segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A (des)poupança das famílias portuguesas

A poupança é um dos indicadores que sustenta o desenvolvimento económico, por isso a evolução da taxa de poupança das famílias tem atraído um interesse crescente sobre as perspetivas da economia portuguesa pois Portugal tem vários desequilíbrios económicos, como, por exemplo, a necessidade de financiamento externo. As famílias portuguesas, tal como o Estado e as empresas, estão com elevados níveis de endividamento, apesar da diminuição nos últimos anos.
Num contexto de elevado endividamento, baixo crescimento económico e de incerteza, o aumento da taxa de poupança nacional é uma condição necessária para garantir condições de financiamento do investimento e crescimento económico sustentável. A poupança das famílias é explicada pelo desejo de um padrão de consumo estável ao longo da sua vida, para fazer face a quebras de rendimento inesperadas e, por exemplo, para aquisição de bens duradouros.
Os dados estimados do Eurostat para 2017, em Portugal, são de uma taxa de poupança de 5,29%, sendo uma diminuição face aos 5,88% (dado provisório) de 2016. Este valor é bastante menor do que os 9,85% da União Europeia em 2017 e ainda menor se comparado com os 11,96% da Zona Euro. Na Zona Euro, as estatísticas mostram que a taxa de poupança se manteve acima de 12,00% pelo menos nos últimos dez anos, com exceção de 2017, mas, mesmo assim, muito próximo desse valor. Mesmo durante a crise, a poupança não foi afetada de forma muito significativa. Aliás, os dados indicam que foi nos últimos dois anos que a poupança mais desceu. Como podemos observar no gráfico abaixo, retirado do Eurostat, nos últimos dez anos, a taxa de poupança dos portugueses só esteve próxima dos níveis europeus em 2009 e 2010, o que mostra que Portugal continua a não convergir com a Zona Euro.


Alguns fatores que podem explicar a baixa taxa de poupança atual são a facilidade na obtenção de crédito e as baixas taxas de juro praticadas nos créditos, nomeadamente para a compra de habitação, e as baixas taxas de juro das aplicações a prazo, que desincentivam as famílias de economizar. Em agosto de 2017, a taxa de juro média oferecida pelos bancos a novas aplicações em depósitos a prazo foi de 0,24%, ou seja, em termos reais, colocar dinheiro nestas aplicações significa um retorno negativo. Outro aspeto que pode influenciar negativamente a poupança é a expectativa das famílias que tem vindo a melhorar, o que vai causar um aumento no consumo. Segundo o INE, tanto as despesas de consumo como o rendimento disponível aumentaram 0,90% no segundo trimestre de 2017, ou seja, as famílias consomem mais mas dentro das suas possibilidades, sem recorrer ao endividamento. Em geral, desde 1995, a capacidade líquida de financiamento das famílias portuguesas é positiva, isto é, a poupança, apesar de baixa, tem sido superior ao investimento.
Do meu ponto de vista, seria essencial criar medidas para aumentar a poupança, não só das famílias mas também das empresas e do Estado. Uma medida a tomar para aumentar a poupança das famílias poderia ser a nível fiscal, por exemplo, tributar bens considerados “de luxo” para desincentivar o seu consumo e, por outro lado, diminuir os impostos de bens “essenciais”. Obviamente que este não é o método mais eficiente pois os indivíduos podem adiar a compra do bem “de luxo” desde que a remuneração da poupança seja suficiente para compensar a espera ou, então, podem comprar a versão mais barata do bem “de luxo”, reduzindo o consumo de outros bens normais.
Outras medidas para aumentar a poupança poderiam passar por benefícios fiscais atribuídos a produtos associados à poupança, os salários dos trabalhadores incluírem uma percentagem que seja alocada a uma conta poupança (com a autorização do trabalhador e acordo na respetiva percentagem) ou o arredondamento do valor de um pagamento com o cartão de débito, sendo este valor transferido para uma conta poupança. Também seria interessante, após a conta poupança criada, o depositante aceitar receber um pouco menos de juro em troca da entrada num sorteio que lhe permitiria ganhar um elevado valor e, assim, o incentivo de poupar não era baseado na taxa de juro mas sim na probabilidade de ganhar um prémio de montante elevado. De referir que muitas das medidas referidas acima são praticadas em alguns países.

Adriana Catarina Rebelo Serra

Bibliografia:
ALEXANDRE, Fernando, AGUIAR-CONRARIA, Luís, BAÇÃO, Pedro e PORTELA, Miguel (2017), Poupança e Financiamento da Economia Portuguesa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa.

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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