terça-feira, 2 de outubro de 2018

O velho Portugal

Tal como sabemos, a população portuguesa apresenta uma estrutura etária muito envelhecida, tendo sido considerada, em 2017, a segunda mais envelhecida da União Europeia. Estes dados causam uma série de problemas que estão direta e indiretamente ligados, visto que não existe uma solução clara que não afete outras variantes da sociedade e da economia.
Primeiramente, podemos afirmar que, segundo dados de 2017, a população portuguesa viu o seu grupo etário mais jovem (crianças até aos 14 anos) decrescer de forma mais acelerada a partir de 1985. Dados do Pordata mostram que a população infantil portuguesa diminuiu 14,6 pontos percentuais desde 1971. Por outro lado, a população com mais de 65 anos aumentou em 11,6 pontos percentuais, tendo tido a população em idade ativa um pequeno aumento, mas nada significativo, e aqui surge o problema.
O sistema de segurança social português tem como base o desconto que trabalhadores fazem para quando, futuramente, forem reformados terem um rendimento mensal assegurado, conforme o trabalho que exerceram durante a sua vida ativa. O que se começa a verificar é então que daqui a uns anos a população empregada atual não terá o devido recebimento e será prejudicada, isto porque, tal como se começa a verificar-se nos dias de hoje, a população em idade ativa tem de suportar todas as pensões e subsídios de desemprego da segurança social, tendo ainda de investir na educação das suas crianças. Por outras palavras e simplificando, nem toda a população em idade ativa trabalha, a taxa de emprego portuguesa é de 53,6%, o que significa por cada 100 pessoas em idade ativa, apenas cerca de 54 trabalham. Esta parte da população ativa é que cria recursos para o funcionamento da segurança social. Porém, este é um número muito baixo.
Das remunerações destes indivíduos, para além de saírem descontos que asseguram subsídios de desemprego e pensões, uma boa parte é investida na educação dos filhos que estudam cada vez mais por mais tempo, e, assim, este grupo de trabalhadores é que sustenta todo o resto da população, ficando com pouco para poupanças que consigam garantir uma qualidade de vida melhor na idade de reforma, dado o facto de que o valor médio das pensões nos dias de hoje tender a diminuir e as poupanças ao longo da vida representarem um apoio bastante importante para a manutenção do nível de bem-estar na idade mais avançada.
Visto que a parte mais baixa da pirâmide etária portuguesa está a diminuir consideravelmente, este problema que agora temos vai-se agravar. O colapso da segurança social não é algo que surpreenda a população. Contudo, este problema é atualmente agravado pelo que JP chamou em 2016 de “Fuga de cérebro”. Este fenómeno descreve o facto da população portuguesa, após atingir altos níveis de ensino, sair do pais para arranjar emprego e melhores condições de trabalho. Por um lado, é compreensível que a idade de reforma aumente para que se consigam evitar grandes números de pensões, por outro lado, tal causa incentivo à população mais jovem emigrar, nomeadamente os que têm qualificações mais altas.   
Em suma, o tema abordado é muito sensível e alterações nas suas políticas podem trazer muitas consequências para toda a economia e bem-estar da população. Porém, na minha opinião, devia ser algo realmente discutido com o objetivo de ser realmente solucionado, mas lentamente, porque pode ter consequências muito negativas no futuro e tornar-se num problema de ainda maior seriedade. Contudo, e consoante o tempo passa, o problema agrava-se, afetando cada vez mais portugueses. Futuramente, a segurança social pode tender a falir se não forem tomadas medidas corretas, medidas estas que, a meu ver, passam pela criação de turnos e diminuição de horas de trabalho e, talvez, até a criação de um setor intermédio para pessoas de mais idade, de maneira que estas conseguissem passar o seu cargo a jovens adultos que pretendam entrar pela primeira vez no mercado de trabalho.

Ana Isabel Araújo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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