terça-feira, 30 de outubro de 2018

BULL MARKET… até quando?

Todos  os  que  demonstram  um  interesse  mínimo  pela  atividade  económica  nacional  e  internacional  sabem  o  que  é  um  bull  market.  Trata-se,  nada  mais,  nada  menos,  do  que uma  expressão  utilizada  para  designar  um  mercado  financeiro  que  apresente  uma  tendência  de  valorização  das  cotações  da  generalidade  dos  ativos  nele  transacionados. Da  mesma  forma,  pode  ser  utilizada  a  expressão  Bullish  para  designar  essa  mesma  tendência.  A  utilização  da  palavra  Bull  (Touro)  deve-se  ao  facto  de  este  animal  fazer  a  sua  investida  de  baixo  para  cima.
O  índice  norte-americano  S&P  500,  há  cerca  de  dois  meses  atrás  alcançou  o  “bull  market”  mais  longo  da  história  (à  boleia  do  crescimento  económico  nos  EUA  e  dos  fortes  resultados  das  empresas).  É  chamado  "bull  market"  porque  é  o  período  mais  longo  de  ganhos  de  sempre  sem  uma  correcção  de  20%  (a  partir  de  20%  passamos  de  bull  para  bear  market).
Embora  seja  o  mais  longo  bull  market,  não  é  o  maior.  Foi  em  Março  de  2000  que  o maior  índice  mundial,  o  S&P500,  avançou  417%  ao  longo  de  3.452  dias,  muito   distante  da  atual  subida  de  330%  desde  2009.
Apesar  de  em  agosto/setembro  ter  sido  atingida  uma  marca  histórica,  segundo  dados  mais  recentes,  parece  que  a  boa  forma  dos  mercados  se  está  a  ressentir.  Na  última  sexta-feira  (26/10/18),  verificou-se  que  o  S&P500  caiu  mais  de  10%  desde  o  máximo  e  já  está  em  correção.  Ainda  assim,  este  índice  continua  com  saldo  positivo  desde  o  início  do  ano  (+1,19%).
Segundo  o  jornal  Negócios,  “as  quedas  têm  ainda  de  se acentuar  para  que  acabe  o  bull  market  que  reina  há  nove  anos”,  mas  sem  dúvida  alguma  que  os  investidores  já  começam  a  querer  ficar  com  um  pé  atrás.
Passando  agora  para  a  realidade  do  nosso  país,  a  bolsa  portuguesa  viveu  mais  uma  semana  de  quedas  (22/10  a  26/10).  Depois  de  várias  ameaças,  o  PSI  “parece  ter  quebrado  o  decisivo  suporte  na  zona  dos  5.000  pontos,  matando  a  última  esperança  dos  touros  que  se  agarravam  a  esse  suporte  como  boia  de  salvação  para  manterem  vivo  o  sonho  do  "bull  market"”.
Ulisses  Pereira,  do  Negócios,  opina  que  “os  touros  estão    com  as  duas  patas  fora  do  mercado,  agarrando-se  apenas  pelos  cornos”.
Sinceramente,  esta  afirmação  é  algo  que  me  preocupa,  isto  porque  o  comportamento  dos  mercados  está  intimamente  relacionado  com  o  estado  da  economia  e  quando  algo  não  está  bem  ou  quando  as  perspetivas  não  são  as  melhores,  os  mercados  são  os  primeiros  a  ressentir-se.
Em  Wall  Street  existe  uma  expressão  peculiar  sobre  este  tópico  e  é  a  seguinte:  “Bull  markets  don´t  die  of  old  age”,  ou  seja,  um  bull  market  não  morre  de  velhice.  Sugerindo  que,  para  que  um  bull  market  termine,  algo  tem  de  acontecer.
Quando  uma  economia  se  retrai,  os  lucros  das  empresas  seguem  a  tendência  e  com  isto  descem  também,  consequentemente,  os  preços  das  ações.
É  isto  sinónimo  de  que  estamos  a  caminhar  para  uma  recessão ?
Para  responder  a  esta  questão,  os  economistas  estão  a  analisar  as  “yield  curves”.  A  yield  curve  representa  o  spread  entre  taxas  de  juro  de  obrigações  do  tesouro  a  curto  e  a  longo-prazo,  e  o  que  se  verifica  é  que  esta  curva  está  a  abrandar.  Se  a  yield  curve   se inverter,  ou  seja,  as  taxas  de  juro  de  curto-prazo  ultrapassarem  as  taxas  de  longo-prazo,  é  um   sinal  de  preocupação  (a  história  diz-nos  que  sempre  que  a  yield  curve  se inverte  é  muito  provável  a  ocorrência  de  uma  crise  [neste  caso  nos  EUA]).
Outro  “bull  market  killer”  são  as  taxas  de  juro  faltantes  (“missplaying  interest  rates”).  A Reserva  Federal  Americana  (FED)  tem  vindo  a  aumentar  as  taxas  de  juro  desde  o  final  do  ano  de  2015  e  alguns  economistas  defendem  que  se  a  FED  for  demasiado  agressiva  com  as  taxas  de  juro,  podemos  estar  perante  o  assassínio  do  bull  market.
Não  podemos  descartar  obviamente  o  fenómeno  “cisne  negro”,  ou  seja,  eventos  que  não  conseguimos  planear,  choques  que  podem  fulminar  o  preço  das  ações  e  terminar  com  o  bull  market,  acontecimentos  como  ataques  terroristas  ou  a  falência  do  Lehman  Brothers.
Eu  não  sei  se  o  bull  market  vai  acabar  amanhã,  daqui  a  um  mês,  daqui  a  um  ou  vários  anos.  O  que  sei  é que  um  bull  market  é  sinónimo  de  saúde  económica  e  por  essa  razão  espero  que  se  prolongue  durante  muito  tempo.  Com  todos  estes  sintomas  já revelados  e  os  alertas  que  mencionei  anteriormente,  espero sinceramente  que  quer  os  nossos  decisores  políticos/económicos quer  os  decisores  das  maiores  economias  mundiais  tomem  medidas  para  que  possamos  desfrutar  deste  momento  favorável  dos  mercados  durante  mais  algum  tempo,  isto  porque,  um  mercado  em  crescimento  é sinónimo  de  economia  em  crescimento.
Tal  como  no  último  relatório  que  redigi,  onde  mencionei  medidas  para  a  contenção  da  euforia  em relação  ao  setor  imobiliário  para  que  o  bom  momento  que  estamos  a  viver  se  possa  prolongar,  concluo  este  relatório  da  mesma  forma,  apelando  ao  bom  senso  e  a  boas  decisões  (com  o  longo-prazo  em  mente)  para  que  este  bull  market  possa  ser  o  primeiro  a  morrer  de  velhice !   

MIGUEL ÂNGELO MARQUES FERNANDES

Webgrafia:   ECO.PT / JORNAL DE NEGÓCIOS / CNN / INVESTOPEDIA / THE TELEGRAPH







[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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