quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Só por ser mulher recebo menos?

A discriminação entre géneros é um tema que está em constante debate na nossa atualidade. Apesar de terem sido feitos diversos esforços para tentar reduzir o seu efeito, este continua ainda muito presente na sociedade e, consequentemente, persiste a desvalorização da mulher no mercado laboral.

Surpreendentemente, se olharmos para os números e dados do Banco de Portugal, podemos verificar que a desigualdade salarial se mantem estável em Portugal nas últimas décadas. O facto é deveras surpreendente, principalmente, se tomarmos em conta a tendência crescente de igualdade salarial nas economias mais avançadas, tornando assim Portugal numa exceção no paradigma mundial.

Ao longo destes últimos anos, podemos verificar uma constante evolução no mercado de trabalho português principalmente devido a escolarização dos trabalhadores. Sendo registado no ano anterior 32,9 mil mulheres licenciadas a entrar no mercado de trabalho, mais 3,3 mil do que os homens, do qual estas representam 48,7% da população empregada. Também é possível verificar que as mulheres estão cada vez mais presentes nas profissões com elevada qualificação, nomeadamente nas categorias de representantes políticos e gestores de topo e atividades tradicionalmente associadas aos homens, como a consultoria científica ou técnica.

No entanto, apesar da constante mudança e das variadas medidas aplicadas, podemos ainda averiguar uma elevada desigualdade nesta temática: a diferença salarial média do ganho entre homens e mulheres em 2015 era de 20%, o que se apresenta como um valor superior à média da União Europeia, que era de 16%. Contudo, a situação não é semelhante para todos os grupos de rendimento: nos salários mais reduzidos a diferença é de cerca de 5%, sendo que nos salários dos trabalhos com renumerações mais elevadas a diferença chega quase aos 30%.

É importante salientar que políticas como o aumento do salário mínimo, que tornaram os salários mais baixos mais uniformes, fizerem com que a diferença não seja tão sentida nestes níveis, apesar de nos cargos superiores elas confrontaram-se com uma barreira invisível e intransponível.

Numa perspetiva diferente, se virmos os dados do Eurostat, conseguimos perceber que Portugal, assim como Itália e a Espanha, foram os países em que se notou a maior crescimento do diferencial salarial entre géneros, principalmente devido ao facto de terem sido os mais afetados pela crise económica que varreu a Europa.
Em Portugal, registou-se um aumento de diferença salarial entre 2008 e 2013 de 3,8%, o que significa que os trabalhadores do sexo feminino ganhavam menos 13% que a sua contraparte. Apesar da diferença não ser muito significativa, esta continuava a ser menor do que a média europeia (16%), em que existiam países como a Estónia que apresentavam a disparidade salarial maior da Europa, que atingia quase os 30% e, no extremo oposto, a Eslovénia, que possuia a menor disparidade, situando-se esta em menos de 5%.

Podemos, então, concluir que, no que toca à desigualdade salarial entre géneros, Portugal ainda tem um longo caminho para percorrer e, que conforme o ângulo e o período de anos ou dados escolhidos, as conclusões podem ser divergentes e moldadas pela agenda procurada.


Pedro Vilela

























[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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