segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Somos competitivos na nossa improdutividade

Uma das mais importantes armas utilizadas pelo Governo e pelas forças de direita contra os trabalhadores para justificar a proposta de lei do código de trabalho, com objectivo primordial de retirar direitos e reduzir remunerações, prende-se precisamente com esta dualidade.
O maior problema que enfrentam as empresas e a economia portuguesa é a falta de competitividade num mercado cada vez mais global. Importa frisar que o aumento de produtividade não significa necessariamente aumento da competitividade. Pelo contrário, ao se enaltecer o aumento da produtividade negligenciando e escamoteando a evolução da competitividade, cria-se terreno para que a opinião pública responsabilize os trabalhadores pelos insucessos registados.
Uma notícia avançada pelo Diário Económico a 13 de novembro de 2002 tinha como manchete “Portugal ganha competitividade internacional”, afirmando mais concretamente: “A competitividade global da economia portuguesa melhorou este ano. De acordo com uma análise relativa a 2002, divulgada pelo World Economic Forum, em termos globais a economia portuguesa figura como a 23ª mais competitiva de entre os 80 países abarcados pelo estudo, tendo subido dois lugares face ao 25º que ocupava no ano anterior”.
Perante isto, a pergunta que imediatamente surge é: como é que em Portugal, possuindo a mais baixa produtividade da União Europeia, e tendo-se inclusive verificado uma diminuição na taxa de crescimento da produtividade no período considerado, a competitividade da economia portuguesa aumentou?
É necessário compreender, por parte das empresas, como conseguimos atingir uma redução cada vez mais eficiente dos custos, para poder aumentar a tão esperada produtividade e, desse modo, potenciar a sua competitividade. A resposta está na inovação, mais concretamente no investimento em tecnologia (que passa pela informatização do processo produtivo), no aumento da qualificação dos trabalhadores, melhor articulação entre fornecedores e compradores, etc.
Por exemplo, a Autoeuropa controla com grande rigor, e através de pesadas multas que aplica por incumprimento, a qualidade dos produtos dos seus fornecedores, detendo assim importantes poupanças, reduzindo significativamente os defeitos da sua produção e garantindo a qualidade do produto final.
Para um país poder competir (internacionalmente), é necessário preencher uma série de requisitos básicos, como um bom sistema de saúde, boas infraestruturas, um sistema de ensino eficiente, a fim de garantir a estabilidade e a credibilidade das instituições, potenciando um ambiente macroeconómico saudável e com futuro, diminuindo o défice governamental e a dívida pública.
Ao garantir a produtividade aliada à competitividade, a conjuntura económica assume-se como promissora, com indicadores de confiança estáveis, com um volumoso comércio internacional de bens, com uma evolução positiva do volume de negócios, proporcionando deste modo um menor desequilíbrio acumulado da balança comercial.
Existem, fundamentalmente, dois grandes factores que promovem o aumento da produtividade: a educação e o investimento. A educação atua diretamente nas capacidades dos trabalhadores. Mas é necessário ter ao mesmo tempo investimento para criar oportunidades internas, caso contrário os nossos jovens talentos acabarão por emigrar à procura de uma vida melhor. Além disso, é necessário ter um ambiente institucional que encoraje cada indivíduo a produzir no máximo das suas capacidades.
Um mercado de trabalho saudável precisa de um equilíbrio entre direitos e deveres de trabalhadores. Não podemos ter empresas (ou serviços públicos) em que parte dos empregados está só a cumprir horário mas não pode ser despedido, e os restantes são sobrecarregados com as tarefas dos colegas. Este tipo de ambiente gera imediatamente baixa produtividade e induz baixo investimento a longo prazo.
Assim, nas sociedades desenvolvidas, o capital humano tornou-se o principal determinante do crescimento económico, pelo que a educação e a qualificação desempenham um papel fundamental para elevar a produtividade e a competitividade de um país.
Você não pode impor a produtividade, você deve fornecer as ferramentas para permitir que as pessoas se transformem no seu melhor.” – Steve Jobs, fundador da Apple.

Tiago Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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