É notório que, nos
últimos anos, Portugal se tem tornado num destino turístico de eleição, o que,
aliado a um aumento da oferta das companhias low cost, faz com que cheguem cada vez mais passageiros aos nossos
aeroportos. Dados revelam que, no ano passado, o número de passageiros nos
aeroportos portugueses chegou aos 52,8 milhões, representando uma subida de 16,4%
relativamente ao ano anterior, permitindo-nos ultrapassar, pela primeira vez, o
patamar dos 50 milhões. O aeroporto que registou a maior subida foi o de Lisboa,
com um aumento de 18,8% e um número total de passageiros de 26,7 milhões.
A verdade é que, desde há
muitos anos, que o esgotamento do Aeroporto Humberto Delgado tem sido alvo de
muitas discussões. Apesar de na última década a capacidade do mesmo ter sido
aumentada por via de novas obras e reformulação de operações, sempre se soube
que, esta, era apenas uma medida de desenrasque até se alinhar uma solução
aeroportuária definitiva. A meu ver, é preciso dar uma resposta a esta procura
crescente ou então continuar a perder passageiros.
Uma das soluções apontadas é a base militar do
Montijo que, segundo, o Ministério do Planeamento e Infraestruturas,
proporciona várias vantagens, como a
utilização simultânea com a pista principal da Portela, que permite duplicar a
capacidade atual para 72 movimentos por hora e 50 milhões de passageiros,
utilização civil simultânea ao uso militar, custo e investimento menor pois a
infraestrutura primordial já existe, obtendo-se assim uma execução mais rápida.
Também se concluiu que o uso desta base pela aviação civil consegue suportar o
fluxo de passageiros até 2050, sendo a ela associados voos low cost e serviços de médio curso.
Mas essa região do Montijo está relacionada
com a zona de proteção do estuário do Tejo, que é ponto de passagem na migração
de mais de 100 mil aves aquáticas, e o grande aumento do tráfego aéreo pode ter
impactos relevantes na avifauna devido ao sobrevoo dessa reserva natural. Isto,
já para não falar que o cruzamento das rotas migratórias pode ser um perigo
para a aviação pois há um aumento da probabilidade de colisão com as aves. A
ruína dos habitats e ruído para a
população são outras consequências negativas levantadas. Houve inclusive várias
manifestações devido à aproximação das descolagens das aeronaves a zonas
habitacionais.
Durante a sessão de
abertura da IV Cimeira do Turismo, António Costa afirmou que a decisão de auxiliar
o aeroporto de Lisboa com um no Montijo estava pendente do fim das negociações
com a administração da ANA- Aeroportos e Navegação Aérea, e seria uma decisão
“irreversível” depois dos resultados dos estudos de impacto ambiental.
Só que, segundo aquilo
que tem circulado nos canais de comunicação, o primeiro estudo de impacto
ambiental realizado pela ANA, em junho, estava em desconformidade, não
apresentando a qualidade e informação necessárias. Supostamente, não media o
impacto do movimento dos aviões sobre as aves, mas sim o contrário. Sofria,
ainda, de falta de elementos que poderiam alterar o resultado desse estudo, sobretudo
os efeitos da pista no rio, e não foi dada a devida importância ao ruído. Assim,
a Comissão de Avaliação exigiu um estudo mais rigoroso e aprofundado. E, agora?
Bom, tudo indica que estamos num impasse. A revisão ainda não foi entreque,
logo, temos de esperar.
Dada a sua proximidade ao aeroporto de Lisboa,
o Montijo parece ser a melhor opção em termos de competitividade, mas a ser comprovado
o seu efeito nocivo a nível ambiental, penso que devemos considerar outras
alternativas. E então pergunto: porquê não explorar mais o aeroporto de Beja,
que custou 33 milhões e está praticamente inutilizado? Se o problema é a
distância e acessibilidade, pois vamos modernizar os recursos ferroviários e
rodoviários! Beja pode ser a ponte perfeita entre a capital e o Algarve, cujo
aeroporto também poderá vir a esgotar. Deixemos de procurar soluções quando o
que falta é dinamizar aquelas que já existem!
Raquel Maria Bernardo Lourenço
[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]
[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]
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