quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Salário exageradamente reduzido ou exageradamente elevado?

         No mês passado, dois partidos políticos discutiram as diferenças salariais entre gestores e trabalhadores, o que levou também à atenção de alguns jornais nacionais. Não só existem diferenças salariais entre gestores e trabalhadores como entre género nos cargos mais elevados, assim como a dificuldade de progressão na carreira para as mulheres.
O caso mais mediático de diferença entre gestor e trabalhadores é o do CEO da EDP, em que o salário que António Mexia recebe é quase 40 vezes mais que o salário médio dos trabalhadores. Ainda assim, Mexia está longe de liderar o ranking da disparidade salarial entre gestor e trabalhadores. A maior disparidade acontece no grupo Jerónimo Martins, onde Pedro Soares dos Santos auferiu uma remuneração acima dos dois milhões de euros em 2017, ganhando 160 vezes mais do que a remuneração média atribuída aos trabalhadores. O salário de Pedro Soares dos Santos equivaleu a quase 260 salários mínimos nacionais. O setor do retalho é o que apresenta maior disparidade. Além de Pedro Soares dos Santos, em 2017, o CEO da SONAE, Paulo Azevedo recebeu quase 40 vezes mais que a remuneração média atribuída aos trabalhadores.
         Segundo uma análise da Bloomberg, em média o CEO americano ganhava, em 2017, cerca de 265 vezes mais que os trabalhadores. É um rácio superior àqueles que se verificam, por exemplo, na Índia (229) ou Reino Unido (201). Espanha (143), Alemanha (136) e China (127) fecham o ranking dos 10 países com maiores disparidades, de acordo com a análise da Bloomberg, com base nos principais índices bolsistas em 22 países. Em Portugal, um gestor do PSI-20 ganha, em média, 23 vezes mais que os trabalhadores.
         As mulheres representam cerca de metade da força de trabalho da União Europeia, mas continuam a ter pouca expressão em cargos de topo. Segundo estatísticas do Eurostat, citadas pelo Dinheiro Vivo, do total de 7,3 milhões de gestores na UE, 4,7 milhões são homens e os restantes 2,6 milhões são mulheres. Ou seja, apenas um terço do total dos cargos são ocupados por mulheres. A divergência também acontece em relação aos salários, sendo que, nas posições de topo, a diferença é de 23,4%, favorável ao sexo masculino. Mas há exceções: a Letónia é o único país da UE onde as mulheres ocupam mais cargos de chefia do que os homens. Em Portugal, o rácio é de 3,3 mulheres por cada dez cargos de gestão. A média está abaixo dos 35% registados no total da UE.
         No final do mês passado, foi discutido na Assembleia da República a disparidade entre gestor e trabalhador e o Bloco de Esquerda apresentou um projeto de lei que impunha um diferencial máximo entre a remuneração mais elevada e a mais baixa das empresas. O Partido Socialista não apoiou a proposta, apesar de também já ter apresentado uma proposta que tinha por base o aumento da TSU ou impedimento de subsídios à criação de emprego.  A proposta do PS de aumentar a TSU para travar as disparidades salariais recebeu várias críticas por parte dos empresários nacionais. Estes dizem que a medida em nada resolve as diferenças salariais e relembram que as remunerações nas empresas privadas não são responsabilidade dos partidos políticos. Apesar de os empresários reconhecerem que há casos gritantes de disparidades, a maioria diz que isso são situações pontuais e que essas diferenças são pouco acentuadas na maioria das empresas nacionais.
         Na minha opinião, não é comparável o trabalho prestado por um gestor e um trabalhador, por diversos motivos. No caso da diferença de género, é mais facilmente comparável, mas pode existir uma mulher com melhor desempenho que um homem ou o contrário. Penso que o sexo de uma pessoa não deve definir o seu salário mas sim o trabalho que presta à entidade. Para já, o PS considera muito cedo para legislar sobre as disparidades salariais e, na minha opinião, apesar do Estado ter um papel regulador, não deve legislar nesta matéria pois apenas iria criar ambiguidade porque, se as empresas querem pagar esses salários aos seus gestores, iriam criar mecanismos de os compensar de outra forma. Mas também concordo que se chame a atenção para estes assuntos e que sejam discutidos de forma a perceber se o trabalho desses gestores vale realmente esse salário e, caso não valha, os acionistas devem tomar uma atitude.

Adriana Catarina Rebelo Serra

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

terça-feira, 30 de outubro de 2018

BULL MARKET… até quando?

Todos  os  que  demonstram  um  interesse  mínimo  pela  atividade  económica  nacional  e  internacional  sabem  o  que  é  um  bull  market.  Trata-se,  nada  mais,  nada  menos,  do  que uma  expressão  utilizada  para  designar  um  mercado  financeiro  que  apresente  uma  tendência  de  valorização  das  cotações  da  generalidade  dos  ativos  nele  transacionados. Da  mesma  forma,  pode  ser  utilizada  a  expressão  Bullish  para  designar  essa  mesma  tendência.  A  utilização  da  palavra  Bull  (Touro)  deve-se  ao  facto  de  este  animal  fazer  a  sua  investida  de  baixo  para  cima.
O  índice  norte-americano  S&P  500,  há  cerca  de  dois  meses  atrás  alcançou  o  “bull  market”  mais  longo  da  história  (à  boleia  do  crescimento  económico  nos  EUA  e  dos  fortes  resultados  das  empresas).  É  chamado  "bull  market"  porque  é  o  período  mais  longo  de  ganhos  de  sempre  sem  uma  correcção  de  20%  (a  partir  de  20%  passamos  de  bull  para  bear  market).
Embora  seja  o  mais  longo  bull  market,  não  é  o  maior.  Foi  em  Março  de  2000  que  o maior  índice  mundial,  o  S&P500,  avançou  417%  ao  longo  de  3.452  dias,  muito   distante  da  atual  subida  de  330%  desde  2009.
Apesar  de  em  agosto/setembro  ter  sido  atingida  uma  marca  histórica,  segundo  dados  mais  recentes,  parece  que  a  boa  forma  dos  mercados  se  está  a  ressentir.  Na  última  sexta-feira  (26/10/18),  verificou-se  que  o  S&P500  caiu  mais  de  10%  desde  o  máximo  e  já  está  em  correção.  Ainda  assim,  este  índice  continua  com  saldo  positivo  desde  o  início  do  ano  (+1,19%).
Segundo  o  jornal  Negócios,  “as  quedas  têm  ainda  de  se acentuar  para  que  acabe  o  bull  market  que  reina  há  nove  anos”,  mas  sem  dúvida  alguma  que  os  investidores  já  começam  a  querer  ficar  com  um  pé  atrás.
Passando  agora  para  a  realidade  do  nosso  país,  a  bolsa  portuguesa  viveu  mais  uma  semana  de  quedas  (22/10  a  26/10).  Depois  de  várias  ameaças,  o  PSI  “parece  ter  quebrado  o  decisivo  suporte  na  zona  dos  5.000  pontos,  matando  a  última  esperança  dos  touros  que  se  agarravam  a  esse  suporte  como  boia  de  salvação  para  manterem  vivo  o  sonho  do  "bull  market"”.
Ulisses  Pereira,  do  Negócios,  opina  que  “os  touros  estão    com  as  duas  patas  fora  do  mercado,  agarrando-se  apenas  pelos  cornos”.
Sinceramente,  esta  afirmação  é  algo  que  me  preocupa,  isto  porque  o  comportamento  dos  mercados  está  intimamente  relacionado  com  o  estado  da  economia  e  quando  algo  não  está  bem  ou  quando  as  perspetivas  não  são  as  melhores,  os  mercados  são  os  primeiros  a  ressentir-se.
