No passado dia 1 de outubro,
realizaram-se as eleições autárquicas em Portugal. De todos os candidatos
vencedores, destaca-se um candidato, no mínimo caricato, de nome Isaltino
Morais.
Nascido a 1949 em
Mirandela, Isaltino licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa em
1981, e teve um vasto percurso a nível empresarial e político. Foi eleito
Presidente da Câmara de Oeiras em 1985, tendo sido depois reeleito nos mandatos
de 1989 a 2001, pelo PSD. Em 2005, desmembrou-se deste partido, tendo vencido
as eleições desse ano como candidato independente, repetindo-o em 2009. Chegou
ainda a Ministro das Cidades, Ordenamento e Ambiente, em 2002.
No entanto, este percurso
não se revelou linear. Quando em 2003 se viu obrigado a abandonar o ministério
que tinha a seu cargo, por suspeitas de que detinha contas bancárias não
declaradas na Suíça e na Bélgica, deu-se então uma investigação levada a cabo
pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal, processo que só findou
em abril de 2013 Nessa altura, foi condenado por crimes de fraude, abuso de
poder, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito. O
tribunal considerou então que o autarca utilizou os cargos políticos exercidos
para auferir benefícios económicos entre 1990 e 2003. Cumpriu uma pena de
prisão de 14 meses, saindo em liberdade em junho de 2014.
Em 2017, candidata-se à
presidência do seu município, Oeiras, tendo vencido com maioria absoluta, o que
me leva à presente reflexão. Que razões ou caraterísticas Isaltino tem que
pesem mais que os crimes cometidos pelo mesmo?
Enquanto exerceu as
funções acima, revelou-se um bom presidente e contribuiu em grande escala para
o crescimento do município que representou, o que fez com que a população tenha
ganho apreço por ele. Tal como o próprio afirmou, “o poder não é a cadeira mas
a capacidade para ouvir as pessoas”. Isaltino mostrou-se assim um presidente
recetivo e acessível, disposto a lutar sempre pelos interesses dos “oeirenses”,
pelo menos de forma aparente.
A meu ver, terá sido esta
a razão principal que o levou ao poder outra vez. Para mim, fica provado que a
população possui memória curta, ou então acredita em segundas oportunidades. É
verdade que é apenas e só ao sistema judicial que compete julgar. A partir do
cumprimento da pena, é razoável a reintegração dos condenados na sociedade. Fica
então provado que a sociedade acredita nisto. Não só permite, mas promove-o,
encerrando assim este degradante capítulo a que Isaltino esteve associado,
levando-o a presidente de novo.
Outra questão se levanta:
até que ponto é permitida a candidatura a cargos políticos de um indivíduo com
registo criminal associado às próprias funções a que se candidata? Não levará tal
à penúria o nosso sistema político? Frequentemente, ouço política e corrupção
serem associados de uma forma muito complementar. Não será este um fator que
promove a descredibilização da política no nosso país? Na Catalunha, prende-se
quem quer votar. Em Portugal, vota-se em quem já esteve preso.
Ana Isabel Fernandes Oliveira
Referências bibliográficas:
[artigo de opinião produzido no âmbito da
unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de
Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário