quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Os Novos Descobrimentos

Para muitas PME, a internacionalização é sinónimo de exportar. Quando as empresas portuguesas decidem expandir-se e entrar em mercados externos, mais do que abrir uma sucursal ou estabelecer parcerias de negócio, o principal canal de internacionalização  é  a exportação. A venda direta para clientes externos é a forma mais utilizada por uma larga maioria das Pequenas e Médias Empresas (PME) exportadoras.
É no sector primário e secundário que as exportações diretas para clientes internacionais (sem intermediários) mais acontece, abrangendo cerca de três quartos das PME, ao contrário dos serviços, onde a venda direta se verifica em menor escala, sendo que existe uma maior diversificação das estratégias, pelas próprias caraterísticas das empresas de prestação de serviços.
Quase dois terços das empresas viu a atividade internacional progredir nos últimos dois anos, e mais de 60% prevê crescer este ano, constatando-se que uma grande parte das PME mais de 40% fá-lo em complemento à atividade que desenvolve no mercado interno.
O número de empresas internacionalizadas supera as 50 mil (40 mil são micro e 12 mil são PME), e o facto de  se  desenvolverem no mercado além-fronteiras não significou para muitas delas terem feito grandes alterações internas para se adaptarem: 69% fizeram-no mantendo a estrutura existente nas áreas financeiras, de recursos humanos ou nos sistemas de informação –, isto segundo alguns estudos recentes.
Posto isto, importa frisar que, infelizmente, parecem ser mais os casos de tentativas de internacionalização falhadas do que de sucessos. O mercado português é minúsculo, não só em termos de consumidores potenciais, mas também, crucialmente, em termos de poder de compra. Daí a necessidade das start-ups, e das demais empresas que queiram crescer, terem que pensar em mais mercados do que apenas o português. Um dos principais obstáculos ao aumento da  internacionalização e desta não ter um caráter prioritário nos planos de algumas empresas é o conhecimento da dificuldade que outros tiveram para crescer fora de portas. É conhecer todos os que falharam. É saber que alguns afundaram as suas empresas nos investimentos extraordinariamente grandes que eram precisos nos anos 90 nos projetos de crescimento internacional.
No outro lado da moeda, através de uma transformação digital dos mercados e das empresas que abriu o caminho a novas formas de crescimento para outros mercados, com risco moderado, é “fora de casa” que muitas outras empresas mais obstinadas encontram a sua sustentabilidade. Pode-se dizer que, perante o panorama atual, o desafio não é sequer apenas optar pela internacionalização mas sim ter a audácia de saber como o tornar realidade sem tirar os pés do chão. Para um número ainda significativo de empresários, o desafio não é abrir a porta a novos clientes: é o de ter consciência que com os novos modelos de negócios é possível a quase todas as empresas portuguesas fazer exportação dos seus serviços, dos seus conhecimentos e reconhecer o seu próprio valor. É  saber que podemos exportar as nossas estratégias, as táticas, as experiências, os modelos e os produtos que tanto custaram aos empresários criar num ecossistema pequeno e periférico e que, por isso, se tornaram mais sustentáveis e mais resistentes aos choques a que estão sujeitas, à competição sempre existente.
É certo que o modelo orgânico de crescimento na internacionalização ainda existe, quando as empresas têm ambição e estrutura. São programas internacionais a que poucos podem aspirar, mas onde alguns têm sucesso, em que casos como o da Parfois, Salsa, Sonae e, mais recentemente, Farfetch são provas dadas. São todas elas referências não apenas na forma como produzem mas essencialmente pela sua comercialização. Tudo passa, basicamente, por um modelo inovador e completamente distinto de co-criação no retalho, onde a fusão entre digital e físico toma um lugar central, exatamente como se passará em todo o comércio relevante dentro de não muitos anos. Ou seja, no fundo, reinventar o modelo de retalho, sem colocar em causa as marcas, que, nos casos em que a internacionalização é à escala mundial, são muito mais parceiras do que concorrentes.
A própria Google lançou um ano, por cá, uma plataforma para ajudar as empresas a chegar a novos mercados com risco moderado e apoio em áreas como a escolha do melhor mercado (através do fornecimento de estatísticas de negócio relevantes), bem como informação de planeamento operacional, como logística, sistemas de pagamentos, enquadramento legal, impostos, customer care e recrutamento. Além disso, a ferramenta que a multinacional colocou no mercado é de acesso gratuito e ajuda a compreender a componente cultural de cada mercado.
Num mundo tendencialmente mais digital, cada vez menos barreiras internacionais, e tornou-se possível em muitos sectores de atividade iniciar uma curva de experiência internacional, com poucos riscos. Para isso, é preciso naturalmente dar início de forma acelerada ao processo de digitalização do negócio, mas o mais importante é ganhar consciência. É saber que podemos.

Tomás da Silva Pinhão de Sousa

[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]

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