Desde do início do séc.
XXI até 2014-2015 (inversão de tendência) que Portugal apresenta uma trajetória
ascendente no nível de dívida pública em percentagem do PIB, ultrapassando em 2007
os 70% (PEC: 60%). Dada a extensão do historial da dívida portuguesa, este ensaio
apenas apresentará possíveis causas para a sua evolução no presente século.
Subdivide-se o historial em 2 momentos: início do século até ao culminar da
crise dos “sub-prime”; e o culminar
da crise das dívidas soberanas até ao presente.
Começando pelo primeiro:
(1) A
adesão ao euro, embora por si não responsabilizadora, terá permitido, por um
lado, a redução da taxa de inflação e, consequentemente, reduziu a taxa de juro
nominal, e, por outro, a partilha do risco de crédito com obrigações alemãs,
sendo este não justificável. Estas taxas voltaram a divergir com o culminar da
crise “sub-prime”. Desta forma, a
cedência de crédito era facilitada a todos os agentes económicos no contexto
descrito, aumentando gravemente o endividamento português.
(2) A redução acentuada das taxas de poupança das famílias portuguesas,
atingindo valores mínimos de 6,8 % em 2008 (muito abaixo da taxa de poupança de
17,1 % para o mesmo período na Alemanha). Realça-se que após 2014 o valor
atinge novos mínimos, sendo atualmente de 6,1 %, cerca de 2,85 vezes mais baixo
que as alemãs.
(3) Reduzida taxa média de crescimento, em média de 1,1 % de 2001 até
2007, atingindo os 2 % e revertendo a sua situação. Presencialmente, observamos
uma taxa de crescimento média na casa dos 2-2,5 %.
(4) Desequilíbrios internos
e externos. A nível interno, talvez este seja o “tendão de Aquiles” da democracia
portuguesa, visto que desde 1974 que Portugal nunca apresentou um único
excedente orçamental, daí a enfâse dada ao
atual governo constitucional na previsão da obtenção de um défice 0, atualmente
previsto representar 0,7 % do PIB no
final do ano. Portugal desde que se tornou democracia, nunca conseguiu
financiar os seus próprios gastos.
A nível externo, Portugal, apresentava um défice médio na balança corrente de 8,9 %, entre 2000-2013.
Em suma, gastou-se mais do que se produziu e importou-se menos do que se exportou.
A nível externo, Portugal, apresentava um défice médio na balança corrente de 8,9 %, entre 2000-2013.
Em suma, gastou-se mais do que se produziu e importou-se menos do que se exportou.
Terão sido estes desequilíbrios estruturais, que diferenciaram a influência
interventiva da troika, em comparação
com as outras intervenções, como na Espanha e na Irlanda.
No segundo período, o
crescente aumento de dívida pública deve-se ao financiamento da troika (FMI, Comissão Europeia e BCE) em
tranches, desde a intervenção (2011), com o financiamento de cerca de 78 mil
milhões de euros, até ao seu “pseudo”
afastamento em 2014.
Cenário atual:
Atualmente, a situação encontra-se
mais controlada, apesar de ainda problemática. O país apresenta um maior
controlo sobre as suas finanças públicas, como o já referido acima. A continua
redução do défice refletir-se-á num aumento de confiança nos mercados
internacionais, permitindo o refinanciamento a taxas de juros mais baixas. Atualmente,
cupões de juro em obrigações de 10 anos encontram-se nos 2,125 % (despesa atual
em juros: 7123,5; Saúde: 8 757,7 ; Educação:
7 289,2 , dados 2017 em milhões Euros).
Apesar da dívida pública
continuar a aumentar, a uma taxa de crescimento média de 2 % nos últimos 4
anos, tem vindo a diminuir em percentagem do PIB, situando-se atualmente nos 122,5
%, ainda muito acima da média da UE, de 79,1 %. Este efeito deve-se ao crescimento
do PIB, atingindo valores acima dos 2 % de crescimento. Este crescimento tem
sido impulsionado maioritariamente pelo aumento da procura do setor do turismo,
com enfâse no aumento de 4,7 % para 5,6 % do PIB, no saldo da balança de viagens
e turismo entre 2016 e 2017, um aumento significativo face ao crescimento médio
observado nos últimos 8 anos (19% face a 10%).
Encontramo-nos num
contexto de incerteza. A situação económico-financeira tem vindo a melhorar,
dado o crescimento do PIB, com benefício nas receitas estatais e contribuição
para a redução da dívida em percentagem do PIB. Neste contexto, a redução da dívida
pública em percentagem do PIB deve-se a aumento da taxa de crescimento (não
esperado) do PIB potencial, que por sua vez depende maioritariamente do
crescimento do turismo. Logo, o turismo deve ser visto como o tema central para
a sustentabilidade corrente da dívida pública.
Neste aspeto, a meu ver, Portugal encontra-se altamente suscetível ao estrangeiro, desde o financiamento da dívida até ao pagamento da mesma. Existe uma elevada dependência do poder de compra de um pequeno grupo de países (Reino Unido, Alemanha e Espanha, representam 66 % das entradas turísticas) na procura de um serviço de “lazer”, o qual ultimamente é altamente variável com as oscilações económicas, ao contrário de setores mais consolidados.
Neste aspeto, a meu ver, Portugal encontra-se altamente suscetível ao estrangeiro, desde o financiamento da dívida até ao pagamento da mesma. Existe uma elevada dependência do poder de compra de um pequeno grupo de países (Reino Unido, Alemanha e Espanha, representam 66 % das entradas turísticas) na procura de um serviço de “lazer”, o qual ultimamente é altamente variável com as oscilações económicas, ao contrário de setores mais consolidados.
Luan Fermino Pires
Bibliografia :
Alexandre, Fernando, Luís Aguiar-Conraria, and Pedro Bação. Crise e Castigo: Os desequilíbrios e o resgate da economia portuguesa. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2016.
“Portugal teve 18,2 milhões de turistas estrangeiros em 2016”, Wilson Ledo 07 de dezembro de 2017, Jornal de negócios
Proenca, Sara A., and Elias Soukiazis. "Demand for tourism in Portugal: A panel data approach." Coimbra, Portugal: Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Coimbra (2005).
Ameco
Pordata
Investing.com
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Alexandre, Fernando, Luís Aguiar-Conraria, and Pedro Bação. Crise e Castigo: Os desequilíbrios e o resgate da economia portuguesa. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2016.
“Portugal teve 18,2 milhões de turistas estrangeiros em 2016”, Wilson Ledo 07 de dezembro de 2017, Jornal de negócios
Proenca, Sara A., and Elias Soukiazis. "Demand for tourism in Portugal: A panel data approach." Coimbra, Portugal: Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Coimbra (2005).
Ameco
Pordata
Investing.com
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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