A
9 de outubro do corrente ano foi anunciado o vencedor do Prémio Nobel da
Economia 2017, o economista americano Richard Thaler. Os seus trabalhos de investigação na
área da economia comportamental ajudam a compreender como o
comportamento humano por vezes altera os modelos económicos teóricos. “As
contribuições de Richard Thaler construíram uma ponte entre a análise económica
e a análise psicológica, no processo de tomada de decisões a nível individual”,
afirmou a academia sueca responsável pela atribuição do prémio. “As suas
conclusões empíricas e teóricas têm sido cruciais para a criação da área da
economia comportamental, que está em rápida expansão, e tiveram um impacto
profundo em várias áreas da pesquisa e da política económica”, acrescenta.
Este
mesmo prémio tinha sido já atribuído a Herbert Simon (1978), Gary Stanley
Becker (1992), e Kanheman (2002) pelas suas investigações no ramo da economia
comportamental, e outros investigadores contribuíram com os seus estudos nesta
área, como por exemplo David Laibson, com a teoria da gratificação imediata.
Porém, há algo de diferente nos estudos de Thaler…
De
acordo com estes investigadores, as pessoas cometem erros que implicam
resultados económicos inesperados. Segundo os modelos económicos tradicionais,
as pessoas são maximizadoras racionais da utilidade e estão sempre a avaliar os
planos e as oportunidades de forma a obter a melhor satisfação ao longo da
vida. Porém, já se verificou que as pessoas não agem assim. Cometem erros, por
exemplo, em decisões de consumo, oportunidades de investimento ou planos de
poupança, movidas por impulsos visando obter gratificações e satisfações
imediatas e descurando o futuro. Por outro lado, as pessoas têm tendência a
confiar demasiado quando as coisas correm bem, acreditam que será sempre assim,
o que as leva a arriscar mais, persistindo em novas tentativas para além do que
seria racional, conduzindo em alguns casos a perdas avultadas.
As
implicações destas atitudes são
numerosas, com destaque para o consumo exagerado em produtos
desnecessários, poucos hábitos de poupança, muito necessária para uma maior
segurança na aposentação, ou grandes perdas em investimentos de alto risco.
Como
as pessoas são tudo isto, ao mesmo tempo que tentam também ser racionais, desenhar
modelos económicos que sejam certeiros e exequíveis torna-se uma tarefa
extremamente difícil. Por isso, Richard Thaler dedicou-se nos últimos anos a
estudar de que forma é que é possível levar as pessoas a comportarem-se de
determinada maneira. É aquilo a que chamou, no seu livro escrito em conjunto
com Cass Sunstein, publicado em 2008, “Nudge”, uma espécie de “empurrão” que pode ser dado aos agentes
económicos quando se pretende, por exemplo, reduzir o consumo de um determinado
bem ou aumentar o nível da poupança. Este estímulo criado num ambiente próprio
leva as pessoas a tomar decisões racionais, mantendo sempre a liberdade
individual. Este ambiente que Thaler refere que altera o comportamento é a
grande diferença relativamente a outros investigadores na matéria acima
referenciados.
De
acordo com o premiado, as condições que alteram comportamentos podem ser
criadas através do que o próprio designa de “arquitetura da escolha em ação”. Por exemplo, as pessoas poderão adotar
um plano de poupança se esta for uma opção por defeito no recebimento do
salário, ou seja, o plano é iniciado automaticamente, com a opção de ser
cancelada pelo titular. Estudos comprovam que a maioria das pessoas sujeitas a
esta estratégia mantêm o plano. Por outro lado, se couber às pessoas iniciar o
plano, são poucas as que tomam a iniciativa.
A chave está em estabelecer uma estratégia de indução do comportamento,
fazendo crer que são as pessoas a escolher esse comportamento, sem
que haja qualquer obrigação.
É
compreensível que os comportamentos possam ser alterados, contudo ainda está
por comprovar se esses comportamentos perduram no tempo, o que pode causar
problemas na formulação de políticas económicas de longo prazo. Por outro lado,
este “empurrão” que Thalor defende poderá ter questões éticas profundas. Este
facto, por si só, pode alterar o comportamento das pessoas. Ou seja, o
comportamento adotado e tido como certo pode rapidamente alterar-se face às
circunstâncias entretanto surgidas.
A
área de estudo do comportamento humano já vem sendo amplamente estudada desde a
antiga Grécia e, pelos padrões atuais, desde meados do séc XIX. Apesar dos enormes
avanços no estudo da mente humana, há ainda divergências de opinião entre os
investigadores porque estudar o ser humano não é a mesma coisa que estudar no
contexto de uma outra ciência, por exemplo, a Química. É extremamente complexo,
são usados vários métodos de investigação e metodologias que dificultam a sua
comparação e generalização. Por outro lado, o homem é um ser gregário, que se
integra numa cultura e numa sociedade cujos padrões influenciam o seu
comportamento. Assim, percebe-se que, por um lado, o comportamento humano é
moldado pelas especificidades de cada um, bem como pelas suas experiências,
estrato social, cultura e sociedade onde
está inserido e, por outro, esta mutabilidade dificulta a investigação e o
conhecimento de padrões.
Na
área económica, não tem sido um caminho fácil para quem se dedica à investigação
da economia comportamental, pois o próprio Thaler foi em tempos rejeitado por
várias universidades para ocupar os cargos de investigador e de professor, pois
não achavam importantes as suas investigações.
Por
agora, sabemos que a Academia Real das Ciências da Suécia “validou” as
investigações de Thaler e, com isso, deu um “empurrãozinho” à economia
comportamental…Resta aguardar com expetativa o que o futuro reserva face a novos
desenvolvimentos. Não obstante, parece-me bem que a
Economia se torne mais “humana” e se empenhe em ajudar as pessoas a serem mais
felizes e a tomarem atitudes mais inteligentes nas suas decisões.
Aníbal José Baptista Peixoto
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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