Como é do conhecimento
de todos, o setor do turismo tem sido o menino bonito da economia portuguesa,
pois foi o que nos permitiu ter uns resultados razoáveis no período em que a troika esteve em Portugal, bem como é o
principal impulsionador do crescimento da nossa economia.
De acordo com as informações apresentadas pelo
INE, nos termos das estatísticas mais recentes em relação ao turismo -
hotelaria, turismo no espaço rural e de habitação, e alojamento local – o setor
teve um aumento de 9,8% no número de hóspedes e de 9.6% no número de dormidas
face ao ano de 2015. Em 2016, o setor do turismo apresentou receitas no valor
dos 12,6 mil milhões de euros, o que, comparado com o período homólogo anterior,
representa uma subida substancial de 10,7 %.
Tendo
em consideração este cenário, um aumento do número de hóspedes, dormidas e
receitas, seria de esperar uma criação de emprego significativa. No entanto,
tal não se verifica. O número de empregados subiu na ordem dos 20 mil desde
2011, mas a criação destes empregos é sobretudo de emprego precário.
Apenas contabilizando os trabalhadores por
conta de outrem, que eram cerca de 215.000 no final de 2016, 64,5% tinham
contrato sem termo. No entanto, verificou-se uma subida de 13,4% nos contratos
a termo e noutros tipos de contrato, o que que poderia ter sido facilmente
explicado pela sazonalidade, que é uma caraterística deste setor, não fosse o
facto de o crescimento de 63% no número de dormidas registado no ano passado
ter sido verificado durante a suposta “época baixa”.
Outro
aspeto que evidencia a precariedade neste setor é que, embora as receitas
tenham aumentado, a média salarial acompanhou esta evolução de forma negativa,
tendo descido para os 614€ em 2016. De acordo com inquéritos realizados, 35,9%
destes trabalhadores recebe o salário mínimo. Apenas atividades administrativas
e de serviços de apoio apresentam uma percentagem superior de trabalhadores com
renumerações semelhantes.
Para além de o número de contratos de trabalho
precário ter aumentado e da redução da média salarial do setor face ao ultimo
ano, os trabalhadores apresentam queixas sobre as excessivas cargas de
trabalho. A duração semanal renumerada é em média 39,2 horas semanais, estando
apenas abaixo de alguns setores da indústria transformadora, transportes e
armazenamento.
Concluímos
assim que o setor do turismo e hotelaria tem cada vez mais um peso significativo
nas receitas do país, o que não é acompanhado pelas condições oferecidas aos
trabalhadores. Assim, era importante a existência de medidas interventivas
neste setor, de forma a proteger os trabalhadores e incentivar uma das áreas
cada vez mais importantes no funcionamento da economia portuguesa.
José
Henrique Machado
[artigo de
opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e
Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário