segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Novo aeroporto?

É notório que, nos últimos anos, Portugal se tem tornado num destino turístico de eleição, o que, aliado a um aumento da oferta das companhias low cost, faz com que cheguem cada vez mais passageiros aos nossos aeroportos. Dados revelam que, no ano passado, o número de passageiros nos aeroportos portugueses chegou aos 52,8 milhões, representando uma subida de 16,4% relativamente ao ano anterior, permitindo-nos ultrapassar, pela primeira vez, o patamar dos 50 milhões. O aeroporto que registou a maior subida foi o de Lisboa, com um aumento de 18,8% e um número total de passageiros de 26,7 milhões.
A verdade é que, desde há muitos anos, que o esgotamento do Aeroporto Humberto Delgado tem sido alvo de muitas discussões. Apesar de na última década a capacidade do mesmo ter sido aumentada por via de novas obras e reformulação de operações, sempre se soube que, esta, era apenas uma medida de desenrasque até se alinhar uma solução aeroportuária definitiva. A meu ver, é preciso dar uma resposta a esta procura crescente ou então continuar a perder passageiros.
 Uma das soluções apontadas é a base militar do Montijo que, segundo, o Ministério do Planeamento e Infraestruturas, proporciona várias vantagens, como  a utilização simultânea com a pista principal da Portela, que permite duplicar a capacidade atual para 72 movimentos por hora e 50 milhões de passageiros, utilização civil simultânea ao uso militar, custo e investimento menor pois a infraestrutura primordial já existe, obtendo-se assim uma execução mais rápida. Também se concluiu que o uso desta base pela aviação civil consegue suportar o fluxo de passageiros até 2050, sendo a ela associados voos low cost e serviços de médio curso.
 Mas essa região do Montijo está relacionada com a zona de proteção do estuário do Tejo, que é ponto de passagem na migração de mais de 100 mil aves aquáticas, e o grande aumento do tráfego aéreo pode ter impactos relevantes na avifauna devido ao sobrevoo dessa reserva natural. Isto, já para não falar que o cruzamento das rotas migratórias pode ser um perigo para a aviação pois há um aumento da probabilidade de colisão com as aves. A ruína dos habitats e ruído para a população são outras consequências negativas levantadas. Houve inclusive várias manifestações devido à aproximação das descolagens das aeronaves a zonas habitacionais.
Durante a sessão de abertura da IV Cimeira do Turismo, António Costa afirmou que a decisão de auxiliar o aeroporto de Lisboa com um no Montijo estava pendente do fim das negociações com a administração da ANA- Aeroportos e Navegação Aérea, e seria uma decisão “irreversível” depois dos resultados dos estudos de impacto ambiental.
Só que, segundo aquilo que tem circulado nos canais de comunicação, o primeiro estudo de impacto ambiental realizado pela ANA, em junho, estava em desconformidade, não apresentando a qualidade e informação necessárias. Supostamente, não media o impacto do movimento dos aviões sobre as aves, mas sim o contrário. Sofria, ainda, de falta de elementos que poderiam alterar o resultado desse estudo, sobretudo os efeitos da pista no rio, e não foi dada a devida importância ao ruído. Assim, a Comissão de Avaliação exigiu um estudo mais rigoroso e aprofundado. E, agora? Bom, tudo indica que estamos num impasse. A revisão ainda não foi entreque, logo, temos de esperar.
 Dada a sua proximidade ao aeroporto de Lisboa, o Montijo parece ser a melhor opção em termos de competitividade, mas a ser comprovado o seu efeito nocivo a nível ambiental, penso que devemos considerar outras alternativas. E então pergunto: porquê não explorar mais o aeroporto de Beja, que custou 33 milhões e está praticamente inutilizado? Se o problema é a distância e acessibilidade, pois vamos modernizar os recursos ferroviários e rodoviários! Beja pode ser a ponte perfeita entre a capital e o Algarve, cujo aeroporto também poderá vir a esgotar. Deixemos de procurar soluções quando o que falta é dinamizar aquelas que já existem!

Raquel Maria Bernardo Lourenço 

[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]

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