terça-feira, 9 de outubro de 2018

Revolução tecnológica e laboral

Hoje em dia, estamos perante o advento de uma revolução tecnológica que poderá mudar radicalmente o mercado de trabalho. Segundo a consultora Gartner, até 2025 um terço dos empregos terá sido substituído por robôs/inteligência artificial, e a OCDE afirma que 57% dos empregos do mundo estão ameaçados pelas novas tecnologias. Estas perspetivas criam uma pressão social devido às desigualdades que podem gerar e à sustentabilidade da segurança social.
Devido à substituição de trabalhadores por máquinas, o governo perde parte das suas receitas fiscais, por outro lado, espera-se que a automação crie novas funções que passarão a ser taxadas, compensando as perdas mencionadas. Relativamente aos trabalhadores substituídos, a sociedade terá de encontrar formas de os reinserir no mercado de trabalho, evitando que grande parte da população fique numa situação de desemprego permanente.
Como resposta a este problema, Bill Gates, fundador da Microsoft sugeriu que os governos criassem um imposto sobre os robôs, de forma a aumentar os serviços sociais de apoio aos trabalhadores cujos empregos foram automatizados e a subsidiar empregos que exigem empatia humana, como cuidar de crianças e idosos. Esta ideia foi totalmente posta de parte por Andrus Ansip, Comissário Europeu com a pasta do Mercado Único Digital, que considera inapropriado taxar o progresso e que pensa que, ao fazê-lo, estar-se-ia a desincentivar a fixação das novas tecnologias na Europa e a comprometer a implementação de inovações que estas poderiam introduzir. Na sua opinião, a solução passaria por educar e capacitar os trabalhadores para as tarefas e empregos criados pela tecnologia.
Outra alternativa possível seria estabelecer um rendimento básico universal, solução estudada por países como Holanda e Finlândia e apoiada por Martin Ford, autor do livro “RIse of the Robots”, que acredita que o mundo enfrentará um período de desemprego em massa e que isso causará um colapso financeiro.
Não havendo um consenso sobre o assunto, Sérgio Rebelo, da Kellogg School of Management, juntamente com outros académicos, tentaram identificar qual seria a solução que mais beneficiaria a sociedade. Os estudos revelaram que, conforme as máquinas se forem tornando mais baratas e eficientes, os trabalhadores de rotina serão forçados a aceitar salários cada vez mais baixos de forma a conseguirem competir com os robôs, chegando a um ponto em que o custo das máquinas e o salário dos trabalhadores atingirá o mesmo nível. Pelo lado inverso, a automação aumenta os salários dos trabalhadores que executam tarefas não rotineiras. Analisando as soluções, os investigadores concluíram que um imposto sobre robôs combinado com um rendimento básico universal resultaria numa economia em que todos beneficiariam da automação. A consequência de curto prazo dessa política seria uma desaceleração da automação, mas não uma interrupção e no longo prazo todos os trabalhadores de rotina acabariam sendo substituídos por robôs, deixando de fazer sentido tributá-los, pois tornaria a produção ineficiente sem melhorar a distribuição dos rendimentos.
Do meu ponto de vista, a revolução tecnológica poderá vir a ser algo muito positivo caso evolua de forma a que toda a humanidade beneficie de enormes ganhos de produtividade, aplicando medidas como as apresentadas no parágrafo anterior ou outras provenientes de ideias que possam vir a surgir e que tenham como prioridade providenciar a todos os cidadãos uma qualidade de vida aceitável. Contudo, o meu lado mais cético/pessimista não acredita que este cenário se vá verificar, mas sim que um número reduzido de pessoas irá tirar proveito desta revolução tecnológica, originando uma progressiva concentração dos rendimentos.

Jorge Miguel Carneiro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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