Uma das mais importantes
armas utilizadas pelo Governo e pelas forças de direita contra os trabalhadores
para justificar a proposta de lei do código de trabalho, com objectivo
primordial de retirar direitos e reduzir remunerações, prende-se precisamente
com esta dualidade.
O maior problema que
enfrentam as empresas e a economia portuguesa é a falta de competitividade num
mercado cada vez mais global. Importa frisar que o aumento de produtividade não
significa necessariamente aumento da competitividade. Pelo contrário, ao se
enaltecer o aumento da produtividade negligenciando e escamoteando a evolução
da competitividade, cria-se terreno para que a opinião pública responsabilize os
trabalhadores pelos insucessos registados.
Uma notícia avançada pelo
Diário Económico a 13 de novembro de 2002 tinha como manchete “Portugal ganha
competitividade internacional”, afirmando mais concretamente: “A
competitividade global da economia portuguesa melhorou este ano. De acordo com
uma análise relativa a 2002, divulgada pelo World
Economic Forum, em termos globais a economia portuguesa figura como a 23ª
mais competitiva de entre os 80 países abarcados pelo estudo, tendo subido dois
lugares face ao 25º que ocupava no ano anterior”.
Perante isto, a pergunta
que imediatamente surge é: como é que em Portugal, possuindo a mais baixa
produtividade da União Europeia, e tendo-se inclusive verificado uma diminuição
na taxa de crescimento da produtividade no período considerado, a
competitividade da economia portuguesa aumentou?
É necessário compreender,
por parte das empresas, como conseguimos atingir uma redução cada vez mais
eficiente dos custos, para poder aumentar a tão esperada produtividade e, desse
modo, potenciar a sua competitividade. A resposta está na inovação, mais
concretamente no investimento em tecnologia (que passa pela informatização do
processo produtivo), no aumento da qualificação dos trabalhadores, melhor
articulação entre fornecedores e compradores, etc.
Por exemplo, a Autoeuropa
controla com grande rigor, e através de pesadas multas que aplica por
incumprimento, a qualidade dos produtos dos seus fornecedores, detendo assim
importantes poupanças, reduzindo significativamente os defeitos da sua produção
e garantindo a qualidade do produto final.
Para um país poder
competir (internacionalmente), é necessário preencher uma série de requisitos
básicos, como um bom sistema de saúde, boas infraestruturas, um sistema de
ensino eficiente, a fim de garantir a estabilidade e a credibilidade das
instituições, potenciando um ambiente macroeconómico saudável e com futuro,
diminuindo o défice governamental e a dívida pública.
Ao garantir a
produtividade aliada à competitividade, a conjuntura económica assume-se como
promissora, com indicadores de confiança estáveis, com um volumoso comércio
internacional de bens, com uma evolução positiva do volume de negócios,
proporcionando deste modo um menor desequilíbrio acumulado da balança
comercial.
Existem,
fundamentalmente, dois grandes factores que promovem o aumento da
produtividade: a educação e o investimento. A educação atua diretamente nas
capacidades dos trabalhadores. Mas é necessário ter ao mesmo tempo investimento
para criar oportunidades internas, caso contrário os nossos jovens talentos
acabarão por emigrar à procura de uma vida melhor. Além disso, é necessário ter
um ambiente institucional que encoraje cada indivíduo a produzir no máximo das
suas capacidades.
Um mercado de trabalho
saudável precisa de um equilíbrio entre direitos e deveres de trabalhadores. Não
podemos ter empresas (ou serviços públicos) em que parte dos empregados está só
a cumprir horário mas não pode ser despedido, e os restantes são
sobrecarregados com as tarefas dos colegas. Este tipo de ambiente gera
imediatamente baixa produtividade e induz baixo investimento a longo prazo.
Assim, nas sociedades
desenvolvidas, o capital humano tornou-se o principal determinante do
crescimento económico, pelo que a educação e a qualificação desempenham um
papel fundamental para elevar a produtividade e a competitividade de um país.
“Você
não pode impor a produtividade, você deve fornecer as ferramentas para permitir
que as pessoas se transformem no seu melhor.”
– Steve Jobs, fundador da Apple.
Tiago
Ferreira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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