Uma
ideia antiga que tem vindo a ganhar espaço de debate nos últimos anos, o RBI
(rendimento básico incondicional), consiste numa prestação atribuída a cada
cidadão, independentemente da sua situação financeira, familiar ou profissional,
não discriminado crianças, trabalhadores ou reformados. Este tem como objetivo garantir
autonomia às pessoas, principalmente em situação mais vulnerável, dando o
mínimo necessário para uma vida digna, sem burocracias nem estigmas associados.
Muitos são os defensores deste tipo de
rendimento da esquerda à direita do espectro político, por ser um mecanismo justo
onde as pessoas têm o suficiente para garantir condições de vida decentes de
acordo com os padrões sociais do seu país, e liberdade para gerir o dinheiro da
forma mais conveniente face às suas necessidades. É um instrumento de combate às
desigualdades que dá primazia à liberdade individual, pois abre portas para as
pessoas se dedicarem a atividades de seu desejo ou menos bem remuneradas, mas
também elas necessárias, sem necessitarem de estar presas a um trabalho. E é uma
alternativa aos salários num futuro onde o trabalho será escasso, fruto da
automação, e onde o rendimento pode não estar associado a um emprego.
Desta
forma, o RBI pode parecer um instrumento onde todos saem a beneficiar,
preparando-nos ao mesmo tempo para o futuro. Porém, ao analisar as formas de
financiamento deste surgem diversos entraves para que seja benéfico para a
sociedade no seu todo pois financiá-lo passa, maioritariamente, por aumentos em
certos impostos, alterações de taxas nominais e escalões do IRS, IRC e IVA,
criação de novos impostos, assim como poupança em gastos atuais na Segurança
Social substituídos pelo RBI, o que significaria o fim de certas prestações
socias e subsídios ligados à saúde e educação, direcionados a cidadãos
específicos e vulneráveis, podendo levar ao desmantelamento do Estado Social.
Para além disto, teme-se que os esforços financeiros necessários para suportar
o RBI estejam acima do razoável, uma das razões pela qual em 2016 a Suíça
rejeitou em referendo a implementação do rendimento que garantiria a todos os
cidadãos adultos €2264 mensais e cerca de
€500 para as crianças, evitando um custo de €22 mil/ano, que levaria a uma
considerável queda do PIB suíço compensada por aumentos de impostos, que
deixariam os cidadãos no limiar da pobreza.
Em Portugal, apesar do RBI nunca ter sido
aplicado, os seus custos foram avaliados num estudo do investigador da
Universidade do Minho. Pedro Alexandre Teixeira concluiu que mesmo uma modesta
quantia de 200 euros mensais para todos os portugueses custaria €25,3 mil milhões por ano, mais do que o que custa
pagar a toda a função pública e quase o mesmo que todas as funções sociais do
Estado, ou €16,2 mil milhões, se considerarmos a poupança derivada da substituição
de certos subsídios pelo RBI. No entanto, este é um valor muito inferior ao
necessário para garantir uma vida digna em Portugal e quanto maior a
mensalidade mais evidente o problema de financiamento se torna. Isto faz com
que um RBI aplicado em Portugal envolva um esforço coletivo por parte dos
cidadãos através de aumentos de impostos, sem garantias de sucesso.
Numa perspetiva mais conservadora, surge o receio
que um RBI desincentive a procura de trabalho e arrase a produtividade do país,
apesar de alguns exemplos de rendimentos incondicionais, como o do Alasca, onde
todas as pessoas recebem cerca de $160 por mês, mostrarem que este pode não ser
o caso, havendo pouco impacto na propensão a trabalhar e havendo apenas um aumento
dos trabalhos em part-time. No
entanto, quem sabe se uma mensalidade mais elevada não levaria a uma ampliação
destes efeitos tal, como a um aumento geral dos preços, gerando inflação na
economia e complicando a situação dos cidadãos mais fragilizados.
Com todas estas contrapartidas, será o RBI
um bom mecanismo de integração social ou o potencial causador de mais
discrepâncias e pobreza? Será uma garantia de liberdade financeira para as
pessoas ou será o fim do Estado Social? Será a única alternativa para um futuro
onde poderá não haver trabalho para todos ou uma dissociação precoce do
rendimento em relação ao trabalho sem certeza dos impactos que a tecnologia
trará?
Não
é fácil responder a estas questões, não só pela impossibilidade de saber o
futuro, como por não haver nenhum país com um RBI ativo em todas as suas
dimensões que sirva de exemplo. O que se sabe é que um rendimento desta
natureza trará grandes mudanças a nível económico e social, por isso é aconselhável
agir com prudência, começando por mensalidades mais baixas e ir aumentado à
medida que os seus impactos são estudados, a fim de evitar choques na economia
e garantir um melhor aproveitamento do sistema para todos.
Hugo Vaquero
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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