terça-feira, 17 de outubro de 2017

Incêndios florestais: 2017 como um dos piores anos da última década

Um incêndio florestal é o fogo que se estende sem controlo em terreno florestal ou silvestre, afetando os combustíveis vegetais, flora e fauna. Um incêndio florestal distingue-se de outros tipos de incêndio pela sua ampla extensão, a velocidade com a qual se pode estender desde o seu lugar de origem, o seu potencial para mudar de direção inesperadamente e a sua capacidade para superar obstáculos como estradas, rios e aceiros.
Através da análise da base de dados nacional, registamos, entre 1 de janeiro e 30 de setembro de 2017, um total de 14.097 ocorrências (2.951 incêndios florestais e 11.146 fogachos) que provocaram uma área ardida de espaços florestais de 215.988 hectares, entre 117.302ha em povoamentos e 98.686ha em matos. Contabilizamos, então, uma destruição de milhões de toneladas de madeira muito desvalorizada, uma destruição de bens materiais e da biodiversidade e uma quebra de receitas para o turismo e para a economia.
Estas perdas prejudicam a economia portuguesa uma vez que, em 2015, os diferentes produtos das fileiras florestais demonstraram uma enorme relevância na balança comercial nacional (10% das exportações e 4% das importações nacionais). O saldo da balança comercial dos produtos de base florestal apresenta uma trajetória crescente desde 2009, sendo que em 2015 registou-se um excedente de 2,5 mil milhões de euros.
Entrando numa área mais particular, especificamente nas regiões de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera, Penela, Sertã, Pampilhosa da Serra e Góis, a Autoridade Nacional de Proteção Civil apontou prejuízos no valor de 4,5 milhões de euros, sendo que 27 milhões correspondem a danos totais ou parciais apenas nas habitações. Foram também afetadas 50 empresas, levando a uma perda de 374 postos de trabalho, com danos avaliados em 31 milhões de euros. Os produtores agrícolas também foram atingidos, com um prejuízo de 21,5 milhões de euros, exteriorizando-se numa futura diminuição das exportações, mas também na perda de pequenos quintais ou terrenos agrícolas que, numa situação normal, não receberiam um apoio do governo, mas que eram muito importantes para a subsistência das famílias.
Assim sendo, questões como uma necessidade de resposta mais urgente, que possa garantir as condições básicas à população, como habitação, floresta, atividades económicas, agricultura, infraestruturas e equipamentos municipais, rede viária nacional e proteção civil, carecem de um financiamento de 193 milhões de euros. Para fazer frente a estas despesas, o Estado Português e os seus Órgãos de Soberania devem deixar-se de conversa fiada e proporcionar os meios necessários para uma recuperação sustentável. Como tal, está previsto no Orçamento de Estado de 2018 uma verba de 27 milhões de euros para a Liga dos Bombeiros enfrentarem cada vez mais facilmente os incêndios, de forma a diminuir, consideravelmente, os danos que estas tragédias provocam.
A nível europeu, houve uma evolução em termos ambientais em 1992, com a criação do Programa LIFE, que se trata de um instrumento financeiro da União Europeia que apoia projetos de conservação ambiental e da natureza. O programa já cofinanciou mais de 3700 projetos em todo o espaço da UE, contribuindo com cerca de 2,8 biliões de euros para a proteção do ambiente, evitando assim prejuízos ambientais e económicos ainda maiores. Um dos instrumentos utilizados é o “Natural Capital Financing Facility (NCFF)”, que fornece soluções financeiras inovadoras para apoio a projetos rentáveis (geração de receitas ou redução de custos), promovendo a conservação, gestão e valorização do capital natural e os benefícios de adaptação ao clima. Os projetos serão financiados através de intermediários financeiros nacionais e a gestão deste instrumento é feita pelo Banco Europeu de Investimento (BEI).
Desde o lançamento do Programa LIFE, Portugal já foi cofinanciado em 153 projetos, estando 71 focados na inovação ambiental, 79 na conservação da natureza e 3 na informação e comunicação. Estão, assim, representados investimentos no valor de 155 milhões de euros, 89 dos quais contribuídos pela UE.
Com tudo isto, podemo-nos questionar acerca dos danos que 2017 irá trazer para a nossa economia, tendo em conta os benefícios que retiramos das nossas florestas. Será que a balança comercial sairá muito afetada? Ou será o financiamento do Estado suficiente para controlarmos as produções e exportarmos em quantidade relativamente igual? Para já, não há uma resposta, resta-nos esperar pelas estatísticas e acreditar que o Estado não irá ficar indiferente a esta situação.

Marta Daniela Vale Pinto

http://www.icnf.pt/portal/florestas/fileiras/resource/docs/Mercados-Florestais-2016.pdf  

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: