A discriminação entre
géneros é um tema que está em constante debate na nossa atualidade. Apesar de
terem sido feitos diversos esforços para tentar reduzir o seu efeito, este continua
ainda muito presente na sociedade e, consequentemente, persiste a
desvalorização da mulher no mercado laboral.
Surpreendentemente, se
olharmos para os números e dados do Banco de Portugal, podemos verificar que a
desigualdade salarial se mantem estável em Portugal nas últimas décadas. O
facto é deveras surpreendente, principalmente, se tomarmos em conta a tendência
crescente de igualdade salarial nas economias mais avançadas, tornando assim Portugal
numa exceção no paradigma mundial.
Ao longo destes últimos
anos, podemos verificar uma constante evolução no mercado de trabalho português
principalmente devido a escolarização dos trabalhadores. Sendo registado no ano
anterior 32,9 mil mulheres licenciadas a entrar no mercado de trabalho, mais 3,3
mil do que os homens, do qual estas representam 48,7% da população empregada.
Também é possível verificar que as mulheres estão cada vez mais presentes nas
profissões com elevada qualificação, nomeadamente nas categorias de
representantes políticos e gestores de topo e atividades tradicionalmente
associadas aos homens, como a consultoria científica ou técnica.
No entanto, apesar da
constante mudança e das variadas medidas aplicadas, podemos ainda averiguar uma
elevada desigualdade nesta temática: a diferença salarial média do ganho
entre homens e mulheres em 2015 era de 20%, o que se apresenta como um valor
superior à média da União Europeia, que era de 16%. Contudo, a situação não é
semelhante para todos os grupos de rendimento: nos salários mais reduzidos a
diferença é de cerca de 5%, sendo que nos salários dos trabalhos com
renumerações mais elevadas a diferença chega quase aos 30%.
É importante salientar
que políticas como o aumento do salário mínimo, que tornaram os salários mais
baixos mais uniformes, fizerem com que a diferença não seja tão sentida nestes
níveis, apesar de nos cargos superiores elas confrontaram-se com uma barreira
invisível e intransponível.
Em Portugal, registou-se
um aumento de diferença salarial entre 2008 e 2013 de 3,8%, o que significa que
os trabalhadores do sexo feminino ganhavam menos 13% que a sua contraparte.
Apesar da diferença não ser muito significativa, esta continuava a ser menor do
que a média europeia (16%), em que existiam países como a Estónia que apresentavam
a disparidade salarial maior da Europa, que atingia quase os 30% e, no extremo
oposto, a Eslovénia, que possuia a menor disparidade, situando-se esta em menos
de 5%.
Podemos, então, concluir
que, no que toca à desigualdade salarial entre géneros, Portugal ainda tem um
longo caminho para percorrer e, que conforme o ângulo e o período de anos ou
dados escolhidos, as conclusões podem ser divergentes e moldadas pela agenda
procurada.
Pedro
Vilela
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário