segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Os desafios da era digital dividem a União Europeia

        Na passada sexta-feira (06/10/2017) foi discutido, numa cimeira que reuniu todos os membros da União Europeia, na Estónia, os desafios da era digital. Nesta, o tema que parece ter causado mais debate foi a questão de como lidar com a tributação sobre as empresas gigantes cujos negócios não são conduzidos nem em lojas nem escritórios nem têm qualquer presença física, mas sim “online”, como é o caso da Google, Facebook e Amazon.
      Um relatório recentemente lançado pela Comissão Europeia aponta que as empresas digitais com negócios internacionais pagam em média 10,1% de impostos na União Europeia, ao contrário das tradicionais que pagam em média 23,2%. Os exemplos ficam cada vez mais extremos quando olhamos para os gigantes desta indústria, como, por exemplo, os impostos pagos pela “Amazon”, que, de acordo com um estudo recente no Reino Unido, conseguem chegar a ser 11 vezes mais baixos do que os dos seus concorrentes, as livrarias tradicionais. Além deste, temos também o caso da Google, investigado pela Comissão Europeia, em que o nível de impostos aplicado pela autoridade tributária irlandesa em 2014 era de 0,005%, muito abaixo dos 12,5% aplicados a todas as outras. O objetivo da divulgação destes dados foi de chamar a atenção dos estados-membros para a severidade do problema e a necessidade de ação imediata por parte de todos.
        Seguindo o lançamento do documento anteriormente mencionado, veio a proposta francesa de tributar não sobre o lucro mas sim sobre o volume de vendas, de forma a lidar com este problema no curto prazo. Esta proposta recebeu o apoio de 10 outros estados membros, como a Alemanha, Espanha e Itália. No entanto, existe oposição a esta medida, pelo que é advogado por uns que a incidência sobre o volume de vendas pode ser apropriada a algumas empresas e não tanto a outras. A contraproposta é um imposto sobre as empresas que não são ou são insuficientemente afetadas pela tributação individual de cada país devido às suas atividades baseadas na internet.
Pierre Moscovici, membro da comissão encarregue da política fiscal, propôs como medida de longo prazo: a implementação de um sistema de regras comum a todos os membros da UE que tem como base combater “refúgios” onde os impostos são mais baixos, deixando os outros sem hipótese de crescimento no mercado único. Esta medida, tem sido combatida por estados membros, como o Reino Unido, desde 2007. Apesar da saída inevitável deste em 2019, o consenso parece longe de ser alcançado, pelo que vários países da União Europeia têm sérias dúvidas sobre o sucesso deste imposto, sem um esforço global.
         Em jeito de conclusão e de forma a mostrar a minha opinião pessoal sobre o assunto, julgo que nada de produtivo sairá deste debate, pelo que todos os 27 membros têm de agir em conformidade. A dificuldade deste consenso advém da existência de “perdedores” desta medida, como é o caso da Irlanda, pois o seu desenvolvimento tem surgido à custa das grandes empresas digitais lá sediadas. Finalmente, do meu ponto de vista, acho que a solução para este problema passa por um reforço das leis de cada país sobre as empresas deste carater, sem sequer recorrer a uma cooperação reforçada, de forma a satisfazer as necessidades individuais neste contexto.

Adriano Lopes

EUROPEAN COMMISSION (2017) A Fair and Efficient Tax System in the European Union for the Digital Single Market, Brussels
https://www.theguardian.com/business/2017/sep/21/tech-firms-tax-eu-turnover-google-amazon-apple

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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