domingo, 24 de novembro de 2013

Crescimento Europeu – a ilusão de um consenso

Na maioria dos países europeus, o produto per capita é atualmente mais baixo comparando com o de há 6 anos, isto é, antes do início da grande crise financeira que se instalou. Em alguns casos, como a Grécia, Itália e Irlanda, esta diferença chega a ser mais do que 10%. Mesmo na Alemanha, onde ainda existe crescimento positivo, nos últimos 6 anos, a média de é irrisória.
            É difícil fazer previsões acerca das consequências adversas de todo este enredo económico negativo. A União Europeia perdeu 6 milhões de postos de trabalho desde 2008. Grande parte dos jovens que entraram recentemente no mercado laboral não conseguem encontrar trabalho que corresponda às suas capacidades e “skills”. Os Governos batalham para tentar equilibrar as contas. E, pior ainda, as empresas começam a olhar para a Europa como não sendo um bom local de investimento, levando assim à perda permanente de produto agregado.
            Com toda esta conjuntura económica, o crescimento deveria estar no topo da agenda política, mas em vez disso a UE e os Governos nacionais apenas “falam de boca para fora” e nada é feito em relação à existência de uma estratégia sólida.
            Na zona euro, a esperança é que lentos ajustamentos fiscais, o abrandamento dos mercados da dívida soberana e uma política económica de suporte por parte do Banco Central Europeu irá ajudar a desencadear uma recuperação sustentável. Este até poderá  ser o caso, contudo, a recuperação que é esperada destas medidas não será suficiente, tendo em conta os últimos 6 anos. Os ganhos de produtividade que não se concretizaram foram perdidos de forma permanente: grande parte dos trabalhadores que experimentaram desemprego de longo prazo ou que já deixaram o mercado de trabalham dificilmente irão regressar, e a Europa já pode considerar uma vitória se conseguir crescimentos de produtividade próximos dos valores de tendência pré-crise – melhor do que nada, mas claramente não satisfatórios.
            Se compararmos com os Estados Unidos, por exemplo, tudo está de forma diferente: o crescimento económico está no topo da lista de todos - o FED espera uma taxa de desemprego abaixo dos 6,5% e as empresas usaram este tempo de recessão económica como uma oportunidade para se reorganizarem e tornarem mais eficientes.      
            Assim sendo, então porque é que a Europa não está a fazer mais de forma a regressar ao crescimento económico? Os líderes europeus diriam, provavelmente, em primeiro lugar, que foram forçados a lidar com assuntos mais urgentes desde a crise na Grécia, de 2010. Mas, enquanto é verdade que grande foco político foi dado a estes fogos financeiros, esta resposta não é suficiente: desde o Verão de 2012, quando o presidente do BCE Mario Draghi convenceu os mercados de que a zona euro não iria colapsar, a Europa teve espaço suficiente para se concentrar nas suas metas e conseguir crescimento positivo. Contudo, pouco foi feito.
 A segunda explicação é de que existe consenso relativamente ao objetivo, mas não aos meios utilizados para lá chegar. Novamente, existe alguma verdade. Os apoiante de Keynes argumentam que o crescimento apenas ocorrerá se a política instalada for no sentido do aumento da procura agregada; culpam o radicalismo fiscal, assim como a agressividade das políticas monetárias. Os seus oponentes, em contraste, observam fraquezas estruturais e desequilíbrios internos como o maior impedimento. Para quem tem uma visão de fora, a culpa recai sobre o lento ritmo das reformas económicas e sociais. Esta falta de consenso leva claramente a uma falta de solução estruturada. Mas, mais uma vez, não é uma explicação inteiramente convincente. Desentendimentos como estes já aconteceram previamente – e não só na Europa. Existindo boa vontade, deve existir espaço suficiente para o compromisso. Como Paul Samuelson, Nobel da Economia, declarou: “A razão pela qual temos dois olhos, é para manter um a olhar pela procura e outro pela oferta”.
            Uma explicação mais profunda, e preocupante, é a de que a Europa não tem um grande desejo de crescimento. Na verdade, alguns estão convencidos de que, dadas as consequências de toda esta conjuntura, o crescimento económico provoca mais mal do que bem, e que a crise deve ser encarada como uma oportunidade para alterar para uma economia mais parcimoniosa. De acordo com esta visão, o crescimento económico é um negligenciador da ecologia – por exemplo, devia ser dada mais importância aos negócios de regulação ecológica.
            Outra perspetiva, é que o crescimento económico causa desprotegimento da classe laboral e aceitação de grandes desigualdades sociais. Teme-se que, em vez de se distribuírem os benefícios prometidos, sejam acordadas reformas penosas para os trabalhadores em prol dos empregadores.
            Ambientalistas e protecionistas da classe laboral advogam que o crescimento económico não deve ser o objetivo da economia política. No fundo, têm algum foco de qualidade – em termos de preservação do ambiente, condições de trabalho e distribuição do bons resultados reduzindo desigualdades – que também são pontos importantes. E até chegam a ter razão quando dizem que toda esta ênfase no crescimento pode levar a desculpas para medidas questionáveis a nível social. Mas, estão errados ao concluir que os seus ideais são melhores e que se deve negligenciar o crescimento económico. Estagnação não é uma solução para qualquer problema; muito pelo contrário, leva a grandes riscos. A falta de crescimento irá certamente resultar na falha do modelo social europeu. O bem-estar social apenas é sustentável se as receitas forem crescentes, na linha com o consumo e as necessidades, e a estagnação prolongada levaria a que o modelo caísse peça por peça. No final, o resultado económico previsto pelos céticos (ambientalistas e defensores do trabalhador – ausência de crescimento económico) prejudicaria os próprios objetivos por que tanto lutam e defendem.
            Para colocar um ponto final no impasse atual e desbloquear o seu potencial económico, são necessárias medidas sólidas que abordem os problemas da escassez de procura, ganhos de produtividade e a qualidade do crescimento económico. A implementação desta combinação está longe de ser impossível, falta sim uma plataforma política onde a abordagem destes assuntos seja feita conscientemente e onde o item número um da lista seja a moldagem positiva do crescimento económico europeu. Isso sim é urgente.

Susana Freitas

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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