quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Adaptar ao Turismo

O Turismo está a mudar. Nos últimos anos, há mais pessoas, de faixas etárias mais diversificadas, e de todas as classes económicas a visitar Portugal. As companhias aéreas low-cost e os novos sites de busca tornaram todo o processo de tirar férias mais fácil e mais barato. As atividades de lazer têm maior importância e são melhor planeadas.
Na publicação “Estatísticas do Turismo 2017”, do INE, verificou-se que o número de hóspedes nesse ano totalizou 24,1 milhões e as dormidas 65,8 milhões, correspondendo a aumentos de 12,9% e 10,8%, respetivamente. Os dados confirmam a tendência dos últimos anos e revelam também que o Sul da Europa e o Mediterrâneo lideram como principal destino Internacional. Mas a notícia que eu acho mais otimista é de Portugal estar posicionado nos países com saldo da balança turística mais lucrativo em 5º lugar, atrás de Espanha, França, Itália e Grécia.
Perante este novo paradigma, surgem desafios de satisfazer as necessidades dos residentes temporários. Para tornar este fenómeno em algo sustentável a longo prazo são necessárias medidas de planeamento que melhorem a experiência dos visitantes e que não prejudiquem os residentes. Mas como é que as cidades se estão a adaptar ao turismo?
A situação de Lisboa é das mais preocupantes. O rápido crescimento do fluxo de pessoas está a levar à superlotação das infraestruturas e das atrações. Os preços da habitação dispararam, os residentes queixam-se de filas longas e há quem tema a “Disneyficação” da cidade, ou que se torne na próxima Veneza.
Em 2017, foram anunciadas medidas para limitar o turismo por parte da Câmara Municipal de Lisboa, através da definição de quotas para o alojamento local e de uma capacidade máxima de unidades hoteleiras na cidade. Os economistas rapidamente contestaram estas políticas. Se o problema é o aumento da procura, a oferta deve aumentar para encontrar um equilíbrio no mercado. Restrições vão fazer exatamente o contrário.
Mais recentemente foi afirmado pelo primeiro-ministro: “O que é essencial não é restringir o turismo, é aumentar a oferta de habitação para quem não é turista, caso contrário os turistas deixam de vir”. E lembrou que a AR está a preparar incentivos fiscais para os privados praticarem rendas mais acessíveis.
Não sei se a solução passa por restringir os hotéis ou por políticas fiscais. Se de facto é um problema de mercado, porque estamos a tratar a situação como uma externalidade da qual temos de ser compensados? Talvez a solução passe por medidas mais criativas, que incluam reabilitar zonas menos apreciadas, o que não tem velocidade de resposta nem efeitos visíveis de imediato.
No outro lado do espectro, um dos melhores exemplos de boa adaptação que conheço é a minha terra, Ponte de Lima. Os esforços para promover um crescimento inteligente e sustentável são impressionantes. O município tem como prioridade evidente a inclusão da população local na atividade económica, e desenvolver sinergias destas atividades com a valorização do património histórico, natural e cultural da região. A criação de múltiplos eventos ao longo do ano é o principal ponto de ligação, onde as pessoas conhecem os produtos da região enquanto disfrutam da beleza da vila e dos arredores.
Apesar de Ponte de Lima ter uma dimensão que não se compara à das grandes cidades, está presente a motivação de divulgar e incentivar as pessoas a conhecer e a participar nas atividades. O efeito passa-palavra é ampliado pelas redes sociais, e, por isso, há algum cuidado com a presença online (em sites como: “cm-pontedelima.pt” e “visitepontedelima.pt”).
A imagem muito positiva que a vila transmite passa por se distinguir através da oferta de produtos e serviços endógenos e proteção face à competição das grandes marcas. Os percursos pedonais, o contacto com a natureza e a preocupação ambiental são um bónus que é cada vez mais valorizado num contexto de agitação de cidades em crescimento. A coesão entre residentes e visitantes assim como o compromisso com a qualidade e o bem-estar são muito bem-sucedidos. Todos estes fatores fazem com que seja dos destinos rurais mais procurados em alternativa ao turismo de sol e praia.

Henrique Leones de Matos

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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