quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Insustentabilidade da Segurança Social

Num contexto de abertura e convergência em relação às economias europeias, o atual Sistema de Segurança Social foi desenvolvido assumindo a existência de crescimento económico e de um aumento populacional ao longo dos anos.
Portugal não cumpre nenhum dos requisitos necessários para garantir a estabilidade do sistema. Com a crise instalada, a economia não apresenta um desempenho que se possa considerar positivo. De 2001 a 2014, a economia apresentou um crescimento médio nulo, o que, com o aumento dos gastos, levou a que o peso da despesa da Segurança Social sobre o PIB evoluísse dos 10,2% em 2001 para uns consideráveis 21,7% em 2014.
Por outro lado, a situação agrava-se ainda mais se considerarmos a demografia portuguesa. De acordo com um artigo noticiado no jornal Expresso no dia 29 de Março de 2017, dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que a população de Portugal poderá passar de 10,292 milhões de habitantes em 2017 para 7,748 milhões em 2080. Juntamente com esta forte contração do número de habitantes, verifica-se também um elevado envelhecimento da população.
A redução da população ativa irá necessariamente implicar uma diminuição das contribuições para a Segurança Social. A não ser que, com o desenvolvimento tecnológico, a produtividade por cada trabalhador aumente substancialmente, passará a ser cada vez mais difícil garantir as pensões das gerações de reformados que estarão a ser financiadas por um número cada vez mais reduzido de trabalhadores no ativo.
Perante esta situação, não é de admirar que este tema se tenha tornado num dos principais focos no debate da consolidação das finanças públicas. Numa recente entrevista para o Jornal Económico, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José António Vieira da Silva, falou sobre o futuro do sistema referindo-se ao Relatório de Sustentabilidade da Segurança Social. Este relatório simula a situação da Segurança Social nos próximos anos e estabelece prazos a partir dos quais se preveem desequilíbrios. Apesar de significar uma extensão em relação à anterior data, as simulações realizadas recentemente apontam para que ainda antes da década de 2030 possa existir uma situação de maior dificuldade. Na sua opinião, a melhoria da Segurança Social poderá ser alcançada se existisse uma recuperação na atividade produtiva e contributiva.
O que foi referido até agora permite ter uma ideia bastante clara sobre a insustentabilidade do sistema de providência da Segurança Social. Com o fim do período de eleições autárquicas, a discussão deste tema deve ser retomada de forma a pelo menos consciencializar as pessoas que novas alterações aos regimes de contribuição deverão ser necessariamente postas em prática. Num estudo realizado para o Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, para garantir o equilíbrio do sistema de pensões, estima-se que as contribuições (TSU) terão de aumentar de 34,75% do valor salarial para 46%, até 2060.
Este é um género de problema onde soluções evidentes não existem. Para além da tentativa de obtenção de um panorama político e económico estável, até agora nada tem sido feito a não ser adiar o inevitável. No caso das alterações demográficas, a solução poderá passar por uma melhoria significativa e consistente da atividade económica, tal como José António Vieira da Silva havia referido. Por outro lado, com uma melhoria da atividade e aumento de oportunidades de trabalho ir-se-á incentivar a imigração, o que melhoraria a capacidade contributiva.
Como tal não parece ser alcançável com o panorama atual, realizar uma revisão aos critérios atuais para atribuição de subsídios poderá levar a uma diminuição de ineficiências e de gastos e assim levar a uma melhor alocação de recursos. Para além disso, é importante referir que existem outras formas de financiar as necessidades de cada cidadão a partir do momento de aposentação. O método de capitalização financeira assume a acumulação de capital ao longo do período de atividade através do investimento financeiro. Adicionando o retorno das aplicações efetuadas às contribuições feitas por cada indivíduo é possível financiar as necessidades que surgem após o momento de aposentação e, assim, constitui um método alternativo ao da contribuição solidária para o pagamento das necessidades dos atuais pensionistas.

João Manuel Delgado Afonso

Referências e fontes estatísticas:
http://www.ugt.pt/segurancasocial.pdf

 [artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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