Num
período em que Portugal está entre os países europeus que registaram um maior
recuo homólogo da taxa de desemprego (de 8,8% em Agosto de 2017 para 6,8% em
Agosto de 2018), é impossível não olharmos para a principal fonte de
rendimentos dos portugueses, os salários, bem como para a disparidade entre os
mesmos.
Com
boas previsões de subida no próximo ano, é de conhecimento geral que o salário
mínimo em Portugal fixou-se, no início deste ano, nos 580€, bem longe da remuneração mínima mensal que é
praticada no Luxemburgo, que é de cerca de 1999€. Não será isso algum tipo de
indicador? Há ou não há diferenças salariais significativas em Portugal?
Liderado por António Mexia, CEO da EDP, os
CEO’s portugueses ganham 23 mais que os seus trabalhadores. Esta lista, que
concentra as 20 maiores empresas cotadas (PSI-20) e que conta também com nomes
como, por exemplo, Pedro Soares dos Santos (CEO da Jerónimo Martins) e Carlos
Gomes da Silva (CEO, da Galp), mostra-nos que o salário dos mesmos consegue
ultrapassar valores inimagináveis em Portugal: cerca de 2 milhões de euros
anuais.
Aprofundando o caso e focando-nos no “top 2”, vemos que António Mexia recebeu pelo
seu trabalho cerca de 2,29 milhões de euros o ano passado. Por outro lado, cada
trabalhador da empresa EDP recebeu uma remuneração média de 58 mil euros anuais.
Apesar de não se tratarem de valores nada baixos no panorama nacional, feitas
as contas, podemos observar que o CEO recebeu 40 vezes mais do que um
trabalhador do grupo.
A Jerónimo Martins, dona da cadeia de
supermercados Pingo Doce, sendo um
alvo de críticas por parte de Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, não
poderia passar em branco nesta análise. Pedro Soares dos Santos, CEO da mesma,
auferiu, no último ano, um rendimento sensivelmente acima de 2 milhões de
euros. Comparando como no caso anterior, cada trabalhador da empresa auferia um
salario médio anual de 12500 euros. Assim, o CEO ganhou cerca de 160 vezes mais
do que um trabalhador.
Tendo por referência estes dois casos e comparando-os com os
salários da população lusa, temos consciência que as diferencias salariais
estão bem presentes na nossa comunidade.
De forma a combater estas disparidades salariais, o Partido
Socialista (PS) juntou-se à proposta, que fora primeiramente apresentada pelo
Bloco de Esquerda (BE). Ambos defendem que as empresas com maiores
desigualdades entre os salários da base e do topo sejam impedidas de aceder a
apoios públicos. No entender dos dois partidos, essas empresas ficariam
privadas de receber apoios do Estado, bem como de participar em concursos
públicos. De realçar que também o primeiro-ministro, António Costa, disse considerar inaceitável a disparidade
remuneratória verificada em empresas como a EDP, apelando a decisões
concretas.
Tal
problema pode ser travado através da criação de um leque salarial estabelecido
pelo Governo, em que seriam estabelecidos previamente aquele que seria o salário
mais elevado e o mais baixo, sendo que quem não cumprisse estaria impedido de
aceder a apoios públicos. No entender do BE, esta medida deveria ser aplicada
tanto no setor público como no setor privado.
Em
suma, nem tudo parece perdido, e através dos resultados obtidos do inquérito ao emprego do INE liberados no
último mês de Agosto, Portugal encontra-se no bom caminho. No meu entender, a
disparidade é bastante elevada e algo tem de ser feito, estando a favor da
medida proposta pelo BE. De volta aos resultados, estes dizem-nos que há cada vez mais salários de topo, e
menos salários muito baixos. São os salários acima dos 3000 euros que crescem a
um ritmo claramente mais elevado (aumentaram 34,5% de 2017 para 2018). Por outro lado,
no segundo trimestre deste ano, Portugal tinha menos 162 mil
pessoas a ganharem menos de 600 euros líquidos, em comparação com o mesmo
período de 2017, correspondendo a uma descida de 14,4%, fazendo-me crer que uma
recuperação na disparidade salarial é possível.
Diogo Emanuel Gonçalves Cardoso
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