Dá-se
o nome de economia paralela às atividades económicas (transações de bens e
serviços) que não são declaradas às autoridades fiscais. Muitas vezes,
associa-se economia paralela a atividades ilegais, porém são conhecidos
diversos casos de atividades legais não registadas oficialmente. Estas práticas
estão presentes em todas as comunidades, em especial em países em vias de
desenvolvimento.
Sendo
este um ato ilegal, torna-se humanamente impossível quantificar com exatidão
uma vez que não é observável. Assim, utilizam-se métodos como a generalização
dos resultados de observações no terreno, inquéritos, análise de variáveis como
a quantidade de moeda, produção de energia, quantidade de trabalhadores, e são adotando
métodos econométricos.
O
economista João Abel de Freitas escreveu, para o Jornal Económico (31/10/16), sobre este tema. O economista
considera que estes comportamentos desviantes, que têm como intuito a fuga aos
impostos ou a fuga às “grades”, traduzem uma maior sobrecarga dos contribuintes
que não querem ou não têm possibilidade de fugir. Estas atitudes, na opinião do
economista, criam um ambiente de “salve-se quem puder”, aprofundando o espírito
de transgressão no país.
Em
Portugal, esta prática tem vindo a aumentar desde 1970. Cálculos mostram que,
em 1970, o peso da economia paralela era 12,6% do PIB.
Relativamente
a 2011, o site Observatório de
Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF), que trata estes assuntos, publicou uma
tese de Mestrado, da autoria de Eduardo Barbosa, onde se afirma que: “se toda a
economia paralela portuguesa estivesse refletida nas contas nacionais, sendo
considerada no PIB e o Estado cobrasse o mesmo nível de impostos que cobra à
economia oficial, em vez de um défice de 4,2% do PIB e uma dívida de 107%,
teríamos um excedente orçamental de quase 1,2% e uma dívida pública de 82% do
PIB e as finanças públicas seriam das mais robustas da Europa”.
O
Jornal de Negócios publicou, apoiado
em dados recolhidos pelo OBEGEF que, em 2013, a economia não registada valia
26,81% da riqueza produzida no país, apresentando então um crescimento de 0,26%
face ao ano anterior (26,74%). O jornal avançou ainda que os valores alcançados
pela economia paralela (45 901 milhões de euros) equivalem a cerca de 26%
do PIB. Óscar Afonso, referiu-se a este valor como o correspondente a “seis orçamentos
do Ministério da Saúde e a 60% do valor que Portugal pediu emprestado à troika”.
Este montante poderia, ainda, eliminar em 2013, o défice de 4,85% no PIB do
Orçamento Geral do Estado.
Em
2016, também o Jornal de Negócios,
publicou os valores da economia não registada, divulgados pelo Observatório de
Economia e Gestão de Fraude. Em 2014 e 2015, os valores voltaram a aumentar,
ascendendo os 27,29% do PIB português, o que corresponde a aproximadamente 49
mil milhões de euros. Este valor, se devidamente declarado, seria tributado a
uma taxa de 20%, traduzindo-se em 9 800 milhões de euros em impostos. Segundo o
Jornal Expresso, este terá sido o ano
com a percentagem mais alta desde 2010.
A
tendência crescente deste fenómeno tem criado várias preocupações a nível
nacional. O professor Óscar Afonso sublinhou que, "mais do que os valores
concretos, o crucial a reter diz respeito à sua tendência crescente".
Entre
as consequências desde fenómeno é de salientar a distorção na concorrência
entre as empresas, aumento dos preços, redução das quantidades transacionadas,
redução das receitas fiscais, degradação das contas públicas e do investimento,
e a incerteza na estabilização da economia. Deste modo, os indicadores são
enviesados e conduzem a decisões políticas desajustadas e, com isso, efeitos
económicos não adequados.
A
economia paralela tem apresentado valores crescentes, sendo, na minha opinião,
preocupante pois, como verificamos anteriormente, o país poderia ser mais
próspero, mais produtivo e mais propenso a investimento. Com a sua abolição,
seriam recolhidos montantes de receita fiscal capazes de auxiliar na liquidação
da dívida e, posteriormente, possibilitar o alívio da carga fiscal dos
contribuintes.
Considero
que vivemos nesta realidade devido à falta de fiscalização e de severidade perante
estes casos, mas também devido aos fracos exemplos políticos e dos grandes
empresários. Estes provocam revolta e um sentimento de “menos culpa” por parte
dos mais desfavorecidos. No entanto, penso que tratar-se-á também de um
problema cultural. Assim, para reverter a tendência dever-se-á investir na
formação da população, e numa maior fiscalização.
Cláudia Dinis
Referências:
Carlos
Pimenta “Apontamentos sobre a economia paralela”. Revista APIT #01 (Out.2012);
Jornal
económico “ Economia Paralela”
Jornal
expresso “Economia paralela atingiu mais de 27% do PIB nacional em 2015 e
cresce desde 1970” (09/11/16);
Publico
“A economia paralela em Portugal” (03/05/15)
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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