O
Turismo está a mudar. Nos últimos anos, há mais pessoas, de faixas etárias mais
diversificadas, e de todas as classes económicas a visitar Portugal. As
companhias aéreas low-cost e os novos
sites de busca tornaram todo o
processo de tirar férias mais fácil e mais barato. As atividades de lazer têm
maior importância e são melhor planeadas.
Na
publicação “Estatísticas do Turismo 2017”, do INE, verificou-se que o número de
hóspedes nesse ano totalizou 24,1 milhões e as dormidas 65,8 milhões,
correspondendo a aumentos de 12,9% e 10,8%, respetivamente. Os dados confirmam a
tendência dos últimos anos e revelam também que o Sul da Europa e o Mediterrâneo
lideram como principal destino Internacional. Mas a notícia que eu acho mais
otimista é de Portugal estar posicionado nos países com saldo da balança
turística mais lucrativo em 5º lugar, atrás de Espanha, França, Itália e
Grécia.
Perante
este novo paradigma, surgem desafios de satisfazer as necessidades dos residentes
temporários. Para tornar este fenómeno em algo sustentável a longo prazo são
necessárias medidas de planeamento que melhorem a experiência dos visitantes e
que não prejudiquem os residentes. Mas como é que as cidades se estão a adaptar
ao turismo?
A
situação de Lisboa é das mais preocupantes. O rápido crescimento do fluxo de
pessoas está a levar à superlotação das infraestruturas e das atrações. Os
preços da habitação dispararam, os residentes queixam-se de filas longas e há quem
tema a “Disneyficação” da cidade, ou que se torne na próxima Veneza.
Em
2017, foram anunciadas medidas para limitar o turismo por parte da Câmara
Municipal de Lisboa, através da definição de quotas para o alojamento local e
de uma capacidade máxima de unidades hoteleiras na cidade. Os economistas
rapidamente contestaram estas políticas. Se o problema é o aumento da procura,
a oferta deve aumentar para encontrar um equilíbrio no mercado. Restrições vão
fazer exatamente o contrário.
Mais
recentemente foi afirmado pelo primeiro-ministro: “O que é essencial não é
restringir o turismo, é aumentar a oferta de habitação para quem não é turista,
caso contrário os turistas deixam de vir”. E lembrou que a AR está a preparar
incentivos fiscais para os privados praticarem rendas mais acessíveis.
Não
sei se a solução passa por restringir os hotéis ou por políticas fiscais. Se de
facto é um problema de mercado, porque estamos a tratar a situação como uma
externalidade da qual temos de ser compensados? Talvez a solução passe por
medidas mais criativas, que incluam reabilitar zonas menos apreciadas, o que
não tem velocidade de resposta nem efeitos visíveis de imediato.
No
outro lado do espectro, um dos melhores exemplos de boa adaptação que conheço é
a minha terra, Ponte de Lima. Os esforços para promover um crescimento
inteligente e sustentável são impressionantes. O município tem como prioridade evidente
a inclusão da população local na atividade económica, e desenvolver sinergias destas
atividades com a valorização do património histórico, natural e cultural da
região. A criação de múltiplos eventos ao longo do ano é o principal ponto de
ligação, onde as pessoas conhecem os produtos da região enquanto disfrutam da beleza
da vila e dos arredores.
Apesar
de Ponte de Lima ter uma dimensão que não se compara à das grandes cidades, está
presente a motivação de divulgar e incentivar as pessoas a conhecer e a
participar nas atividades. O efeito passa-palavra é ampliado pelas redes
sociais, e, por isso, há algum cuidado com a presença online (em sites como: “cm-pontedelima.pt” e “visitepontedelima.pt”).
A
imagem muito positiva que a vila transmite passa por se distinguir através da
oferta de produtos e serviços endógenos e proteção face à competição das
grandes marcas. Os percursos pedonais, o contacto com a natureza e a
preocupação ambiental são um bónus que é cada vez mais valorizado num contexto
de agitação de cidades em crescimento. A coesão entre residentes e visitantes assim
como o compromisso com a qualidade e o bem-estar são muito bem-sucedidos. Todos
estes fatores fazem com que seja dos destinos rurais mais procurados em
alternativa ao turismo de sol e praia.
Henrique
Leones de Matos
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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