Em  Wall  Street  existe  uma  expressão  peculiar  sobre  este  tópico  e  é  a  seguinte:  “Bull  markets  don´t  die  of  old  age”,  ou  seja,  um  bull  market  não  morre  de  velhice.  Sugerindo  que,  para  que  um  bull  market  termine,  algo  tem  de  acontecer.
Quando  uma  economia  se  retrai,  os  lucros  das  empresas  seguem  a  tendência  e  com  isto  descem  também,  consequentemente,  os  preços  das  ações.
É  isto  sinónimo  de  que  estamos  a  caminhar  para  uma  recessão ?
Para  responder  a  esta  questão,  os  economistas  estão  a  analisar  as  “yield  curves”.  A  yield  curve  representa  o  spread  entre  taxas  de  juro  de  obrigações  do  tesouro  a  curto  e  a  longo-prazo,  e  o  que  se  verifica  é  que  esta  curva  está  a  abrandar.  Se  a  yield  curve   se inverter,  ou  seja,  as  taxas  de  juro  de  curto-prazo  ultrapassarem  as  taxas  de  longo-prazo,  é  um   sinal  de  preocupação  (a  história  diz-nos  que  sempre  que  a  yield  curve  se inverte  é  muito  provável  a  ocorrência  de  uma  crise  [neste  caso  nos  EUA]).
Outro  “bull  market  killer”  são  as  taxas  de  juro  faltantes  (“missplaying  interest  rates”).  A Reserva  Federal  Americana  (FED)  tem  vindo  a  aumentar  as  taxas  de  juro  desde  o  final  do  ano  de  2015  e  alguns  economistas  defendem  que  se  a  FED  for  demasiado  agressiva  com  as  taxas  de  juro,  podemos  estar  perante  o  assassínio  do  bull  market.
Não  podemos  descartar  obviamente  o  fenómeno  “cisne  negro”,  ou  seja,  eventos  que  não  conseguimos  planear,  choques  que  podem  fulminar  o  preço  das  ações  e  terminar  com  o  bull  market,  acontecimentos  como  ataques  terroristas  ou  a  falência  do  Lehman  Brothers.
Eu  não  sei  se  o  bull  market  vai  acabar  amanhã,  daqui  a  um  mês,  daqui  a  um  ou  vários  anos.  O  que  sei  é que  um  bull  market  é  sinónimo  de  saúde  económica  e  por  essa  razão  espero  que  se  prolongue  durante  muito  tempo.  Com  todos  estes  sintomas  já revelados  e  os  alertas  que  mencionei  anteriormente,  espero sinceramente  que  quer  os  nossos  decisores  políticos/económicos quer  os  decisores  das  maiores  economias  mundiais  tomem  medidas  para  que  possamos  desfrutar  deste  momento  favorável  dos  mercados  durante  mais  algum  tempo,  isto  porque,  um  mercado  em  crescimento  é sinónimo  de  economia  em  crescimento.
Tal  como  no  último  relatório  que  redigi,  onde  mencionei  medidas  para  a  contenção  da  euforia  em relação  ao  setor  imobiliário  para  que  o  bom  momento  que  estamos  a  viver  se  possa  prolongar,  concluo  este  relatório  da  mesma  forma,  apelando  ao  bom  senso  e  a  boas  decisões  (com  o  longo-prazo  em  mente)  para  que  este  bull  market  possa  ser  o  primeiro  a  morrer  de  velhice !   

