Com as negociações do Brexit na ordem do dia a seguinte
questão surgiu: o que faria John Keynes?
Após a leitura de um artigo no The Economist, pude
constatar que para Keynes era fundamental “... conseguir o melhor acordo possível,
mesmo em circunstâncias desfavoráveis”, dando este três conselhos aos
negociadores britânicos. Desses, o primeiro sugere que os mesmos deveriam “simpatizar” com
os interesses da parte contrária pois, segundo Keynes, ninguém aceitaria
facilmente os resultados de umas negociações com simpatia e compreensão a não
ser que ambas as partes conseguissem compreender os motivos e propósitos que as
levaram às negociações, sendo que os Britânicos têm que ter em mente que o
objetivo de Bruxelas é a preservação do projeto Europeu e que qualquer leveza
nas negociações poderá ser pretexto para que outros países sigam o mesmo
exemplo dos Britânicos.
Apesar do “braço
de ferro” e da pouca flexibilidade do leave,
podemos dizer que as negociações estão no bom caminho, uma vez que dos doze
pilares, sete estão encerrados. Contudo, um dos pilares mais problemáticos é o comércio. Deixando a Inglaterra
o single market, há um ataque direto
ao comércio livre de bens e pessoas, logo a liberdade de movimento torna-se inexistente.
Uma das soluções encontradas pelos ingleses para o controlo das fronteiras
passa pela restrição da entrada de trabalhadores menos qualificados, limitando
a sua residência por dois anos, e sendo mais benevolente com trabalhadores mais
qualificados. Contudo e como Thomas Sampson professor e investigador na The London School of Economics and Political
Science, mencionou no seu paper “Four Principles for the UK’s Brexit trade
negotiations”, o Reino Unido encontra-se numa situação mais complicada do
que a União Europeia uma vez que tem mais a perder. Com um prazo de dois anos
para as negociações, é a UE que beneficia do atraso das mesmas, ganhando assim
mais espaço para pressionar os ingleses.
Em segundo lugar, os
negociadores deveriam evitar usar as contribuições passadas dos britânicos à EU,
tentando ao mesmo tempo não expor as suas fraquezas, devendo então pensar só e
apenas no futuro, mostrando o seu valor não só como um aliado político mas
também como um trading partner. Neste ponto, podemos relembrar
um dos maiores pilares da campanha a favor do leave: a contribuição que a Inglaterra dava para a UE. Segundo o leave, saiam dos cofres Britânicos 350
milhões de libras por semana que poderiam ser investidos no NHS (serviço
nacional de saúde inglês). Porém, segundo um artigo do Office of National Statistics Britânico, as contribuições em bruto
para a UE em 2016 chegavam apenas aos 18,9 mil milhões de libras, sendo que
esse valor nunca chegava a ser o final, havendo ainda um reembolso de 5,0 mil
milhões de libras. Dos 13,0 mil milhões, 4,4 foram usados de novo pelo governo
britânico em forma de fundos para o setor publico. Logo, a contribuição final
ronda os 180 mil milhões por semana, valor muito inferior ao apresentado pelo leave.
Finalmente,
o Reino Unido deve mostrar-se como um trading
partner desejável, evitando criar
barreiras comerciais que prejudicam não só os Britânicos como os restantes
países da União Europeia. Entretanto, esta não parece ser a maior preocupação
do povo inglês, já que existe considerável interesse da China para a criação de
um acordo comercial entre os 2 países, tendo ocorrido já algumas conversações.
Contudo, qualquer avanço só poderá ser concretizado após a saída da Inglaterra
da UE.
Por outro lado,
temos empresas como a Unilever, que pretendem mover a sua sede do Reino Unido
para a Holanda, apesar da insatisfação dos acionistas britânicos e da negação
de que qualquer mudança está relacionada com o Brexit. Porém, qual seria a outra razão mais lógica para uma
empresa com a dimensão da Unilever querer abandonar uma das maiores economias?
O mais lógico, do meu ponto de vista, é um receio de instabilidade económica e
política futura.
Para Keynes, o
nosso poder para prever é tão reduzido que não é inteligente da nossa parte
sacrificar o presente por uma vantagem duvidosa no futuro. Será a jogada
inglesa a mais inteligente do ponto de vista económico? Só a longo prazo
poderemos saber. Porém, podemos aligeirar as coisas e pensar como Keynes: “A longo prazo estamos todos mortos.”
Mariana Teixeira Pereira Alves
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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