Dados oficiais estimam
que a nível mundial, o sector do turismo tem um contributo direto no PIB de
3,2%, e um contributo direto no emprego de 3,8%. Note-se que os países mais
pobres e menos desenvolvidos são alguns dos que apresentam maior peso relativo
do turismo, aliás no TOP 50 dos países com maior peso relativo do turismo, a
Espanha é um dos poucos que aparece como representante dos países mais
desenvolvidos. Em Portugal, o Turismo é responsável por cerca de 7,5% do PIB e
aproximadamente 6,0% do emprego. Estes números revelam que estamos acima da
média mundial e continuamos numa tendência de crescimento, tal como demonstra o
estudo “Estratégia Turismo 2027” (ver gráfico em baixo).
Percebemos claramente que
o sector do turismo tem um crescimento muito superior ao da média da economia
nacional. A pergunta que nos devemos colocar neste momento é a de saber muito
bem o que queremos em termos de turismo. A ilusão deste crescimento esconde
aspetos negativos que devemos seriamente estudar, isto tanto a nível económico
como social e urbanístico.
Segundo o mesmo estudo,
percebemos que o nível de qualificação da população empregada no sector do
turismo é sofrível, pois cerca de 58% possui apenas o ensino básico. Convém, no
entanto, referir que as projeções para 2027 apontam para uma descida desse
indicador para um patamar de 12%, sendo que 60% dos empregados terão o ensino
secundário. Note-se que essa alteração do panorama do emprego terá muito a ver
com a substituição de gerações. Não podemos de facto esconder que o setor estará
sempre ligado as camadas de populações menos instruídas. Este será com certeza
o maior ponto de discórdia entre os que defendem uma aposta forte no turismo e
os que olham para ele com alguma desconfiança.
No que diz respeito à
dimensão social traduzida pelo nível de remuneração auferido no sector, é
enorme o gap existente com a média
dos outros sectores. Na verdade, um trabalhador do sector do turismo recebe um
vencimento inferior em 25% à média nacional. Esta bipolaridade da economia
Portuguesa é profundamente assustadora no que diz respeito ao setor do turismo.
Note-se que esta diferença não é de todo conjuntural, mas sim estrutural, pois
a tendência registada é a mesma há pelo menos mais de uma década. Isso resulta
do facto já apontado, ou seja, do baixo nível de qualificação da população
empregada. É importante ainda referir que, além dos baixos salários, o emprego
neste setor é precário e sofre com a dimensão da sazonalidade.
Do ponto de vista das
cidades, tais como Lisboa e Porto, outros problemas se colocam. As mesmas estão
a ser reabilitadas para o turismo, o que está a criar uma pressão no mercado
imobiliário que impede os residentes de ocuparem os centros urbanos,
verificando-se uma verdadeira expulsão para os subúrbios. Isso poderá levar à
descaraterização das cidades no que diz respeito à sua dimensão cultural. Do
ponto de vista urbanístico, as cidades estão a ser redesenhadas para se
ajustarem a esta nova realidade. Nesta fase, observa-se principalmente o
investimento através de capitais privados na reabilitação de edifícios, no
entanto será de esperar a necessidade de mais investimentos públicos,
nomeadamente em infraestruturas aeroportuárias.
Finalmente, à pergunta, Turismo: o que queremos?, não existe uma
resposta agregadora e de sentido único. Deverá o Estado, em tempo de parcos
recursos, investir num setor do turismo que já se encontra num nível económico
de excelência? O país não deveria focar a sua atenção em promover a
competitividade nas outras indústrias, nomeadamente nas que absorvem pessoal
qualificado e consequentemente melhor remunerado? Não deveria reforçar o seu
investimento na educação e investigação, pois continuamos na cauda da Europa
nesses dois indicadores? Em termos de educação na Europa a 28, apenas Malta tem
pior desempenho que Portugal, pois constata-se ainda que menos de 50% da
população entre 20 e 64 anos possui pelo menos o ensino secundário. Será
justificável pedir mais esforços aos contribuintes para financiar um setor que
nunca explorará ao máximo as habilitações e competências com as quais estamos
as formar as novas gerações? Parece-me que a estratégia a seguir não se esgota
no documento “Estratégia Turismo 2027”. É imprescindível produzir documentos
alternativos que permitem comparar cenários com os seus custos envolvidos, bem
como os retornos financeiros, sociais e culturais.
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