MIGUEL ÂNGELO MARQUES FERNANDES

Webgrafia:   ECO.PT / JORNAL DE NEGÓCIOS / CNN / INVESTOPEDIA / THE TELEGRAPH







[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Depois do BREXIT, vem o ITALEXIT??

Na semana em que os países entregaram as propostas de Orçamento de Estado para 2019 à Comissão Europeia, esta tomou uma decisão inédita ao rejeitar pela primeira vez uma proposta orçamental, neste caso a de Itália. Foi em 2013, devido à crise das dívidas soberanas, que o órgão executivo da UE ganhou o direito de exigir a um estado membro da zona Euro a reformulação do orçamento. O Pacto de Estabilidade e Crescimento exige certos requisitos, por exemplo, o défice estrutural não deve superar 0,5% do PIB e 1% do PIB nos países com uma dívida até 60% do PIB e o défice deve estar abaixo dos 3% do PIB. 
O que levou a CE a chumbar a proposta de Itália, uma economia muito industrializada e um dos principais motores da Europa? A coligação antissistema italiana planeou um orçamento expansionista, que assenta num plano de investimentos públicos em infraestruturas e no consumo interno, e que cuja intenção é apoiar as classes mais desfavorecidas, alocando, assim, 37 mil milhões de euros para despesas extras e uma redução de impostos. Este orçamento conta com um défice de 2,4%, que contrasta com os 0,8% prometidos pelo anterior executivo, contudo, são outros três indicadores económicos que suscitam mais apreensão em Bruxelas: o défice estrutural, o rácio da dívida pública e o crescimento económico.
O governo eurocético sublinha ser necessária uma expansão económica, de forma a promover um aumento no crescimento económico (1,5% em 2019), e consequentemente diminuir a dívida pública (de 130,9% para 130% em 2019). Apesar de se antecipar um agravamento no curto prazo do défice estrutural, em 2019 e 2020 prevê-se uma melhoria e, além disso, as medidas que propiciam o crescimento vão compensar a deterioração do saldo estrutural, resultando na descida do endividamento público.
O braço de ferro entre Bruxelas e Roma já está a provocar efeitos. Os investidores estão a desfazer-se de ativos italianos, os juros da dívida subiram vertiginosamente, aproximando-se dos da Grécia, e as principais bolsas estão a cair, prejudicando principalmente as ações das empresas cotadas. Se as vendas em torno dos ativos italianos persistirem, então, há um potencial contágio na zona euro porque há ainda bastante dívida italiana nas mãos de bancos estrangeiros. Segundo os dados do Banco de Portugal, Itália é o país estrangeiro a que os bancos portugueses estão mais expostos em termos de dívida pública (cerca de 1,6% do ativo total da banca).
Itália é uma economia muito sólida, a terceira economia do euro e uma das maiores do mundo, mas a sua dívida é a segunda mais alta da Europa. Se acontecesse uma insolvência num país com esta dimensão, os efeitos seriam avassaladores porque, apesar da estagnação da economia se manter há quase duas décadas, Itália é um enorme mercado de capitais, com muita da sua dívida nas mãos da banca. Por tudo isto, Itália não é um país que possa ser resgatado como foram Portugal, a Grécia ou a Irlanda, é virtualmente impossível. Por exemplo, um resgate italiano a três anos, na linha do que Portugal teve, poderia custar cerca de um bilião de euros, e o mais assustador é que não se sabe onde a Europa iria buscar essa quantia, mesmo com o auxílio do FMI.
A meu ver, se existem regras impostas de igual forma a todos os países, estes devem cumpri-las de modo a preservar a paz e integridade da zona euro. A Comissão tem o dever de proteger o interesse coletivo de todos os membros, não devendo abrir exceções pois é um caminho sem volta. Neste caso em especial, porque o governo italiano estava consciente que as metas propostas representavam um desvio evidente do PEC, “só” não se esforçou em respeitá-las por motivos políticos, para ganhar popularidade junto dos eleitores e contrariar a União Europeia. Esta situação acordou o fantasma da saída de um país do euro ou da UE, numa altura que se avizinha a saída caótica do Reino Unido. É inegável que se necessita da Itália, mas esta está ainda mais dependente e a carecer de ajuda, porque além de ter uma dívida pública monumental e precisar de recorrer a crédito externo para financiar o serviço dessa dívida (juros e amortizações) durante muitos anos, uma saída do euro ou da UE levaria à miséria milhões de italianos e de empresas.
No meu ponto de vista, o maior medo de Itália é continuar com a economia estagnada, daí o governo ter apostado em défices altos para promover o crescimento económico, mas, pela lógica, esta estratégia pode ter o efeito oposto, porque um défice orçamental elevado não traz crescimento e uma dívida pública excessiva torna a economia mais vulnerável a futuras crises. Além disso, se Portugal demonstrou a tudo e todos que é possível virar a página da austeridade e cumprir as regras de forma a participar ativamente na Zona Euro, Itália deveria respeitá-las e chegar a acordo o quanto antes com a CE.

Jéssica Eiriz

[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Novo aeroporto?

