Défice orçamental, taxa de desemprego, PIB, Procura Interna, taxa
de cobertura das importações pelas exportações. São estes alguns dos
indicadores de conjuntura económica mais mediáticos que têm vindo a apresentar
constantes melhorias.
Perante um país
com uma taxa de desemprego em queda desde 2013, que atingiu 6,7% no 2.º
trimestre de 2018, um défice orçamental de 1,9% (1.º semestre de 2018), que
embora não conte com a injeção de 792 milhões de euros no Novo Banco, nem com o
pagamento de 121 ME aos lesados do BES pelo fundo de recuperação de créditos, aponta
para um défice de 0,7% do PIB este ano em contabilidade nacional, um PIB que
registou no 2.º trimestre de 2018 uma taxa de variação homóloga de 2,3% e que
contrariou todas as previsões de abrandamento económico feitas pela oposição, seria
natural que se continuasse a verificar uma evolução positiva quer do indicador
de confiança dos Consumidores quer do indicador de clima económico. Contudo, nos
inquéritos de conjuntura às empresas e aos consumidores, feitos pelo INE em
setembro de 2018, foi verificado um ligeiro decréscimo, depois de terem
atingido um valor máximo em maio.
Com o controlo das
Finanças Públicas “assegurado”, com um aumento do emprego verificado e com um
aumento da competividade externa conquistado, porque não vemos mais sorrisos na
cara dos portugueses? Porque não vemos mais olhos enchidos de orgulho quando
vemos a Farfetch a içar a bandeira de Portugal no edifício da maior bolsa de valores
do mundo, em Nova Iorque? Porque não vemos mais mangas arregaçadas com vontade
de trabalhar e lutar por um país que não pretende abrandar o seu crescimento
económico?
A obsessão do
governo com a redução do défice tornou, claramente, a situação das Finanças
Públicas mais saudável, todavia, será sustentável manter o consumo público
estagnado quando há tantos problemas por resolver? Serão os 50 milhões
previstos pelo Orçamento de Estado de 2019 para os aumentos salariais na Função
Pública suficientes? Será ético ver o Serviço Nacional de Saúde à beira do
colapso e não alocar mais recursos no mesmo? “Negar ao SNS a possibilidade de
evoluir corresponde a sonegar-lhe a componente orgânica que o ancora àquela que
é a sua razão de ser”.
A obsessão do governo pelo aumento da competitividade externa
tem melhorado bastante o saldo da Balança de Bens e Serviços, porém, será
sustentável que o crescimento da economia seja suportado pelo crescimento
externo? E o crescimento interno? Porque não há um maior esforço por parte do
governo em dinamizar o mercado interno? Tal dependência do mercado externo
aumenta consideravelmente a volatilidade da economia portuguesa. E se houver
outro abalo internacional como em 2008? Aguentará Portugal uma nova crise?
Estas são algumas das questões que atravessam a minha massa
encefálica a todos os minutos e que me preocupam bastante. Contudo, o mais
alarmante é saber que, como eu, há mais 370.000 jovens universitários com um mindset orientado para o progresso que,
apesar de se sentirem cada vez mais confiantes e orgulhosos de provir do “país
à beira-mar plantado”, fazem leituras atentas e não interpretações irracionais
e precipitadas dos indicadores de conjuntura económica. Por vezes, estes
indicadores não passam de meros números, como é o caso da taxa de desemprego de
6,7%. Uma pessoa desatenta vê neste número uma diminuição do desemprego. Uma
pessoa que tente obter sempre uma ótica transversal da realidade, analisa-o e
percebe que em concomitância com uma diminução do desemprego, surge um aumento
da precariedade no trabalho.
A meu ver, os jovens universitários precisam de ser tratados com
mais respeito, as suas preocupações devem ser tidas mais em conta, e a “fuga de
cérebros” deve ser encarada como algo tão grave como uma dívida pública de 200%
do PIB. Devem ser vistos como um “investimento financeiro” porque um talento
bem aproveitado pode gerar imensa riqueza. Sou um português que olha para o
futuro de uma forma confiante, mas nunca lunática, sempre com os pés bem
assentes na terra.
Jorge Alexandre Silva
Amorim Martins
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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