sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Motores do crescimento económico

Uma das experiências de crescimento mais surpreendentes na história recente foi provavelmente a dos Tigres Asiáticos: Hong Kong, Singapura, Coreia do Norte e Taiwan. Entre 1966 e 1990, estes quatro países cresciam 7% ao ano, já os EUA, por exemplo, apresentou um crescimento do PIB per capita na ordem dos 2%. Numa única geração, o rendimento per capita cresceu cinco vezes mais do que nos períodos anteriores, o que fez com que estes países saíssem do grupo de economias mais pobres do mundo para o grupo de economias mais ricas. Outro exemplo notório de rápido crescimento económico ocorreu no Japão e na Alemanha logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Apesar destes dois países serem atualmente duas “super-economias”, o mesmo não acontecia em 1945. Nas décadas posteriores à guerra, ambos viveram um dos crescimentos mais rápidos até ao momento registados: entre 1948 e 1972, o produto per capital aumentou 8.2% por ano no Japão e 5.7% por ano na Alemanha.
Estes padrões de crescimento “milagrosos” que se distinguem ao longo do tempo e entre países e regiões são precisamente uma das principais temáticas dos estudos empíricos e da teoria económica, já que as diferenças contínuas nas taxas de crescimento conduzem, no longo prazo, a enormes desigualdades no bem-estar da população.
Recorrendo à teoria do crescimento económico do Modelo de Solow para os casos do Japão e da Alemanha, temos que, se um país assume uma quebra no stock de capital, mas no entanto, mantém a sua taxa de poupança – fração do produto destinado à poupança e ao investimento – no mesmo nível, então a economia irá viver um período de alto crescimento. Isto porque, de acordo com Solow, se o país poupa e investe uma percentagem elevada do seu PIB, terá consequentemente níveis de produto superiores. De facto, quer o Japão quer a Alemanha poupam e investem uma maior quota do seu produto do que a maioria dos países, e esta é precisamente a chave determinante do modelo referenciado. Análises empíricas às taxas de poupança e PIB per capita de vários países revelaram que a conceção teórica de Solow se comprova. Existe de facto uma relação positiva entre a quota do PIB destinada ao investimento e o nível de PIB per capita. Isto é, países com altas taxas de investimento como os EUA, Japão e mesmo a Finlândia apresentam outputs mais elevados, já países como Uganda e Chade, de níveis de investimento precários, assumem PIB mais modestos. Estes níveis de investimento são divergentes de país para país porque dependem, entre outros, da política fiscal de cada economia, do desenvolvimento dos mercados financeiros e mesmo das diversidades culturais. Em acréscimo, a política de estabilização pode impor um papel relevante no nível de investimento: sem surpresa, as taxas de poupança e investimento tendem a ser baixas em países com frequentes guerras, revoluções e golpes de estado ou instituições políticas frágeis e corruptas.
Note-se, no entanto, que esta relação causal pode ser vista de outra perspetiva: são os altos níveis de rendimento que propiciam elevadas taxas de poupança e investimento e não o contrário. Contudo, não existe um consenso entre os economistas de qual é a relação causal. A associação entre o investimento e o PIB per capita é forte e é uma pista importante para saber o porquê da existência de crescimentos antagónicos, no entanto não conta a história toda. Por exemplo, o México e o Zimbabwe assumem taxas de investimento similares, mas o PIB per capita é três vezes superior no México. 
No caso do “milagre” asiático, alguns economistas argumentam que o sucesso destes países se deveu ao crescimento tecnológico a uma taxa constante e exógena. O seu crescimento deveu-se à habilidade de imitar tecnologias de outros países, fomentando a sua produtividade num curto período de tempo. No entanto, recentes estudos neste âmbito concluíram que este rápido crescimento foi resultante do aumento da força de trabalho, do fomento do stock de capital e mesmo de maior esforço de educação. Na Coreia do Sul, por exemplo, o investimento em percentagem do PIB passou de cerca de 5% em 1950 para cerca de 30% em 1980, e a percentagem de população com pelo menos o secundário passou de 26% em 1966 para 75% em 1991. Uma vez contabilizados os crescimentos da mão-de-obra, capital e capital humano, pouco do crescimento do PIB fica por explicar. Nenhum destes quatro países viveu um crescimento da produtividade incomum. De facto, a média de crescimento da produtividade dos tigres asiáticos foi semelhante à dos EUA na época.
Vimos portanto que, atualmente, os economistas sabem bastante acerca dos fatores que influenciam o crescimento económico. O modelo de Solow e os modelos de crescimento endógeno, mais recentes, mostram que a poupança, crescimento populacional e o progresso tecnológico são determinantes para o aumento do nível de vida de uma sociedade. Apesar disso, estas teorias não servem de solução mágica para assegurar que a economia alcance um rápido crescimento, mas oferecem pois uma introspeção, proporcionando matéria intelectual para o debate das políticas públicas.

Joana Monteiro Mota

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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