segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Taxistas vs. Uber

Na semana passada decorreram as manifestações dos taxistas contra a entrada em vigor da “Lei Uber”, que irá regulamentar as plataformas eletrónicas de transporte (TVDE), Uber, Cabify, Taxify, Chauffeur Privé e outras que poderão entrar no mercado. A lei vai entrar em vigor no dia 1 de novembro, e traz algumas alterações e novidades à forma como essas empresas se comportam e regem o seu negócio, tanto a nível dos seus condutores como dos parceiros, plataformas e até mesmo passageiros. Todos os envolvidos (exceto os passageiros) terão que ter uma abordagem mais empresarial e similar aos taxistas, visto que terão de obter todo o tipo de licenças, contratos e custos adicionais ligados a essas burocracias necessárias e exigidas.
- Qual a diferença entre os taxistas e os motoristas de TVDE?
Há que ter em conta as diferenças no funcionamento de cada serviço. Os táxis são vistos pela lei como um serviço de transportes e, consequentemente, têm direito a uma série de benefícios fiscais, laborais e sociais que os motoristas da TVDE não têm - exclusividade na faixa de autocarro, não têm de pagar uma contribuição de 5% sobre as receitas de cada viagem ao Estado, isenção de 70% de ISV (Imposto Sobre Veículos), isenção de IUC (Imposto Único Circulação), dedução de 100% do valor do IVA dos custos de combustíveis até 1000 euros, e incentivos à compra de veículos elétricos. No entanto, os taxistas têm um limite de veículos por município, e o preço das licenças, em certos casos, é mais caro.
Tendo em conta todos os dados, o facto de as plataformas eletrónicas de transporte terem de cumprir mais burocracias e encargos financeiros e o facto de terem menos regalias (por enquanto), o argumento dos taxistas que afirma que existe “competição desleal” vai pelo cano abaixo.
- Quais as influências possíveis no IDE?
O Investimento Direto Estrangeiro, segundo o estudo realizado pela economista Rita Tavares da Silva, aumentou 56,6% entre dezembro de 2008 e junho de 2017. Ao longo destes anos, a posição de IDE tem vindo sempre a aumentar, apenas se tendo registado uma diminuição em 2012, devido às consequências e ondas e choques da crise norte americana e mundial, sentida na Europa.
Este tipo de comportamento por parte da cultura e sociedade portuguesa pode ter implicações graves no IDE “moderno” e, por sua vez, na economia de Portugal. Neste momento, o país é cada vez mais atrativo a investimento estrangeiro. Mas protestos e adversidades como se têm sentido com a implementação das plataformas eletrónicas de transporte podem dissuadir empresas que queiram apostar em Portugal, simplesmente, porque não querem ter problemas com burocracias adicionais que, em outros países, por norma, não têm. É obvio que o Estado não pode permitir que novas empresas se aproveitem do mercado, consumidores e concorrência de forma infiel ou facilitada, mas Portugal também não pode deixar que se torne um impasse demasiado grande para as empresas se implementarem na economia portuguesa.
- Conclusões e possíveis cenários futuros
A concorrência tornou-se mais justa e a tomada de decisão por parte dos consumidores torna-se mais uniforme. No futuro, com o aumento crescente da oferta e procura das plataformas eletrónicas de transporte, a procura de táxis e eventualmente a oferta irá diminuir substancialmente, nas grandes cidades, mais notoriamente. Muitos taxistas terão de se tornar motoristas de TVDE ou até mesmo procurar mercados fora das cidades, onde ser motorista das plataformas eletrónicas é menos rentável.
A verdade é que vão ser vários os taxistas que vão ficar sem emprego se não se adaptarem. Posto isto, as praças de táxi passarão a ser terrenos vazios em locais privilegiados das cidades. As câmaras municipais irão deixar de ter uma fonte lucrativa proveniente desses locais, por isso, vão ter que transformá-los em espaços verdes, novos parques de estacionamento ou em locais de carregamento de veículos elétricos.
  Tendo a última opção em consideração e visto que o Estado tem como responsabilidade corrigir desigualdades e ajudar a população desfavorecida, poderia fornecer uma percentagem dos lucros dos pontos de recarga aos taxistas que mais saíram prejudicados pelas inevitáveis mudanças, de forma a colmatar a desigualdade e choque nas vidas das famílias dos taxistas.
A nível macroeconómico, o Estado tem de conseguir prever este tipo de situações, ou estar mais atento à entrada de empresas que tenham o mesmo impacto que as plataformas eletrónicas de transporte, de modo a facilitar a sua entrada ou permanência de forma regulamentada e cordial.

Daniel Garcia Ribeiro

Referências:

 [artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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