É
certo que a automatização dos processos e a reengenharia irão destruir de forma
brutal milhares de empregos, sendo até aclamado o regresso de uma revolução
industrial, a quarta na história mundial. No futuro, será possível que mais de
metade dos empregos disponíveis atualmente já não existam, isto é, a existência
de desemprego elevado e subemprego poderão vir a ser realidades futuras. E é
com base nestas perspetivas que a ideia de um Rendimento Básico Incondicional
(RBI), já experienciado nas décadas de 60 e 70, tem vindo a ganhar grande
espaço nos debates políticos e económicos na Europa.
O
Rendimento Básico Incondicional trata-se de um rendimento universal e
incondicional, tal como o próprio nome indica, que visa colmatar as
desigualdades sociais existentes e permitir que se viva acima do limiar da
pobreza. Isto implica que todo o cidadão teria direito a um rendimento simplesmente
pelo facto de existir, independentemente da sua posição no mercado de trabalho
(empregado, desempregado, reformado, etc.). Este modelo tem vindo a ser base de
experiências piloto na Finlândia e na Holanda, e também no Brasil e no Canadá,
estando previsto estender-se à Escócia e à Espanha.
Muitos
são céticos sobre este assunto, uns porque não acreditam na sustentabilidade
desta medida e outros porque acreditam que esta leva à preguiça do desempregado
na procura por trabalho e ao ócio, juntando-se a isso a preocupação também os
sindicatos que receiam perder o seu poder de negociação com o Governo e as
empresas quando esta medida existir. No entanto, se compararmos o RBI a um
rendimento parecido existente em Portugal, o Rendimento Social de Inserção
(RSI), o RBI apresenta vantagem, permitindo que seja dado a todos por igual.
Além disso, este rendimento poderia tornar-se numa espécie de “subsídio ao
consumo” por parte daqueles que foram excluídos do seu papel como produtores
aquando da inclusão da máquina.
De
facto, se todo o cidadão receber um determinado rendimento de forma garantida, é
possível que sejam recusados empregos precários, mal pagos e, num caso extremo,
a recusa da exploração, tornando-se assim num bom instrumento de combate à
pobreza. Esta medida permitiria o dito “trabalho por gosto e capacidades” e,
consequentemente, um aumento da produtividade. Isto é, se for atribuído um
rendimento a todos os cidadãos, os trabalhadores insatisfeitos com a sua
posição no mercado irão procurar uma melhor, não se preocupando com a questão
financeira, o que levaria a uma melhor alocação dos recursos, neste caso, em
particular, do capital humano.
Na
minha perceção, a conceção de que o RBI é um incentivo à preguiça e ao
desemprego talvez seja fruto de um preconceito cultural e social, pois acredito
que apenas uma pequena percentagem de todas as pessoas detentoras do RBI optaria
por se desempregar, uma vez que o trabalho continua a ser uma das formas mais
eficazes de inserção social. Além disso, nenhuma democracia resistiria sem uma
sociedade que se rege pelo princípio base de que todos contribuímos e recebemos
de acordo com as nossas possibilidades e necessidades, corroborando a hipótese
que o RBI não será um incentivo à preguiça ou o principal fator de desemprego.
Marisa Liliana Araújo Bertoluci
Brito
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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