Nos últimos tempos, em Portugal, temos vindo a assistir a um acentuado aumento
do preço dos imóveis, principalmente daqueles localizados nos centros das
cidades, bem como do preço de arrendamento dos mesmos, o que tem levado à
deslocalização da população para fora dos centros urbanos. Este facto tem sido
corroborado, por exemplo, pelo aumento de 46% do preço dos imóveis no centro
histórico de Lisboa (dados revelados através do índice elaborado pela
Confidencial Imobiliário).
A situação descrita neste artigo de opinião apresenta diversos precedentes
que podem ser vistos como causas deste problema. Um desses motivos para o
crescente e constante aumento do preço dos imóveis tem sido o crescente aumento
do turismo em Portugal, o que se verifica a partir dos dados disponibilizados
pelo PORDATA, que nos indicam um aumento em cerca de 5 milhões de hóspedes no
total dos estabelecimentos hoteleiros entre 2010 e 2015, levando a uma
alteração do público-alvo, passando de cidadãos comuns para turistas, das
habitações dos centros das cidades face ao que era anteriormente observável.
Outra das principais causas observadas é a forte procura por investimento
nestas zonas da cidade, o que se traduz, por exemplo, num aumento do
investimento no centro histórico do Porto de cerca de 64% em 2016. Esse
crescimento é mais visível em projetos com fins turísticos e de comércio. Tal
tipo de empreendimentos, aliados ao facto de a nova lei das rendas permitir ao
proprietário despejar os inquilinos alegando a necessidade de obras estruturais,
tendo este o intuito de construir hotéis e hostels,
também tem levado à deslocalização da população para as periferias dos centros
urbanos.
Todo este desenrolar de acontecimentos tem como sustento o apoio estatal ao
investimento privado no ramo imobiliário, fazendo com que as propriedades nos
seios das cidades fiquem nas mãos de grandes grupos nacionais e internacionais.
Este fenómeno não é apenas observado em Portugal. Também se verifica no
resto da Europa. Cidades como Berlim, Paris e Barcelona têm vindo a sofrer do
mesmo problema, levando a que o governo alemão proibisse o arrendamento
temporário de apartamentos e casas a turistas através de plataformas online, ou que a câmara de Paris
divulgasse uma lista de apartamentos em que se o proprietário quisesse vender o
imóvel esta teria prioridade em adquiri-lo e transformá-lo em habitação para
pessoas com rendimentos menores.
Posto isto, na minha opinião, Portugal deveria procurar seguir o exemplo de
países como os acima enunciados, adotando medidas que tenham como finalidade a
proteção da população, como mecanismos de controlo de rendas ou a diferenciação
fiscal para fins turísticos, ou ainda benefícios nas tarifas dos transportes
públicos para os moradores que ocupem as casas devolutas, para que estes tenham
uma maior mobilidade dentro dos centros. Isso, ao invés do apoio estatal ao
investimento privado, que provoca o aceleramento deste processo de aumento dos
preços dos imóveis e consequente despejo da população dos centros das cidades.
Eduardo Madureira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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