É notório que, nos últimos anos, Portugal se tem tornado num destino turístico de eleição, o que, aliado a um aumento da oferta das companhias low cost, faz com que cheguem cada vez mais passageiros aos nossos aeroportos. Dados revelam que, no ano passado, o número de passageiros nos aeroportos portugueses chegou aos 52,8 milhões, representando uma subida de 16,4% relativamente ao ano anterior, permitindo-nos ultrapassar, pela primeira vez, o patamar dos 50 milhões. O aeroporto que registou a maior subida foi o de Lisboa, com um aumento de 18,8% e um número total de passageiros de 26,7 milhões.
A verdade é que, desde há muitos anos, que o esgotamento do Aeroporto Humberto Delgado tem sido alvo de muitas discussões. Apesar de na última década a capacidade do mesmo ter sido aumentada por via de novas obras e reformulação de operações, sempre se soube que, esta, era apenas uma medida de desenrasque até se alinhar uma solução aeroportuária definitiva. A meu ver, é preciso dar uma resposta a esta procura crescente ou então continuar a perder passageiros.
 Uma das soluções apontadas é a base militar do Montijo que, segundo, o Ministério do Planeamento e Infraestruturas, proporciona várias vantagens, como  a utilização simultânea com a pista principal da Portela, que permite duplicar a capacidade atual para 72 movimentos por hora e 50 milhões de passageiros, utilização civil simultânea ao uso militar, custo e investimento menor pois a infraestrutura primordial já existe, obtendo-se assim uma execução mais rápida. Também se concluiu que o uso desta base pela aviação civil consegue suportar o fluxo de passageiros até 2050, sendo a ela associados voos low cost e serviços de médio curso.
 Mas essa região do Montijo está relacionada com a zona de proteção do estuário do Tejo, que é ponto de passagem na migração de mais de 100 mil aves aquáticas, e o grande aumento do tráfego aéreo pode ter impactos relevantes na avifauna devido ao sobrevoo dessa reserva natural. Isto, já para não falar que o cruzamento das rotas migratórias pode ser um perigo para a aviação pois há um aumento da probabilidade de colisão com as aves. A ruína dos habitats e ruído para a população são outras consequências negativas levantadas. Houve inclusive várias manifestações devido à aproximação das descolagens das aeronaves a zonas habitacionais.
Durante a sessão de abertura da IV Cimeira do Turismo, António Costa afirmou que a decisão de auxiliar o aeroporto de Lisboa com um no Montijo estava pendente do fim das negociações com a administração da ANA- Aeroportos e Navegação Aérea, e seria uma decisão “irreversível” depois dos resultados dos estudos de impacto ambiental.
Só que, segundo aquilo que tem circulado nos canais de comunicação, o primeiro estudo de impacto ambiental realizado pela ANA, em junho, estava em desconformidade, não apresentando a qualidade e informação necessárias. Supostamente, não media o impacto do movimento dos aviões sobre as aves, mas sim o contrário. Sofria, ainda, de falta de elementos que poderiam alterar o resultado desse estudo, sobretudo os efeitos da pista no rio, e não foi dada a devida importância ao ruído. Assim, a Comissão de Avaliação exigiu um estudo mais rigoroso e aprofundado. E, agora? Bom, tudo indica que estamos num impasse. A revisão ainda não foi entreque, logo, temos de esperar.
 Dada a sua proximidade ao aeroporto de Lisboa, o Montijo parece ser a melhor opção em termos de competitividade, mas a ser comprovado o seu efeito nocivo a nível ambiental, penso que devemos considerar outras alternativas. E então pergunto: porquê não explorar mais o aeroporto de Beja, que custou 33 milhões e está praticamente inutilizado? Se o problema é a distância e acessibilidade, pois vamos modernizar os recursos ferroviários e rodoviários! Beja pode ser a ponte perfeita entre a capital e o Algarve, cujo aeroporto também poderá vir a esgotar. Deixemos de procurar soluções quando o que falta é dinamizar aquelas que já existem!

Raquel Maria Bernardo Lourenço 

[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]

No passado conquistámos o mar, e no futuro…conquistaremos o Espaço?

