terça-feira, 9 de outubro de 2018

As mudanças no mercado de trabalho com a crise económica

A perda do emprego tem consequências negativas não só ao nível do bem-estar e da qualidade de vida do indivíduo mas também no impacto social, económico e político na sociedade e no país. A crise económica de 2007/2008 causou um enorme impacto em Portugal, um dos países mais afetados da União Europeia, trazendo consigo variados problemas em termos de desempenho macroeconómico. A partir dos anos 2000, em que a taxa de desemprego era de 3,9% (Pordata), o aumento do desemprego tem vindo a evidenciar uma tendência crescente. A crise financeira e consequentemente o período de ajustamento da Troika fez com que a taxa de desemprego atingisse um pico de 16,2% em 2013. Como resultado, através dos dados do INE, ficamos a saber que 2013 foi o ano em que mais portugueses abandonaram o país, mas foi em 2012 que mais jovens foram à procura de melhores oportunidades, especialmente jovens qualificados.
Na Zona Euro, a taxa de desemprego fixou-se em 9,1% em junho de 2018, a taxa mais baixa desde fevereiro de 2009, o que revela um dinamismo positivo do mercado, e Portugal seguiu a mesma propensão. A partir de 2013, a taxa de emprego tem vindo a recuperar devido, sobretudo, às reformas estruturais que tornaram o mercado de trabalho mais flexível, estimulando as empresas a conceber emprego. A estimativa provisória do INE revela que, em agosto de 2018, a taxa de desemprego terá ficado nos 6,8%, valor igual ao do mês anterior, e, em agosto de 2017, a taxa foi de 8,8%, podendo concluir-se que tem permanecido praticamente estável. É imprescindível alertar que esta taxa esconde preocupações uma vez que a taxa de desemprego nos jovens é de aproximadamente 19,5% (INE) e os novos empregos criados para os jovens são quase exclusivamente em «part-time».
Durante a crise económica foram destruídos milhares de empregos, principalmente de pessoas com menos competências académicas, e o setor da indústria e dos serviços foram os mais afetados, revelando a dependência por setores específicos. Perante um futuro caraterizado pelo progresso tecnológico, muitos mais empregos vão ser destruídos, porém, com outros a ser recuperados noutros setores.
Dados recentes revelam que a criação do emprego permitiu que o emprego fosse recuperado por mais pessoas do sexo feminino, por grupos de faixas etárias mais avançados e com mais qualificações. Os serviços criaram três vezes mais empregos que os destruídos na crise, à «custa» do turismo. Os empregos criados em Lisboa e no Norte dominam cada vez mais, e quase todo o trabalho é por conta de outrem. Os níveis de precariedade não mudaram: no segundo trimestre deste ano, 22,1% dos empregos existentes tinham vínculos precários, uma percentagem idêntica à verificada no quarto trimestre de 2010, quando a economia tinha o mesmo número de postos de trabalho.
Após a crise, existe possibilidade de os emigrantes regressarem, porém, apenas com mudanças nos salários, nas perspetivas de evolução de carreira e nas condições de trabalho, logo abrangendo mais do que incentivos fiscais, como o corte para metade da taxa de IRS durante alguns anos.
         Na minha opinião, a pouca flexibilidade interna nas jornadas de trabalho é um problema, sendo que existe uma disposição para a redução do número de horas de acordo com a produtividade, realização profissional e bem-estar, contudo, a nossa sociedade ainda não está preparada para tal. A Suíça, sendo o país mais competitivo do mundo, tem uma média de 30 horas semanais de trabalho, mostrando que mais horas de trabalho não garantem maior produtividade, resultados e riqueza.
É essencial a adaptação à nova realidade. Temos cada vez menos empregos com tarefas rotineiras e para pessoas com menos qualificações. A rigidez do trabalho dificulta o ajustamento das empresas a novas tecnologias, sendo relevante deslocar trabalhadores para as recentes indústrias. Além disso, a dualidade de contratos, os tradicionais, oferendo para uns um emprego de uma vida, e, a prazo, para os mais jovens que, frequentemente, trabalham num regime de flexibilidade total, desincentiva os trabalhadores mais velhos a atualizarem as suas competências e impede os mais jovens de alcançarem lugares de maior responsabilidade.
A redução da precariedade no trabalho passa pela mudança dos salários baixos, pela rotatividade do mercado de trabalho, cujos contratos a prazo exigem disponibilidade completa envolvendo insatisfação dos trabalhadores uma vez que preferiam ter uma jornada de trabalho maior, com um horário fixo. O governo pretende reduzir a proporção de contratos a prazo, com a diferenciação da TSU conforme o tipo de contrato, pois deixa de haver tanta vantagem para as empresas na contratação a prazo, reduzindo a flexibilização dos contratos de trabalho.
Em suma, Portugal, após passar por uma fase difícil, está no processo de recuperação, sendo que atualmente é necessário acompanhar os novos empregos com novas aptidões, criar postos de emprego para os jovens, corrigir os estímulos para o regresso dos emigrantes, ajustar o horário de trabalho à produtividade e bem-estar do indivíduo, e reduzir a rigidez dos trabalhadores e a precariedade do trabalho.

Ana Catarina Freitas da Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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