A perda do emprego
tem consequências negativas não só ao nível do bem-estar e da qualidade de vida
do indivíduo mas também no impacto social, económico e político na sociedade e
no país. A crise económica de 2007/2008 causou um enorme impacto em Portugal,
um dos países mais afetados da União Europeia, trazendo consigo variados
problemas em termos de desempenho macroeconómico. A partir dos anos 2000, em
que a taxa de desemprego era de 3,9% (Pordata), o aumento do desemprego tem
vindo a evidenciar uma tendência crescente. A crise financeira e
consequentemente o período de ajustamento da Troika fez com que a taxa de
desemprego atingisse um pico de 16,2% em 2013. Como resultado, através dos
dados do INE, ficamos a saber que 2013 foi o ano em que mais portugueses
abandonaram o país, mas foi em 2012 que mais jovens foram à procura de melhores
oportunidades, especialmente jovens qualificados.
Na Zona Euro, a
taxa de desemprego fixou-se em 9,1% em junho de 2018, a taxa mais baixa desde fevereiro
de 2009, o que revela um dinamismo positivo do mercado, e Portugal seguiu a
mesma propensão. A partir de 2013, a taxa de emprego tem vindo a recuperar
devido, sobretudo, às reformas estruturais que tornaram o mercado de trabalho
mais flexível, estimulando as empresas a conceber emprego. A estimativa
provisória do INE revela que, em agosto de 2018, a taxa de desemprego terá
ficado nos 6,8%, valor igual ao do mês anterior, e, em agosto de 2017, a taxa
foi de 8,8%, podendo concluir-se que tem permanecido praticamente estável. É
imprescindível alertar que esta taxa esconde preocupações uma vez que a taxa de
desemprego nos jovens é de aproximadamente 19,5% (INE) e os novos empregos
criados para os jovens são quase exclusivamente em «part-time».
Durante a crise económica
foram destruídos milhares de empregos, principalmente de pessoas com menos competências
académicas, e o setor da indústria e dos serviços foram os mais afetados, revelando
a dependência por setores específicos. Perante um futuro caraterizado pelo
progresso tecnológico, muitos mais empregos vão ser destruídos, porém, com
outros a ser recuperados noutros setores.
Dados recentes
revelam que a criação do emprego permitiu que o emprego fosse recuperado por mais
pessoas do sexo feminino, por grupos de faixas etárias mais avançados e com
mais qualificações. Os serviços criaram três vezes mais empregos que os
destruídos na crise, à «custa» do turismo. Os empregos criados em Lisboa e no
Norte dominam cada vez mais, e quase todo o trabalho é por conta de outrem. Os níveis
de precariedade não mudaram: no segundo trimestre deste ano, 22,1% dos empregos
existentes tinham vínculos precários, uma percentagem idêntica à verificada no
quarto trimestre de 2010, quando a economia tinha o mesmo número de postos de
trabalho.
Após a crise, existe possibilidade de os emigrantes
regressarem, porém, apenas com mudanças nos salários, nas perspetivas de
evolução de carreira e nas condições de trabalho, logo abrangendo mais do que incentivos fiscais, como o
corte para metade da taxa de IRS durante alguns anos.
Na
minha opinião, a pouca flexibilidade interna nas jornadas de trabalho é um
problema, sendo que existe uma disposição para a redução do número de horas de acordo com a produtividade, realização
profissional e bem-estar, contudo, a nossa sociedade ainda não está preparada
para tal. A Suíça, sendo o país mais competitivo do mundo, tem uma média de 30
horas semanais de trabalho, mostrando que mais horas de trabalho não garantem maior produtividade, resultados e riqueza.
É essencial a adaptação à nova realidade. Temos cada vez menos empregos com
tarefas rotineiras e para pessoas com menos qualificações. A rigidez do
trabalho dificulta o ajustamento das empresas a novas tecnologias, sendo relevante
deslocar trabalhadores para as recentes indústrias. Além disso, a dualidade de contratos, os tradicionais,
oferendo para uns um emprego de uma vida, e, a prazo, para os mais jovens que,
frequentemente, trabalham num regime de flexibilidade total, desincentiva os
trabalhadores mais velhos a atualizarem as suas competências e impede os
mais jovens de alcançarem lugares de maior responsabilidade.
A redução da
precariedade no trabalho passa pela mudança dos salários baixos, pela rotatividade do mercado de trabalho, cujos contratos
a prazo exigem disponibilidade completa envolvendo insatisfação dos
trabalhadores uma vez que preferiam ter uma jornada de trabalho maior, com um
horário fixo. O governo pretende reduzir a proporção de contratos a prazo, com
a diferenciação da TSU conforme o tipo de contrato, pois deixa de haver tanta
vantagem para as empresas na contratação a prazo, reduzindo a flexibilização
dos contratos de trabalho.
Em suma, Portugal, após passar por uma fase difícil, está no processo de
recuperação, sendo que atualmente é necessário acompanhar os novos empregos com
novas aptidões, criar postos de emprego para os jovens, corrigir os estímulos
para o regresso dos emigrantes, ajustar o horário de trabalho à produtividade e
bem-estar do indivíduo, e reduzir a rigidez dos trabalhadores e a precariedade
do trabalho.
Ana
Catarina Freitas da Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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