A descoberta do Universo foi sempre um dos maiores objetivos do Ser Humano. Na atualidade, assistimos a uma cooperação internacional entre várias agências (Agência Espacial Europeia-ESA, NASA…) que, juntas, pretendem continuar a conquista do Espaço. Os avanços nos planos científico-tecnológicos são notórios e a nível económico começa a assistir-se à intensificação de uma nova indústria.
Portugal aderiu à ESA no ano de 2000 e já é considerado um caso de sucesso pela sua rápida adaptação e integração nos programas espaciais desenvolvidos. A ambição portuguesa relativamente a estes projetos tem vindo a acentuar-se, pela mais-valia que esta indústria poderá representar futuramente nas sociedades desenvolvidas. Um estudo da Fundação para a Ciência e Tecnologia revelou que o investimento neste setor teve, na última década, um retorno económico superior a 120%, ou seja, por cada euro investido nos programas espaciais da ESA foram devolvidos, à economia nacional, mais de dois euros. Segundo dados do INE, em 2017, as exportações de produtos de alta tecnologia atingiram 2 502 milhões de euros, representando 4,5% das exportações totais. Deste montante, 8% foram relativos à indústria aeroespacial e prevê-se uma trajetória de crescimento.
Portugal poderá assumir um papel importante no setor do New Space, com a instalação de um centro de lançamento de satélites nos Açores. Devido à sua localização atlântica, perfeitamente situado entre a Europa e o continente americano, este arquipélago está na posição ideal para a construção de uma infraestrutura espacial onde poderão ser lançados, observados e monitorizados satélites.
Neste sentido, foi aprovado no passado mês de fevereiro o relatório “Estratégia Portugal Espaço 2030”. Este documento, em colaboração com a ESA e a Comissão Europeia, assenta em 3 eixos estratégicos: a exploração de dados espaciais promovendo novos mercados; o desenvolvimento e construção de infraestruturas espaciais, com especial foco nos mini, micro e nano satélites; e o incentivo à investigação e inovação tecnológica.
Sendo certo que os Açores se situam na posição geoestratégica perfeita para este porto espacial, a questão que se coloca é se fazemos os esforços necessários para serem as empresas nacionais a construí-lo, ou simplesmente deixamos ao encargo de entidades estrangeiras. Perante isto, considero que o governo está a tomar a decisão certa ao assumir esta responsabilidade. 
Segundo o ministro da ciência, tecnologia e ensino superior, Manuel Heitor, é necessário desenvolver a capacidade científica para garantir a criação e sustentação dessa infraestrutura, contribuindo para a melhoria do tecido empresarial português e o desenvolvimento da região. Por isso, é essencial atrair investimento direto estrangeiro, o que não será difícil pois estamos perante um projeto bastante aliciante e promissor. 
Esta área de negócios tem a vantagem de permitir que uma grande diversidade de empresas e centros de investigação trabalhem em conjunto, podendo obter resultados muito positivos para a nossa economia.  Nesta vertente, Portugal parece estar à altura do desafio pois já existem várias empresas ligadas a este setor e que têm obtido reconhecimento internacional. Gostaria de dar o exemplo de algumas empresas nacionais que têm alcançado excelentes resultados.
A Efacec, criada no início do século passado, tem vindo a adaptar-se às necessidades do mercado e, muito recentemente, colaborou com a ESA na produção de uma sonda, completamente Made in Portugal, que servirá para estudar o planeta Mercúrio. Esta empresa apresentou um lucro de 7,5 milhões em 2017, emprega 2000 pessoas e tem o objetivo de recrutar mais 700 até 2020.
A Deimos Engenharia, empresa com sede em Lisboa, tem-se tornado uma referência no setor espacial europeu, tendo já liderado vários projetos na área de aplicações no Espaço, com o apoio da ESA. Já fatura mais de 4 milhões por ano e refere que o seu maior desafio é encontrar as pessoas qualificadas para esta área.
A Critical Software, empresa fundada em Coimbra, emprega mais de 600 pessoas, e já elaborou projetos para a NASA. Está atualmente a desenvolver o software que controlará a missão europeia a Marte.  Esta empresa espera faturar, este ano, cerca de 45 milhões de euros em todos os seus setores, sendo que 3 milhões são diretamente ligados à área espacial.
A Active Space Technologies, também sedeada em Coimbra, é uma das mais importantes empresas nacionais na área do New Space. São um dos parceiros do projeto “Infante”, o primeiro satélite 100% português, que fará a monitorização dos oceanos e da Terra, e que terá a nanotecnologia desenvolvida pela INL, situado em Braga.
Esta é nitidamente uma indústria com grande margem de progressão no nosso país e que considero ter um grande potencial económico de crescimento. Será, por isso, indispensável investir na formação para o Espaço, estimulando as gerações futuras a interessarem-se por esta área, de modo a criarmos uma população qualificada e preparada para o desenvolvimento neste setor. Assim, também evitaremos a emigração de quadros altamente qualificados que se formam nas nossas universidades, levando-os a fixarem-se e a desenvolver os seus projetos no nosso país.

