Em 2014, à mão do
anterior governo, chegou a ser equacionada a implementação de um novo imposto
indireto, baseado num alargamento do IABA (Imposto sobre o Álcool e Bebidas
Alcoólicas) para as bebidas não alcoólicas com açúcares adicionados ou outros
edulcorantes, com exceção dos néctares, sumos de fruta e bebidas à base de
leite, mesmo que contenham açúcar. Ora, só a 1 de fevereiro deste ano é que
esse novo imposto, comummente conhecido como “fat tax”, entrou em vigor em
Portugal, surgindo especialmente como uma sugar
tax e podendo ser aplicado em 2 escalões: em bebidas de 1,5L com uma
concentração de açúcar inferior a 80gr, a taxa será de 0,15 euros, ao passo que
nas que apresentem uma concentração superior a 80gr a taxa sobe para 0,25
euros. Para além disto, a sua tributação pode ocorrer de diferentes formas,
estando já em vigor em diversos países da UE. Como termo de comparação surge,
por exemplo, a Hungria, que tributa refrigerantes, bebidas energéticas, doces
pré-embalados e snacks, e a
Finlândia, que para além dos refrigerantes tributa também doces, gelados e
chocolates.
O “fat tax”, que hoje
em dia tem dado muito que falar, traz consigo uma série de questões em relação
ao cerne do seu verdadeiro objetivo: será um veículo para camuflar os aumentos
das receitas fiscais ou atua de acordo com preocupações com a saúde? Pessoalmente,
acredito que o maior intuito seja apelar à consciência das pessoas em relação
aos malefícios de certos alimentos, nunca descurando o facto de proporcionar
ganhos fiscais para o Estado, através do aumento da sua receita, e cuja verba
será revertida para o Sistema Nacional de Saúde, de acordo com o Governo. Trata-se,
portanto, de uma aliança entre a receita do Estado e a intenção de um consumo
consciente.
A título de exemplo, o
Observatório Nacional da Diabetes, que publicou o relatório
"Diabetes: Factos e Números", referente ao ano de 2015, revela que,
em média, em Portugal, a diabetes matou cerca de 12 pessoas por dia e que há
uma tendência de crescimento no número de novos casos diagnosticados. Perante estes
números verdadeiramente assustadores, e sendo o açúcar uma das suas principais
causas, faz sentido a adoção de determinadas medidas que balancem e diminuam o
consumo destas substâncias por parte do Governo português.
Ora, atualmente, existe
- diria até - excesso de informação em relação a temáticas como a nutrição; no
entanto (e porque não vivemos num mundo utópico), existe uma assimetria dessa
informação, provocada muitas vezes pelos diferentes níveis de escolaridade e
conhecimento dos indivíduos, por questões culturais fortemente vinculadas ou
através das publicidades, as quais conseguem verdadeiramente atrair e manipular
o consumidor para que este compre determinados produtos, induzindo-o em erro em
relação às suas caraterísticas nutricionais. Posto isto, acredito que esta nova
tributação consiga funcionar como um apelo à consciência das pessoas,
alertando-as para que algo está errado nos seus hábitos de consumo.
Não obstante, claro que
este objetivo também é difícil de ser enraizado e realizado. Diariamente,
conseguimo-nos aperceber da discrepância de preços entres produtos mais
saudáveis e aqueles “menos saudáveis”, sendo muitas vezes uma diferença absurda
e, inevitavelmente, determinante dos hábitos de consumo das pessoas: classes
com menores rendimentos serão mais penalizadas com o novo imposto uma vez que
dedicam uma maior proporção do seu rendimento ao consumo, nomeadamente destes
produtos que são mais baratos do que os mais saudáveis.
Assim, um “fat tax”
poder-se-á tornar num imposto regressivo, já que os sujeitos mais pobres terão
que abdicar de uma maior fatia do seu rendimento para suportar o imposto do que
os contribuintes mais ricos. Desta forma, embora este novo imposto possa
interferir no processo de tomada de decisão das pessoas, acredito que será
insuficiente. Penso que uma forma de contornar a situação poderia passar pela
aplicação dessa receita fiscal gerada para fomentar a educação ou para
subsidiar empresas e incentivá-las à alteração do processo produtivo para
práticas mais saudáveis.
Neste seguimento, mesmo
após a exposição da minha opinião em relação ao assunto, deparo-me com uma
lacuna: o novo imposto pode, de facto, alterar os hábitos de consumo dos
cidadãos, mas essa mudança poderá ser apenas limitada aos produtos taxados, não
se verificando uma revolução nos hábitos alimentares em geral, o que, a longo
prazo, não se traduz numa melhoria da saúde pública assim tão significativa. Dado
isto, penso que, para além da tributação ao açúcar vigorante em Portugal, as
taxas poderiam incidir também sobre produtos com elevadas concentrações de sal,
gordura ou edulcorantes, por exemplo.
Em jeito de conclusão, e
porque os indivíduos têm tendência a responder mais rapidamente a incentivos
económicos do que propriamente a campanhas ou comunicados acerca dos malefícios
de determinados produtos, acredito que se irá verificar uma mudança na
mentalidade das pessoas, para além de melhorias na sua saúde, numa perspetiva
de longo prazo.
Daniela
Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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