O valor atual das rendas
das casas é um tema de que se fala muito nos dias que correm e que gera muita
controvérsia, dadas as quantias exorbitantes. Segundo estimativas feitas pelo
INE, as rendas deverão subir 1,15% no próximo ano, de acordo com a estimativa
dos dados da inflação, que servem de referência ao coeficiente de atualização
anual das rendas, refletindo o maior aumento desde 2013. Continuamos a observar
uma tendência ascendente no preço das rendas, o que provoca preocupação dados
os preços incomportáveis. Num país em que o salário mínimo é de 580€ e o
salário médio é de 846€, a renda média ronda os 400€. Se olharmos para regiões
como Lisboa, a renda média ronda os 830€ atualmente, representando valores
completamente insuportáveis para uma família típica portuguesa.
Segundo dados da OCDE, o
preço das rendas tem aumentado constantemente desde 1995. Desenvolvimentos no
funcionamento do mercado de arrendamento e a crescente facilidade de acesso a
este mercado, em simultâneo com uma mudança das preferências, são provavelmente
as razões que justificam a preferência da população pelas casas arrendadas em
vez da compra de casa, pressionando o aumento dos preços. O que tenho verificado
atualmente é que compensa mais comprar uma casa do que arrendar uma casa, uma
vez que a prestação paga pelo empréstimo da casa é inferior ao valor da renda.
No entanto, quem não tem possibilidade de comprar casa ou simplesmente não
ambiciona fazê-lo, depara-se com esta realidade. A verdade é que os números vêm
comprovar que tanto os preços de venda como as rendas estão a atingir valores
difíceis de comportar para o trabalhador médio.
Ainda assim, esta crise
imobiliária em Portugal está a ser sentida em particular pelos estudantes
universitários, que se deparam nos grandes centros universitários com pouca
oferta, a preços elevados, até mesmo por um quarto! Lisboa é quase um mundo à
parte, onde arrendar um quarto custa, em média, 450€, mais do dobro do que
custa em Braga, onde os valores rondam os 200€. No Porto, o preço situa-se em
média nos 275€ mensais, no entanto é muito comum arrendar quartos a 550€ e 600€
nas duas principais cidades. Muitas vezes, o valor da renda não tem sequer
despesas incluídas, nomeadamente eletricidade, gás, água e tv por cabo.
Com estes valores, a
renda representa a maior fatia do orçamento de um estudante universitário, se
tivermos em conta todos os gastos, nomeadamente propinas, alojamento,
alimentação e material escolar. A meu ver, isto é completamente insuportável
para as famílias portuguesas. Para quem é estudante deslocado, torna-se motivo
de inquietação e receio porque põe em causa a formação na universidade em que
desejam estudar e é mesmo um motivo de impedimento.
O pior é que a subida de
preços não parece abrandar, muito pelo contrário. A resposta das pessoas a esta
situação passa pela saída dos centros para as periferias. Porém, podemos
perceber que o acesso à habitação por boa parte da classe média (por
arrendamento ou por compra) pode estar posto em causa, principalmente no centro
da capital e no centro das cidades mais turísticas.
Este tema suscita-me
bastante apreensão porque, apesar de ter a sorte de frequentar a universidade
da cidade onde nasci e sempre vivi, como uma jovem adulta não vejo a oportunidade
de me tornar independente, uma vez que o valor de uma renda representa mais de
metade de um salário “normal”. Fora as outras despesas acrescidas, seria
completamente impossível conseguir fazer face a todos os gastos.
A minha questão é: onde
vamos parar? Será isto uma mudança permanente?
Inês
Azevedo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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