Ana Isabel Rodrigues Ferreira
Referências bibliográficas:
Instituto Nacional de Estatística

[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]

O “bom comportamento” do Desemprego

Segundo o Boletim Mensal de Estatística (INE) de agosto de 2018, os desempregados dividem-se em dois grupos: os que procuram o 1º emprego e aqueles que procuram novo emprego. Os primeiros totalizavam 42200 indivíduos enquanto os segundos representavam 309600 (valores do 2º trimestre de 2018). Comparando com o mesmo período de 2017, verifica-se uma descida em ambos os valores. Quanto à duração da procura de emprego, a maioria apresenta períodos inferiores a 12 meses (168000 indivíduos), no entanto há ainda uma fatia considerável cujo tempo de espera ultrapassa os 36 meses (96400 indivíduos), sendo assim algo preocupante. Relativamente ao setor da última atividade dos desempregados, a indústria, construção, energia e água aparecem com 83900 pessoas, enquanto que os serviços representam a maioria, totalizando 190400 indivíduos.
No que se refere à discriminação por sexo do indivíduo, constata-se que a taxa de desemprego nas mulheres é sempre superior à dos homens, onde até a taxa total raramente ultrapassa o valor do sexo feminino. Relativamente ao ano de 2017, os valores da taxa de desemprego eram de 8,4% nos homens, 9,4% nas mulheres e 8,9% no total de indivíduos.
Portugal tem registado valores bastante satisfatórios relativamente ao desemprego, que apresenta uma tendência decrescente nos últimos anos. Em julho deste ano, a taxa estabilizou nos 6,8% (mesmo valor de junho de 2018 e -2,1 p.p. relativamente a julho de 2017), correspondendo ao nível mais reduzido desde setembro de 2002. Portugal registou assim a terceira maior descida da União Europeia (UE) e, segundo o Eurostat, apenas a Grécia e o Chipre registaram descidas mais acentuadas. As menores taxas de desemprego observaram-se na República Checa (2,3%), Alemanha (3,4%) e Polónia (3,5%) e as mais elevadas na Grécia (19,5%, em maio) e em Espanha (15,1%).
Em agosto, Portugal manteve a meta dos dois meses antecedentes (6,8%), que se localizou, inclusive, abaixo da média da zona euro, onde se registou uma taxa de 8,1% (-0,9% p.p. relativamente a agosto de 2017). O país acompanhou ainda os 6,8% da UE, registando a quarta maior descida homóloga (-2 p.p.). Chipre, Croácia e Grécia juntam-se a Portugal neste top 4. Com taxas de desemprego mais baixas encontramos novamente a República Checa, Alemanha e Polónia, e com taxas mais elevadas a Grécia e a Espanha.
Os dados do Eurostat, ajustados de sazonalidade, indicam ainda que em agosto de 2018 a taxa de desemprego jovem (menores de 25 anos) foi estimada em 19,5% (-0,2 p.p. em relação a julho 2018), reduzindo-se em termos homólogos 5,2 p.p., a segunda maior descida da UE. Apenas a Letónia apresentou melhores resultados (-7 p.p.), assentando nos 8,4% (agosto 2018), valores abaixo dos portugueses, que detêm, ainda assim, uma das taxas mais altas da UE. A mesma fonte revelou recentemente um facto interessante: em cinco Estados membros da UE — Itália, Chipre, Reino Unido, Irlanda e Portugal — a taxa de desemprego nas cidades entre as pessoas nascidas noutros Estados membros foi inferior à referente a pessoas nascidas nos países reportados.
O comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, destacou, em setembro de 2018, a “melhoria espetacular” do desemprego em Portugal, que se estabeleceu abaixo dos níveis da Zona Euro. Moscovici comentou que “as coisas vão no caminho certo, ainda que sejam necessárias algumas reformas, mas que estão programadas”. Na minha opinião, o comissário deixou importantes conselhos ao país, considerando que o Governo deve focar-se em “melhorar os níveis de qualificações” dos portugueses “e tornar o mercado de trabalho mais inclusivo”. Jeffrey Franks, diretor regional do FMI para a UE, também teceu indicações sobre a economia portuguesa, referindo que o país deve “aumentar a produtividade” com reformas estruturais que promovam o desenvolvimento da investigação, educação e investimento. Para Jeffrey, que recordou que Portugal em 2017, ao crescer 2,7%, acima da média da Zona Euro (2,3%), dava indicações fundamentais para garantir uma convergência “sustentável no futuro”.

Marta Oliveiros

[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]