A
poupança é um dos indicadores que sustenta o desenvolvimento económico, por
isso a evolução da taxa de poupança das famílias tem atraído um interesse
crescente sobre as perspetivas da economia portuguesa pois Portugal tem vários
desequilíbrios económicos, como, por exemplo, a necessidade de financiamento
externo. As famílias portuguesas, tal como o Estado e as empresas, estão com
elevados níveis de endividamento, apesar da diminuição nos últimos anos.
Num
contexto de elevado endividamento, baixo crescimento económico e de incerteza,
o aumento da taxa de poupança nacional é uma condição necessária para garantir
condições de financiamento do investimento e crescimento económico sustentável.
A poupança das famílias é explicada pelo desejo de um padrão de consumo estável
ao longo da sua vida, para fazer face a quebras de rendimento inesperadas e,
por exemplo, para aquisição de bens duradouros.
Os
dados estimados do Eurostat para 2017, em Portugal, são de uma taxa de poupança
de 5,29%, sendo uma diminuição face aos 5,88% (dado provisório) de 2016. Este
valor é bastante menor do que os 9,85% da União Europeia em 2017 e ainda menor
se comparado com os 11,96% da Zona Euro. Na Zona Euro, as estatísticas mostram
que a taxa de poupança se manteve acima de 12,00% pelo menos nos últimos dez
anos, com exceção de 2017, mas, mesmo assim, muito próximo desse valor. Mesmo
durante a crise, a poupança não foi afetada de forma muito significativa.
Aliás, os dados indicam que foi nos últimos dois anos que a poupança mais desceu.
Como podemos observar no gráfico abaixo, retirado do Eurostat, nos últimos dez
anos, a taxa de poupança dos portugueses só esteve próxima dos níveis europeus
em 2009 e 2010, o que mostra que Portugal continua a não convergir com a Zona
Euro.
Alguns
fatores que podem explicar a baixa taxa de poupança atual são a facilidade na
obtenção de crédito e as baixas taxas de juro praticadas nos créditos,
nomeadamente para a compra de habitação, e as baixas taxas de juro das
aplicações a prazo, que desincentivam as famílias de economizar. Em agosto de
2017, a taxa de juro média oferecida pelos bancos a novas aplicações em
depósitos a prazo foi de 0,24%, ou seja, em termos reais, colocar dinheiro
nestas aplicações significa um retorno negativo. Outro aspeto que pode
influenciar negativamente a poupança é a expectativa das famílias que tem vindo
a melhorar, o que vai causar um aumento no consumo. Segundo o INE, tanto as
despesas de consumo como o rendimento disponível aumentaram 0,90% no segundo
trimestre de 2017, ou seja, as famílias consomem mais mas dentro das suas
possibilidades, sem recorrer ao endividamento. Em geral, desde 1995, a
capacidade líquida de financiamento das famílias portuguesas é positiva, isto
é, a poupança, apesar de baixa, tem sido superior ao investimento.
Do
meu ponto de vista, seria essencial criar medidas para aumentar a poupança, não
só das famílias mas também das empresas e do Estado. Uma medida a tomar para
aumentar a poupança das famílias poderia ser a nível fiscal, por exemplo,
tributar bens considerados “de luxo” para desincentivar o seu consumo e, por
outro lado, diminuir os impostos de bens “essenciais”. Obviamente que este não
é o método mais eficiente pois os indivíduos podem adiar a compra do bem “de
luxo” desde que a remuneração da poupança seja suficiente para compensar a
espera ou, então, podem comprar a versão mais barata do bem “de luxo”,
reduzindo o consumo de outros bens normais.
Outras
medidas para aumentar a poupança poderiam passar por benefícios fiscais atribuídos
a produtos associados à poupança, os salários dos trabalhadores incluírem uma
percentagem que seja alocada a uma conta poupança (com a autorização do trabalhador
e acordo na respetiva percentagem) ou o arredondamento do valor de um pagamento
com o cartão de débito, sendo este valor transferido para uma conta poupança.
Também seria interessante, após a conta poupança criada, o depositante aceitar
receber um pouco menos de juro em troca da entrada num sorteio que lhe permitiria
ganhar um elevado valor e, assim, o incentivo de poupar não era baseado na taxa
de juro mas sim na probabilidade de ganhar um prémio de montante elevado. De
referir que muitas das medidas referidas acima são praticadas em alguns países.
Adriana
Catarina Rebelo Serra
Bibliografia:
ALEXANDRE, Fernando,
AGUIAR-CONRARIA, Luís, BAÇÃO, Pedro e PORTELA, Miguel (2017), Poupança e Financiamento da Economia
Portuguesa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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