Para muitas
PME, a internacionalização é sinónimo de exportar. Quando
as empresas portuguesas decidem
expandir-se e entrar
em mercados externos, mais do que abrir
uma sucursal ou estabelecer parcerias de negócio, o principal
canal de internacionalização é a exportação. A venda direta
para clientes externos
é a forma mais utilizada por uma larga
maioria das Pequenas e Médias Empresas (PME) exportadoras.
É no sector primário e secundário que as exportações diretas
para clientes internacionais (sem intermediários) mais acontece, abrangendo cerca de três
quartos das PME,
ao contrário dos serviços, onde a venda
direta se verifica
em menor escala, sendo que existe uma maior diversificação das estratégias, pelas próprias caraterísticas das empresas de prestação
de serviços.
Quase dois
terços das empresas viu a atividade internacional progredir nos últimos
dois anos, e mais de 60% prevê
crescer este ano,
constatando-se que uma grande parte
das PME – mais de 40% – fá-lo em complemento à atividade que já
desenvolve no mercado
interno.
O número
de empresas internacionalizadas supera
as 50 mil (40 mil são micro
e 12 mil são PME), e o facto
de
se desenvolverem no mercado além-fronteiras não significou para muitas delas terem
feito grandes alterações internas para se adaptarem: 69%
fizeram-no mantendo a estrutura já existente – nas áreas
financeiras, de recursos humanos ou nos sistemas de informação –, isto segundo
alguns estudos recentes.
Posto isto,
importa frisar que,
infelizmente, parecem ser
mais os casos
de tentativas de internacionalização falhadas do que de sucessos. O mercado português é minúsculo, não só
em termos de consumidores potenciais, mas também, crucialmente, em termos de poder de compra. Daí a necessidade das start-ups, e das demais empresas
que queiram crescer, terem
que pensar em mais mercados
do que apenas
o português. Um dos principais obstáculos ao aumento da internacionalização e desta não ter
um caráter prioritário nos
planos de algumas empresas é o conhecimento da dificuldade que outros
tiveram para crescer
fora de portas.
É conhecer todos
os que falharam. É saber que
alguns afundaram as suas empresas
nos investimentos extraordinariamente grandes
que eram precisos
nos anos 90 nos projetos de crescimento internacional.
No outro lado da moeda, através de uma transformação digital dos mercados
e das empresas que abriu
o caminho a novas formas
de crescimento para
outros mercados, com risco moderado, é “fora de casa”
que muitas outras empresas
mais obstinadas encontram a sua sustentabilidade. Pode-se dizer que, perante
o panorama atual,
o desafio não é sequer apenas optar pela
internacionalização mas sim ter a audácia
de saber como o tornar
realidade sem tirar
os pés do chão.
Para um número
ainda significativo de empresários, o desafio já não é abrir
a porta a novos clientes: é o de ter consciência que com os novos modelos
de negócios é possível a quase todas
as empresas portuguesas fazer exportação dos seus serviços, dos seus
conhecimentos e reconhecer o seu próprio valor. É saber que podemos exportar
as nossas estratégias, as táticas, as experiências, os modelos e os produtos que tanto custaram
aos empresários criar num ecossistema pequeno e periférico e que, por isso, se tornaram
mais sustentáveis e mais resistentes aos choques a que estão sujeitas, à
competição sempre existente.
É
certo que o modelo orgânico de crescimento na internacionalização ainda
existe, quando as empresas têm ambição e estrutura. São
programas internacionais a que
poucos podem aspirar, mas onde alguns
têm sucesso, em que casos
como o da Parfois, Salsa, Sonae e, mais recentemente, Farfetch são provas dadas.
São todas elas referências não apenas na forma como produzem mas essencialmente
pela sua comercialização. Tudo passa,
basicamente, por um modelo inovador e completamente distinto
de co-criação no retalho, onde a fusão entre digital
e físico toma
um lugar central, exatamente como se passará em todo o comércio relevante dentro de não muitos
anos. Ou seja,
no fundo, reinventar o modelo de
retalho, sem colocar em causa as marcas, que, nos casos em que a internacionalização
é à escala mundial, são
muito mais parceiras do que concorrentes.
A própria
Google lançou há um ano,
por cá, uma plataforma para
ajudar as empresas a chegar a novos
mercados com risco
moderado e apoio
em áreas como
a escolha do melhor mercado
(através do fornecimento de estatísticas de negócio relevantes), bem como informação de planeamento operacional, como
logística, sistemas de pagamentos, enquadramento legal, impostos, customer care
e recrutamento. Além disso, a ferramenta que a multinacional colocou no mercado
é de acesso gratuito e ajuda a compreender a componente cultural
de cada mercado.
Num mundo tendencialmente mais digital, há cada vez menos barreiras internacionais, e tornou-se possível em muitos
sectores de atividade iniciar uma curva
de experiência internacional, com poucos riscos.
Para isso, é preciso naturalmente dar início de forma
acelerada ao processo de digitalização do negócio, mas o mais importante é ganhar
consciência. É saber que podemos.
Tomás da Silva
Pinhão de Sousa
[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade
Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do
curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]
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