segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Novo corte na taxa de juro diretora – será suficiente?

          Os bancos centrais têm, por norma, três instrumentos de política monetária: operações de mercado aberto; rácios de reservas legais obrigatórias; e taxas de desconto/juro. A primeira corresponde á compra (ou venda) de títulos de dívida pública, a segunda a regulações governamentais relativas às reservas legais obrigatórias dos bancos nacionais, e a terceira, que vou discutir no presente artigo, às taxas de juro cobradas pelos bancos centrais aos bancos nacionais.
         Atualmente, paira na zona euro um cenário de baixa inflação, aliás, segundo os últimos dados de Outubro, o índice de preços do consumidor registou um crescimento homólogo de 0,7%. Este valor, bastante inferior ao previsto pelos analistas, contraria a intenção de Mario Draghi em manter a taxa de inflação “perto mas abaixo dos 2%”. Em resposta à baixa inflação e até mesmo ao risco de deflação, o BCE decidiu cortar a taxa de juro central para o mínimo histórico do 0,25%, tendo também o objectivo de tornar o crédito mais fácil e barato, estimulando assim o crescimento da economia europeia (numa altura em que os sinais da retoma da zona euro começam a perder força). Esta decisão foi muito bem recebida em países periféricos com elevados rácios divida pública/produto como Portugal, Grécia e Itália, pois uma inflação baixa na zona euro agrava a competitividade das suas economias. De facto, esta decisão é benéfica para estes países pois o aumento no nível geral de preços na zona da moeda única deprecia o euro, tornando as exportações europeias mais baratas e diminui o valor das dívidas públicas em termos reais. Para além disto, se os agentes económicos previrem uma subida do nível geral de preços, anteciparão despesas favorecendo o consumo, o investimento e o comércio em geral.
A atitude do BCE em baixar a taxa de juro de referência, beneficiará as famílias com créditos á habitação, pois este corte irá refletir-se na descida das taxas Euribor. No entanto, o principal impacto deveria vir através da maior facilidade e menor juro na concessão de crédito bancário, mas isso não se verificará em países com elevados níveis de endividamento (como Portugal) pois os sistemas financeiros continuam com a torneia do crédito fechada e a pedir taxas de juro muito elevadas.
            Apesar desta decisão do Banco Central Europeu, há indícios em algumas economias europeias de pressões deflacionistas, ou seja, esta política está a ficar enfraquecida uma vez que o BCE tem o limite óbvio de 0% no corte da taxa diretora. Ainda que o presidente Mario Draghi afirme ter mais instrumentos disponíveis no combate às pressões deflacionistas, tais como um eventual corte na taxa marginal de depósitos e novos empréstimos de longo prazo à banca, é necessário que o BCE adote, no futuro, uma postura ainda mais interventiva, pois só assim será possível que os países periféricos convirjam para a média da zona euro.   

José Costa 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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