A 23 de junho de 2016,
colocou-se ao povo britânico a seguinte questão: “Deve o Reino Unido permanecer
como membro da União Europeia ou sair da União Europeia?”. A população decidiu
e com uma percentagem de 51,8% escolheu sair da UE. Nasce nesse momento a
palavra “Brexit”, fusão de “britain”, que faz referência ao Reino Unido, e
“exit”, que significa saída.
É
do conhecimento geral que o Brexit tem consequências incontornáveis, que afetam
todos os países. No entanto, que tipo de consequências é que trará para
Portugal?
O
primeiro aspeto a analisar é a emigração portuguesa. Desde 2010 que o número de
entrada de portugueses em território britânico apresentava um crescimento,
sendo que grande parte dessas entradas correspondiam a jovens qualificados.
Ora, ao analisarmos o ano 2016, notamos que há um decréscimo, pois em 2015
entraram em território britânico cerca de 32 301 portugueses e em 2016 apenas
30 543.
Este
fenómeno regressivo justifica-se com a insegurança que o país apresenta para
qualquer cidadão estrangeiro. Este aspeto ajudou a que os números da emigração
portuguesa descessem em 2016 relativamente a 2015, sendo que em 2015 o valor
total da emigração era de 101 201 indivíduos e em 2016 era de 97 151 indivíduos,
baixando a barreira dos 100 000 emigrantes que Portugal vinha apresentando
desde 2011, segundo dados da Pordata.
Além
de mais, toda esta mudança deixou o turismo instável. É de lembrar que o
turismo tem reforçado cada vez mais o seu peso no Produto Interno Bruto (PIB).
Em 2016, já representava provisoriamente 4,8% do PIB, segundo dados do Pordata.
Em 2017, a expectativa é que este valor aumente. De acordo com o Jornal de
Negócios, o “fenómeno é reflexo da
promoção do país enquanto destino turístico numa altura em que se agravam os
conflitos nos países árabes e surgem ligações aéreas low cost."
Segundo dados do Banco de
Portugal referentes a junho de 2017, percebemos que os ingleses são os
principais visitantes de Portugal. Desta forma, e a meu ver, este valor pode ou
não ser afetado devido ao Brexit. Pode afetar, por um lado, porque o consumidor
mais precavido, devido à incerteza em que o seu país está inserido, vai
diminuir os seus gastos, o que pode, consequentemente, fazer com que estes
diminuam as suas viagens turísticas, tanto para Portugal como para o Resto do
Mundo. Por outro lado, o consumidor mais cético pode não achar a situação assim
tão relevante, e continuará a viajar para Portugal, independentemente do que
aconteça.
As exportações, alinhadas
com a desvalorização da libra que se verificou no Reino Unido, constituem outro
aspeto a ter em conta.
Em 2016, as exportações alcançaram
um total provisório de 50.022,3 milhões de euros, segundo dados do INE. Deste
valor, o Reino Unido é o 4º destino mais relevante. Portugal exportou para a
Grã-Bretanha bens no total de cerca de 3.531,1 milhões de euros. Com a saída do
Reino Unido da UE, todos estes bens que Portugal exporta para o mercado
britânico vão começar a ser sujeitos a uma taxa alfandegária. E posto isto é
compreensível que as trocas comerciais entre os dois países sejam afetadas e
que Portugal saia prejudicado.
Abordemos então a
desvalorização da libra. Um estudo realizado pelo IHS Markit mostra que as exportações britânicas aumentaram de
novembro de 2016 até janeiro de 2017 cerca de 8,7% e que as importações
cresceram apenas 1,6%. Analisando do
ponto de vista de Portugal, isto vem provar que a desvalorização da libra é um
ótimo impulsionador das exportações, do turismo e da competitividade, mas torna
as importações mais caras. Realça-se ainda que esta desvalorização da libra
pode afetar o consumo britânico.
Em suma, Portugal sofreu
e/ou continuará a sofrer com a saída do Reino Unido da UE. É um processo que
parece estar a ser indolor mas que a longo prazo vai ter repercussões,
principalmente na nossa Balança Comercial. Dessa forma, e excetuando a
emigração, precisamos de trabalhar de uma forma séria e rápida sobre os outros
dois indicadores. O custo do Brexit para Portugal é inevitavelmente negativo, e
em certa medida não há maneira de o anular a 100%. Porém, há maneira de o
minimizar e é isso que temos de fazer, pensando sempre em prol do povo
português.
Mafalda Rebelo
Bibliografia:
Bloom, Nicholas; Mizen, Paul (2017), “New survey evidence on the impact
of Brexit on UK firms”, VOX CEPR’s Policy Portal
Franca, Armando (2017),
“Turismo já representa 7% do PIB”, SIC Notícias
Marques, Francisco (2016)
“"Brexit", sabe o que é? Nós explicamos-lhe o que está em jogo”,
EuroNews
Pinheiro, Ana Margarida
(2016), “Os custos do Brexit, a incerteza e, no meio disto tudo, Portugal”,
Dinheiro Vivo
Suspiro, Ana (2016), “O que pode custar
o Brexit a Portugal?”, Observador
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