No passado dia 15 de
Setembro, os esforços portugueses rumo à recuperação, crescimento e estabilização
económica foram reconhecidos por uma gigante das agências de rating, a Standard
& Poor's. A empresa de serviços financeiros norte-americana alterou o rating
da dívida portuguesa de BB+ para BBB-, ou seja, a dívida portuguesa deixou
de ser considerada uma aposta especulativa e é agora avaliada como um
investimento. Apesar do impacto positivo inicial que esta notícia possa causar
nas perspetivas futuras para a economia portuguesa, torna-se necessário
compreender as agências de rating, o seu papel, e perceber de que forma esta alteração da avaliação
da dívida portuguesa representa verdadeiramente a evolução da economia
nacional.
As agências de rating
são empresas privadas de serviços financeiros que fornecem aos seus clientes
informação sobre a capacidade de cumprimento de pagamento de crédito, seja ela
de empresas privadas ou de estados. As avaliações são baseadas na capacidade do
requerente de crédito de conseguir efetuar pagamentos regulares (com juros) e
na probabilidade de default (incapacidade
de pagamento). As avaliações variam entre AAA (as mais seguras/positivas) e C/D
(as mais negativas/países já em incumprimento). Os indicadores das agências
variam entre si, mas, de um modo geral, podem ser agrupados em três categorias:
a primeira, e mais óbvia, é a componente quantitativa, ou seja, toda a
estrutura financeira da organização a avaliar. A segunda componente é a
componente qualitativa, onde são analisadas variáveis como alterações nas
estratégias das empresas ou, no caso de nações, alterações que possam causar
instabilidade na conjuntura política. Por último, temos a componente contextual,
que visa analisar possíveis alterações na indústria em que a organização esteja
incluída, no caso das empresas, e que, para países, avalia o panorama das
contas públicas.
Agora que já foi
desenhado o contexto geral, é útil analisar as oscilações económicas provocadas
pelas avaliações produzidas pelas agências. Os efeitos económicos provocados
por alterações no rating das instituições nem sempre são sequenciais, ou
seja, por exemplo, apesar da diminuição do rating da dívida americana
(anteriormente no nível máximo - AAA), as taxas de juro em ativos do governo
americano diminuíram, o que dá a entender que os mercados consideram que a
capacidade de cumprimento americana é, ainda, da mais alta qualidade. No
entanto, existem também aqueles que argumentam que as agências de rating possuem
demasiado poder e que em casos onde empresas se encontrem em dificuldades
económicas, a alteração da avaliação por parte das agências pode ser a primeira
peça do dominó rumo à bancarrota. O exemplo serve também para descrever o
efeito em países que se encontrem em situações financeiras debilitadas.
No
caso português, parece seguro afirmarmos que esta notícia é de cariz positivo
mas não suficiente. Embora a Standard & Poor's (S&P) tenha ajustado, de
forma positiva, o rating português, e até com repercussões imediatas
(taxa de juro de obrigações portuguesas a 10 anos diminui de 2,801% para 2,436%
entre dia 15 e 18 de Setembro, seguindo a tendência holística da evolução da
taxa de juro desde janeiro de 2012), as outras agências de "peso" ainda
não demonstraram o mesmo nível de confiança. Contudo, em declarações recentes,
a Moody's, sem alterar o avaliação dos títulos portugueses de ativos
especulativos, alterou a perspetiva de
estável para positiva. Segundo a agência, os progressos nas finanças públicas e
o crescimento económico, devido ao investimento, foram os fatores que mais
influenciaram a alteração de perspetiva. O diretor do gabinete de risco
soberano da Moody's também prevê uma melhoria nos próximos 12 meses e garante
que o Governo português tem consciência das repercussões, nos mercados, do
próximo orçamento de estado e tem confiança de que Portugal continuará no
caminho do equilíbrio financeiro.
Simão Oliveira Abreu
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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