terça-feira, 9 de outubro de 2018

O custo do Brexit para Portugal


A 23 de junho de 2016, colocou-se ao povo britânico a seguinte questão: “Deve o Reino Unido permanecer como membro da União Europeia ou sair da União Europeia?”. A população decidiu e com uma percentagem de 51,8% escolheu sair da UE. Nasce nesse momento a palavra “Brexit”, fusão de “britain”, que faz referência ao Reino Unido, e “exit”, que significa saída.
É do conhecimento geral que o Brexit tem consequências incontornáveis, que afetam todos os países. No entanto, que tipo de consequências é que trará para Portugal?
O primeiro aspeto a analisar é a emigração portuguesa. Desde 2010 que o número de entrada de portugueses em território britânico apresentava um crescimento, sendo que grande parte dessas entradas correspondiam a jovens qualificados. Ora, ao analisarmos o ano 2016, notamos que há um decréscimo, pois em 2015 entraram em território britânico cerca de 32 301 portugueses e em 2016 apenas 30 543.
Este fenómeno regressivo justifica-se com a insegurança que o país apresenta para qualquer cidadão estrangeiro. Este aspeto ajudou a que os números da emigração portuguesa descessem em 2016 relativamente a 2015, sendo que em 2015 o valor total da emigração era de 101 201 indivíduos e em 2016 era de 97 151 indivíduos, baixando a barreira dos 100 000 emigrantes que Portugal vinha apresentando desde 2011, segundo dados da Pordata.
  Além de mais, toda esta mudança deixou o turismo instável. É de lembrar que o turismo tem reforçado cada vez mais o seu peso no Produto Interno Bruto (PIB). Em 2016, já representava provisoriamente 4,8% do PIB, segundo dados do Pordata. Em 2017, a expectativa é que este valor aumente. De acordo com o Jornal de Negócios, o fenómeno é reflexo da promoção do país enquanto destino turístico numa altura em que se agravam os conflitos nos países árabes e surgem ligações aéreas low cost."
Segundo dados do Banco de Portugal referentes a junho de 2017, percebemos que os ingleses são os principais visitantes de Portugal. Desta forma, e a meu ver, este valor pode ou não ser afetado devido ao Brexit. Pode afetar, por um lado, porque o consumidor mais precavido, devido à incerteza em que o seu país está inserido, vai diminuir os seus gastos, o que pode, consequentemente, fazer com que estes diminuam as suas viagens turísticas, tanto para Portugal como para o Resto do Mundo. Por outro lado, o consumidor mais cético pode não achar a situação assim tão relevante, e continuará a viajar para Portugal, independentemente do que aconteça.
As exportações, alinhadas com a desvalorização da libra que se verificou no Reino Unido, constituem outro aspeto a ter em conta.
Em 2016, as exportações alcançaram um total provisório de 50.022,3 milhões de euros, segundo dados do INE. Deste valor, o Reino Unido é o 4º destino mais relevante. Portugal exportou para a Grã-Bretanha bens no total de cerca de 3.531,1 milhões de euros. Com a saída do Reino Unido da UE, todos estes bens que Portugal exporta para o mercado britânico vão começar a ser sujeitos a uma taxa alfandegária. E posto isto é compreensível que as trocas comerciais entre os dois países sejam afetadas e que Portugal saia prejudicado.
Abordemos então a desvalorização da libra. Um estudo realizado pelo IHS Markit mostra que as exportações britânicas aumentaram de novembro de 2016 até janeiro de 2017 cerca de 8,7% e que as importações cresceram apenas 1,6%. Analisando do ponto de vista de Portugal, isto vem provar que a desvalorização da libra é um ótimo impulsionador das exportações, do turismo e da competitividade, mas torna as importações mais caras. Realça-se ainda que esta desvalorização da libra pode afetar o consumo britânico.
Em suma, Portugal sofreu e/ou continuará a sofrer com a saída do Reino Unido da UE. É um processo que parece estar a ser indolor mas que a longo prazo vai ter repercussões, principalmente na nossa Balança Comercial. Dessa forma, e excetuando a emigração, precisamos de trabalhar de uma forma séria e rápida sobre os outros dois indicadores. O custo do Brexit para Portugal é inevitavelmente negativo, e em certa medida não há maneira de o anular a 100%. Porém, há maneira de o minimizar e é isso que temos de fazer, pensando sempre em prol do povo português.

Mafalda Rebelo

Bibliografia:
Bloom, Nicholas; Mizen, Paul (2017), “New survey evidence on the impact of Brexit on UK firms”, VOX CEPR’s Policy Portal
Franca, Armando (2017), “Turismo já representa 7% do PIB”, SIC Notícias
Marques, Francisco (2016) “"Brexit", sabe o que é? Nós explicamos-lhe o que está em jogo”, EuroNews
Pinheiro, Ana Margarida (2016), “Os custos do Brexit, a incerteza e, no meio disto tudo, Portugal”, Dinheiro Vivo
         Suspiro, Ana (2016), “O que pode custar o Brexit a Portugal?”, Observador
        
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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