores de pressão que hoje existe nos sistemas de saúde dos países desenvolvidos e também em Portugal no Sistema Nacional de Saúde.

Mariana Filipe Alexandre

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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